Sentado no banco de réus da 2ª Vara do Tribunal do Júri, onde passa, na manhã desta quarta-feira (22), por júri popular, Ruy Ney de Arruda, acusado de matar o foragido da justiça Frank Johnny de Oliveira, em 2019, disse ter cometido o crime para se defender das constantes ameaças da vítima. “Tive o sentimento de me defender, porque achei que eu fosse morrer”, declarou aos jurados.
O crime ocorreu no dia 28 de junho de 2019. Por volta das 22h, Frank Johnny teria passado na casa da avó de Ruy Ney, novamente para ameaçá-lo, segundo relato dele. Quando o réu viu a vítima descendo da motocicleta e fazer gestos de que estava armado, não pensou duas vezes e atirou. “Se ele não tivesse descido, eu ia atirar mesmo assim. Não sabia a intenção dele”.
A perseguição, conforme Ruy Ney, foi motivada por uma briga em uma conveniência dias antes, que envolveu ele, um amigo dele e Frank Johnny. Durante o julgamento, a promotora de Justiça, Luciana do Amaral, exibiu um vídeo com o depoimento desse amigo de Ruy Ney, Raul, colhido em 2020.
Nas filmagens, o amigo esclarece que Ruy Ney não estava envolvido diretamente na briga. Contou, ainda, que, quando foi junto a Ruy Ney comprar cerveja em uma conveniência, Frank passou a ‘mexer’ com eles. “Disse ‘e ai seu p*u no c* do c*r*lho’ e ‘desceu’ um soco em mim. Eu tentei revidar, mas não consegui, aí ele veio e me deu um segundo soco, e nisso eu desmaiei”, explica.
Quando acordou, Frank já não estava no local, apenas Ruy Ney e uma moradora da região. “Ruy esperou eu me acalmar e mostrou as ameaças de Frank. Eu nem conhecia o Frank, juro por Deus”, declarou durante as audiências de instrução do processo.
Não eram amigos de infância
Ao contrário do que foi divulgado preliminarmente pelas mídias, Ruy Ney negou ser amigo de infância de Frank. “A gente morava no mesmo bairro. Quando eu era criança, ele ficou uns cinco anos preso”, explica.
Dias antes do crime, o réu explica que passou a receber ameaças de Frank. “Ele passava lá em casa, me ameaçando, dizendo que ia me matar. Foi duas vezes na casa da minha avó, em uma delas, até tentou invadir a casa de um vizinho, porque achou que eu estivesse escondido lá”, afirma.
Uma das ameaças foi registrada em vídeo pelo próprio Frank. Nas filmagens, Frank supostamente aparece usando drogas e bebendo. Ainda, diz: “Eu vou matar você, seu safado”.
Entregou-se
Alguns dias após o crime, Ruy Ney se entregou na Delegacia de polícia. O fato foi mencionado pela promotora de Justiça. “Ruy cometeu esse crime quando tinha acabado de fazer 18 anos. Ele não tinha histórico policial, apresentou-se na delegacia e até levou a arma”, explica.
O réu foi preso, mas responde no regime semi aberto por outro processo, e não pelo homicídio. Nesta manhã, declarou arrependimento e vontade de ressocialização na sociedade. “Eu trabalho, tenho duas filhas. Fiz para me defender”, afirma.
Relembre
Frank Johnny de Oliveira Rios, 25 anos, foi assassinado a tiros na rua Arapoti, em frente ao Parque Ayrton Senna, bairro Aero Rancho, em Campo Grande. O suspeito seria um desafeto da vítima, que foi identificado pelos familiares como ‘Nego’.
Conforme as informações do boletim de ocorrência, Frank foi atingido por quatro tiros quando chegava em casa. Ele foi encontrado ensanguentado, sentado no meio-fio dentro do parque por populares e familiares, que acionaram a Polícia Militar.
Ainda consciente, Frank relatou que foi alvejado por ‘Nego’, com quem já teve rixas anteriores. A vítima foi atingida na região do tórax e da face, encaminhada ao posto de saúde do bairro Aero Rancho e devido à gravidade dos ferimentos, foi levada para Santa Casa, onde não resistiu e morreu.
Dessa forma, a PM realizou diligências e não localizou o suspeito. Posteriormente, em checagem no sistema policial, foi constatado que Frank era foragido da Justiça e possuía passagens por roubo, tentativa de homicídio e porte ilegal de arma.