Embora tenha autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) desde janeiro de 2022 para construir dois ramais ferroviários em Mato Grosso do Sul, a Suzano mantém engavetados os projetos e não tem mais certeza se vai mesmo investir os mais de R$ 3 bilhões que seriam necessários para ligar as fábricas de Ribas do Rio Pardo e de Três Lagoas à ferronorte.
Para conectar a unidade de Ribas à ferrovia que passa em Inocência seria necessário construir 231 quilômetros de ferrovia nova, por onde seriam escoadas as 2,55 milhões de toneladas de celulose que devem ser produzidas por ano na nova fábrica, que está entrando em operação agora em junho.
Conforme projeto aprovado pela ANTT em janeiro de 2022, para tirar o projeto do papel seriam necessários R$ 1,6 bilhão. Esse valor, porém, já está defasado, pois a estimativa da chilena Arauco, que em julho começa a construir uma fábrica de celulose em Inocência, é de que serão necessários em torno de R$ 800 milhões para construir um ramal de apenas 47 quilômetros na mesma região.
De Três Lagoas até Aparecida do Taboado, por onde passa a mesma ferrovia, seriam necessários outros 160 quilômetros, com previsão previsão inicial de investimentos da ordem de R$ 1,44 bilhão.
Em janeiro de 2022 a ANTT já havia autorizado a construção de 24 quilômetros na área urbana de Três Lagoas. Em janeiro do ano passado saiu a autorização para outros 136 quilômetros.
Em Três Lagoas a Suzano produz 3,25 milhões de toneladas de celulose por ano. E, assim como acontecerá em Ribas do Rio Parto, toda esta produção chegará ao porto de Santos pela Ferronorte, que corta a região nordeste de Mato Grosso do Sul.
Caso tire os projetos do papel, a Suzano poderá explorar os ramais durante até dois séculos. Ambos vão ligar a velha malha oeste, que vai de Três Lagoas a Corumbá, à ferronorte. Porém, a bitola será larga, de 1,43 metro. Dessa forma, trens de uma não conseguem trafegar na outra. Isso não impediria, porém, que houvesse baldeação das mercadorias.
INDEFINIÇÃO
Ao ser questionada sobre os prazos para execução dos projetos, já que a fábrica de Ribas do Rio Pardo está pronta, a assessoria da Suzano ficou em cima do muro.
“A Suzano trabalha constantemente na busca por melhores soluções para o escoamento da produção de suas unidades, que integrem inovação e boas práticas ambientais. Atualmente, a empresa já atua com as soluções rodoferroviárias para escoar sua produção de Mato Grosso do Sul, que se mostram mais econômicas e de menor impacto ambiental”, respondeu a empresa.
“O modal ferroviário também garante maior segurança nas operações de escoamento da produção da companhia. Desta forma, após a assinatura dos contratos junto à ANTT, a empresa aprofundará os estudos técnicos para definir sobre a implantação dos novos ramais ferroviários no estado”, limitou-se a informar a Suzano.
Ou seja, ao dizer que vai aprofundar os estudos técnicos para definir sobre a implantação dos novos ramais, a Suzano deixa claro que, apesar das autorizações da ANTT, está em dúvida se fará ou não os investimentos bilionários.
SOBREPOSIÇÃO
Caso saia do papel, o ramal de Ribas de Rio Pardo passará praticamente na porta da fábrica da chilena Arauco, que promete produzir 5 milhões de toneladas por ano, o que é o dobro da unidade da Suzano.
O destino da celulose da Arauco também será a Ferronorte e o porto de Santos. Ou seja, as duas empresas poderiam utilizar o mesmo ramal ferroviário para escoar sua produção.
Em Três Lagoas ocorre algo parecido. A Eldorado Celulose também solicitou autorização para construir um ramal até Aparecida e a ANTT já deixou claro que não vai autorizar a construção de duas ferrovias.
Mas, o Governo do Estado já criou legislação própria e analisa pedido para permitir que a Arauco construa seu próprio ramal ao mesmo tempo em que instala a fábrica em Inocência, prevista para ser concluída em 2028.
Sendo assim, possivelmente os ramais só sairão do papel depois que houver uma espécie de acordo entre as três empresas (Suzano, Eldorado e Arauco) sobre a construção e exploração dos ramais.
No município de Inocência, a Suzano está terminando e instalação de um terminal intermodal para embarcar sua produção na Ferronorte. Por enquanto, sem o ramal ferroviário, a celulose terá de ser transportada por cerca de 140 carretas diariamente ao longo dos cerca de 240 quilômetros da fábrica até a ferrovia.
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