Vereadores de São Gabriel do Oeste enviaram ofício ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), na última segunda-feira (6), solicitando informações sobre a Operação Tromper devido aos contratos firmados entre o Município com empresas investigadas em suposto esquema de corrupção na Prefeitura de Sidrolândia, cidade que fica a 220 quilômetros de São Gabriel do Oeste.
O documento é assinado pelo vereador Vagner Trindade (PSD) e por mais oito colegas da Casa de Leis. Entre os solicitantes, parlamentares que votaram contra investigar a possível ligação da prefeita Vanda Camilo (PP) ao caso, já que envolve seu genro.
O pedido foi encaminhado para a coordenadora do Gaeco, Dra. Ana Lara Camargo de Castro. No texto, é dito que matérias veiculadas na imprensa estadual mencionam São Gabriel do Oeste em anotações dos investigados.
A reportagem mencionada pelo parlamentar no ofício foi veiculada pelo Midiamax e trata-se sobre o ex-presidente do PSDB, Sérgio de Paula, ter sido citado em anotações apreendidas durante a terceira fase da Operação Tromper.
Essa fase prendeu o vereador de Campo Grande Claudinho Serra (PSDB) e outros sete, que ficaram detidos por 23 dias em abril passado. O parlamentar da Capital é genro da prefeita de Sidrolândia, Vanda Camilo (PP), e acusado de ser o mentor do possível esquema de desvio de dinheiro público na época em que foi secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica no município do interior do Estado.
Na mesma página de anotações apreendidas em que consta o nome Sérgio de Paula, aparece a sigla SGO, usada comumente para se referir a São Gabriel do Oeste. Contudo, não fica claro se trata-se do Município ou não.
Contratos que somam mais de R$ 9 milhões
Outro réu da Operação Tromper é o empresário Edmilson Rosa, dono da AR Pavimentação e Sinalização Ltda (CNPJ 28.660.716/0001-34), que acumula contratos milionários também com o Governo do Estado.
Segundo o Portal da Transparência de São Gabriel do Oeste, foram firmados quatro contratos, desde 2019, com a AR Pavimentação, que somam R$ 9.704.400,66.
Além da AR Pavimentação, o vereador também cita a GC Obras de Pavimentação Asfáltica, outra empresa que foi alvo da Operação Tromper. De acordo com o parlamentar, a empresa também já realizou obras públicas em São Gabriel do Oeste, contudo não foram localizados pela reportagem no Portal da Transparência.
Assim, o ofício solicita cópia de todo o material apreendido na Operação Tromper para análise das informações e tomar medidas cabíveis, se for o caso.
“Requer a cópia integral de todo o material apreendido na Operação Tromper, da ação penal distribuída, para que este vereador, no uso de suas atribuições legais, possa analisar e caso verifique alguma irregularidade tomar as medidas cabíveis”, diz parte do documento.
Ó Midiamax solicitou uma nota sobre os contratos para a Prefeitura de São Gabriel do Oeste, mas até o momento não recebeu retorno. O espaço continua aberto para manifestações.
Claudinho Serra e Sérgio de Paula: nomes e valores
O nome do secretário Sérgio de Paula, que já esteve à frente da Casa Civil, aparece em um dos cadernos apreendidos na empreiteira AR Pavimentação e Sinalização Ltda (CNPJ 28.660.716/0001-34), do empresário Edmilson Rosa, réu na ação.
Com efeito, a empresa AR Pavimentaçãocitada nas investigações, teria participado de licitações fraudadas pelo grupo criminoso investigado. O comando da organização é do vereador Claudinho Serra (PSDB), segundo a denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).
O nome ‘Claudinho’ também está na página de um dos cadernos, mas não fica claro se trata-se do vereador. Na frente do nome aparece o valor ‘500.000,00′.
Já o nome de Sérgio aparece em uma página que trata de documentos para obras em Aquidauana e Sidrolândia, além de valores. O Midiamax tentou contato com o secretário para saber que tipo de vínculos ele teria com os investigados e porque acha que seu nome está no material apreendido.
Vereador do PSDB, Claudinho Serra ficou preso por 23 dias
Após passar 23 dias preso e conseguir habeas corpus, o vereador de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB), colocou tornozeleira eletrônica e está obrigado a ficar recluso em sua casa, além de outras medidas cautelares.
O vereador estava preso desde 3 de abril, em decorrência das investigações da terceira fase da Operação Tromper. Ele é acusado de ser o mentor de suposto esquema de corrupção que desviava recursos da prefeitura de Sidrolândia.
A partir de agora, a estimativa é de que ele fique pelo menos seis meses sob monitoramento da Justiça, ou seja, utilizando uma tornozeleira eletrônica. Com isso, o parlamentar poderá até mesmo comparecer às sessões da Câmara Municipal utilizando o dispositivo.
Conforme decisão, o vereador tucano deve ficar em casa todas as noites, inclusive aos feriados e fins de semana (das 20h às 6h).
Também, o desembargador determinou que Claudinho deve comparecer mensalmente em juízo para comprovar o atual endereço, além de ficar proibido de frequentar bares, restaurantes ou locais com aglomeração de pessoas, assim como não ingerir bebida alcoólica.
O vereador não deverá se aproximar de outras testemunhas, nem se ausentar da comarca de Campo Grande sem autorização judicial prévia.
Vanda escapou de investigação na Câmara
Após manifestações de moradores de Sidrolândia contra a prefeita Vanda Camilo, vereadores sob pressão chegaram a abrir CPI para apurar irregularidades. No entanto, as investigações foram enterradas uma semana após sua abertura.
O vereador Carlos Henrique Olindo (PSDB) requereu o arquivamento do requerimento, que foi aprovado pela maioria da Casa.
O parlamentar, que é filho de advogado que atua na defesa de ré da Operação Tromper, relembrou o requerimento apresentado em 16 de abril por Enelvo Felini Júnior (PSDB). Na semana seguinte, foi votada a abertura da comissão, com 12 votos favoráveis.
Somente o vereador Gabriel Auto Car (PSD), citado na investigação, votou contra. Olindo afirma que o Legislativo não tem mecanismos suficientes para investigar o caro e que o inquérito não chega a citar diretamente a prefeita Vanda Camilo.
Por isso, caberia ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) tal investigação e não à Câmara. Assim, o vereador pediu o arquivamento do requerimento de Enelvo.
Ele ainda alegou que como não foi formada a comissão, foi descumprido o rito. No pedido, o parlamentar diz que, caso fatos novos apontem a participação da prefeita nos crimes, a abertura da comissão pode ser votada novamente.
Operação Tromper
Nas duas primeiras fases da Operação Tromper, os agentes investigaram corrupção na prefeitura de Sidrolândia, cidade distante 70 quilômetros de Campo Grande. Durante as investigações, foi descoberto, segundo o Gecoc, conluio entre empresas que participaram de licitações e firmaram contratos com a Prefeitura de Sidrolândia, que somados chegam a valores milionários.
Ainda segundo as apurações, também foi investigada a existência de uma organização criminosa voltada a fraudes em licitações e desvio de dinheiro público, bem como o pagamento de propina a agentes públicos, inclusive em troca do compartilhamento de informações privilegiadas da administração pública.