A reportagem sobre pecuária mais lida no site do Canal Rural na última semana tem como protagonista a raça crioula lageana. Trata-se de um dos bovinos mais antigos do país, que tem muita importância na pecuária por conta de sua rusticidade e poder de adaptação. Outra de suas característica é que esse é o boi mais “‘chifrudo” do Brasil, com chifres que medem quase 2 metros de ponta a ponta.
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia identificou touros da raça como doadores de sêmen para conservar a variabilidade genética em bancos de germoplasma. O estudo revelou que apenas 21 animais não aparentados contribuem geneticamente para o rebanho da crioula lageana, um número abaixo do recomendado pela FAO, mas positivo para uma raça com cerca de 1.500 indivíduos no Brasil.
O conceito de tamanho efetivo de população é fundamental para garantir a sobrevivência das raças. A FAO recomenda um tamanho efetivo de 50 animais para evitar riscos de extinção. A raça crioula lageana, conhecida por seus chifres longos e resistência ao frio, tem uma população efetiva pequena, refletindo os desafios enfrentados por raças localmente adaptadas.
O estudo da Embrapa analisou 450 animais de oito fazendas, em parceria com a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Crioula Lageana (ABCCL). A pesquisa é considerada um avanço significativo para o Programa de Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais da Embrapa, que agora poderá aumentar a coleta de material genético de 10 para 21 animais, com previsão de conclusão em até cinco anos.
Além da conservação genética, o projeto busca melhorar a produtividade da raça sem perder suas características adaptativas, como tolerância térmica e resistência a parasitas. A Embrapa também está utilizando o crioulo lageano em cruzamentos com nelore na região do Matopiba, visando à produção de carne premium de forma sustentável.
Os resultados foram publicados em um artigo científico que destaca a importância de uma postura ativa na escolha dos animais para preservação no Banco Genético, otimizando a variabilidade da raça.
A pesquisa alerta para o risco de perda de variabilidade genética devido a cruzamentos endogâmicos e com raças comerciais. A Embrapa está orientando os criadores e atualizando o Banco Genético para garantir a preservação da raça.
De onde vem a raça crioula lageana
A raça crioula lageana é originária, provavelmente, dos antigos bovinos hamíticos, caracterizados por chifres longos, introduzidos no sul da Espanha, provenientes da África do Norte. Trazida ao Brasil no período da colonização por portugueses e espanhóis, adaptou-se aos campos nativos de Santa Catarina e do Paraná, num processo de seleção natural que já dura séculos.
De acordo com a Embrapa, essa adaptação resultou em uma enorme rusticidade, traduzida em resistência às baixas temperaturas registradas naquela região, que está entre as mais frias do país. São animais de grande porte, produtores de carne e também apresentam boa aptidão leiteira, o que faz com que as mães tenham uma excelente habilidade materna. Apesar de os exemplares ostentarem grandes chifres, também há animais mochos na raça.
Apesar de todos esses atributos, a raça estaria extinta se não fosse pelo trabalho de conservação iniciado pela família Camargo e continuado pela Embrapa e ABCCL.
Nos anos 1980, a Embrapa incluiu a raça em seu Programa de Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais, e, em 2008, a crioula lageana foi oficialmente reconhecida como raça pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, afastando o risco de extinção.
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