Após escapar de uma tentativa de feminicídio, Sônia Barcela, moradora de Nova Alvorada do Sul, relata que só conseguiu ter sua denúncia devidamente reconhecida quando buscou ajuda na Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande. No primeiro atendimento, na cidade onde morava, o boletim de ocorrência foi registrado apenas como ameaça.
“Levei o áudio gravado no momento em que ele me ameaçou com uma faca, mas nem deixaram o investigador ouvir tudo. Duas servidoras da prefeitura interrompiam o tempo todo. No fim, só fizeram como ameaça”, conta Sônia.
Segundo ela, só depois de chegar a Campo Grande é que o caso foi tratado com a gravidade necessária. “A delegada ouviu todo o áudio, me mostrou o histórico dele com outras vítimas e orientou refazer o boletim. Aí sim foi registrado como tentativa de feminicídio”, afirma.
Sônia ainda relata que o agressor, servidor público municipal, já havia cometido violências contra outras mulheres. Apesar disso, permanece em liberdade, usando tornozeleira eletrônica. “Eu vivo com botão do pânico. Cada vez que ouço uma notícia de mulher morta, penso que poderia ser eu”, desabafa.
Ela agora luta por justiça não só por si, mas por outras mulheres que passaram pelo mesmo agressor. “O sigilo não protege. O que protege é responsabilizar quem comete esses crimes”.
O caso
A tentativa de feminicídio aconteceu quando Sônia tentava sair de casa, encerrando anos de violência psicológica e física. O agressor tentou forçá-la a entrar em um carro sob ameaças. “Ele disse que um corpo em decomposição no canavial seria só mais um indigente. Eu não queria ser mais uma. Corri, consegui fugir e só estou viva porque gravei tudo”, lembra.
Mesmo vivendo em outra cidade, ela segue sendo monitorada judicialmente por risco, já que o autor segue solto. Ainda assim, Sônia decidiu quebrar o silêncio.
“Hoje eu espero a justiça, por mim, por elas, e por tantas mulheres que vivem situações similares”, diz.
