O volume de vendas do varejo continuou em alta no Brasil ao registrar crescimento de 1% em fevereiro, na comparação com janeiro, indicam dados divulgados nesta quinta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o resultado, o setor renovou o recorde de uma série histórica iniciada em 2000. A máxima anterior havia sido alcançada em outubro de 2020, segundo o IBGE.
O avanço de 1% veio bem acima das projeções de analistas do mercado financeiro. A expectativa era de queda de 1%, de acordo com pesquisa da agência Reuters.
O recorde ocorreu mesmo com a perda de fôlego ante janeiro, quando o volume de vendas subiu 2,8%. O setor havia registrado pelo menos dois meses consecutivos de crescimento pela última vez em 2022, conforme os critérios do IBGE.
À época, houve uma sequência de três avanços em agosto (0,5%), setembro (0,7%) e outubro (0,6%). No ano passado, o setor até chegou a registrar duas taxas positivas em sequência em março (1,1%) e abril (0,1%), mas a segunda é considerada próxima da estabilidade.
Analistas apontam que o comércio varejista tende a se beneficiar em 2024 de fatores como mercado de trabalho aquecido, trégua da inflação e redução da taxa básica de juros (Selic), que ainda está em patamar de dois dígitos (10,75% ao ano).
Segundo o IBGE, 6 das 8 atividades investigadas na pesquisa avançaram em fevereiro. Os destaques foram artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (9,9%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (4,8%). A dupla exerceu as principais influências no resultado total.
Por outro lado, houve taxas negativas em 2 dos 8 grupos de atividades: combustíveis e lubrificantes (-2,7%) e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%).
“Observa-se uma mudança de foco de consumo nos últimos meses que passa de um cenário de orçamento mais restrito, concentrado em produtos básicos, para um momento com mais espaço para que haja consumo de outros tipos de produtos”, afirmou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
“Tal cenário tem relação com o aumento do crédito, em virtude da diminuição da taxa básica de juros, assim como crescimento da massa de rendimento real e da população ocupada”, acrescentou.
O economista Rafael Perez, da Suno Research, também destaca essa mudança no padrão de consumo das famílias. Em 2023, os brasileiros se concentraram na compra de produtos básicos devido à queda dos preços dos alimentos, segundo Perez.
Já em 2024 os dados refletem fatores como aumento da renda das famílias, melhora do crédito e queda da inadimplência, avalia o economista.
“O segmento de varejo continuará sendo impulsionado pelo cenário doméstico mais favorável para o consumo, tendo em vista o mercado de trabalho aquecido e o ciclo de cortes da Selic”, diz.
“Esse contexto de atividade econômica mais aquecida neste início do ano corrobora nosso cenário de um avanço mais forte do PIB no primeiro trimestre”, acrescenta.
Na comparação com fevereiro de 2023, o comércio varejista subiu 8,2%, o nono avanço seguido, disse o IBGE. O acumulado de 2024 é de alta de 6,1%, enquanto o acumulado dos últimos 12 meses registrou crescimento de 2,3%.
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, o volume de vendas aumentou 1,2% em fevereiro, na comparação com janeiro. O setor ampliado ainda está 0,8% abaixo do recorde da série, verificado em agosto de 2012.
“Olhando à frente, para 2024, nossa perspectiva é que um mercado de trabalho aquecido, a regra de valorização do salário mínimo e a inflação comportada devam contrabalançar um juro real ainda elevado. Projetamos uma alta de 1,4% para o varejo ampliado neste ano”, afirmou o economista Igor Cadilhac, do PicPay.
Segundo a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, os dados divulgados até aqui sugerem uma atividade econômica mais forte do que as expectativas.
Ela diz que há um viés de alta para a projeção de crescimento do PIB em 2024 por ora, o banco prevê elevação de 2,4%.
“Na nossa visão, o cenário de crescimento acima do que consideramos ser o potencial da economia brasileira dificulta a continuidade da desaceleração da inflação. Por esse motivo, há chance de a autoridade monetária (Banco Central) não chegar a uma taxa terminal de juros de 9,25%, que é a nossa atual projeção para a Selic de 2024”, pondera Moreno.