A queda do telhado do Santuário Nossa Senhora da Conceição, na zona norte de Recife, provocou a morte de duas pessoas e deixou mais de 20 feridos na tarde desta sexta-feira, 30. Quem estava no local e sobreviveu ao desabamento da estrutura convive com os sentimentos de alívio por estar vivo, tristeza pela morte de conhecidos e indignação pelas circunstâncias da tragédia.
Um inquérito da Polícia Civil já foi instaurado para apurar as causas do acidente e a prefeitura, que anunciou luto de três dias por conta do episódio, afirma que todos os sobreviventes foram atendidos e encaminhados a hospitais da região.
O lavador de carros Fábio da Silva Barros, de 39 anos, ficou com escoriações em decorrência da queda do teto do santuário. Com machucados pelo rosto, além da dor na coluna, ele contou ao Estadão como foi o episódio. Ele diz que foi à igreja com alguns familiares para “pegar a feira” no lugar da esposa, que estava ocupada no momento. Sentou-se junto com a sua mãe e seu primo na entrada do santuário e, pouco tempo depois, ouviu o que ele chamou de “estralo”.
“Assim que eu entrei na igreja, eu sentei, meu primo disse assim: ‘A igreja está caindo’. Ai teve o estralo. Quando eu levantei a cabeça, estava arriando todo o telhado”, descreve Fábio.
Antes de conseguir escapar, ele foi atingido por parte do telhado, que o deixou ferido. Sua mãe, porém, ficou presa sob os escombros e ele precisou retornar para ajudá-la.
“Eu ainda consegui sair, mas caiu uma barra de ferro do meu lado, ai cortou assim (apontando para a região do nariz) e minha mãe ficou lá embaixo. Ai eu voltei para buscar minha mãe”, diz o sobrevivente, que ainda apresentava escoriações no rosto e indicava que sentia dores pelo corpo. “Ela ficou presa, embaixo (dos escombros), e eu fiquei levantando ferro. Por isso estou com essa dor na coluna.”
Fábio recebeu atendimento médico do Samu, e teve alta em seguida Sua mãe precisou ser hospitalizada porque fraturou o braço. O primo do lavador e uma tia, que também estava na igreja no momento do acidente, também foram liberados pelas equipes de resgate.
A administração municipal informou que 24 pessoas foram atendidas por três Unidades de Pronto-Atendimento (UPA), sendo 12 em três unidades das UPAs administradas pela Fundação Manoel da Silva Almeida/Hospital Maria Lucinda; cinco na UPA Torrões; três na UPA Nova Descoberta; e quatro na UPA Caxangá. Quatro desse total de vítimas foram encaminhadas para hospitais da região.
Passado o susto, Fábio diz que se sente triste e com mágoa pelo o que aconteceu. Contou que conhecia outras pessoas que também se feriram e até uma das vítima fatais. “Somos todos aqui da mesma comunidade. Todo mundo conhece um ao outro. O rapaz mesmo que morreu eu conhecia”, disse.
Indignado também, Fábio lembra que o santuário tinha até mais pessoas no dia anterior e que a tragédia poderia ser ainda pior em termos de fatalidade.
“Uma estrutura que deveria estar sempre sendo olhada, manutenção, como uma coisa dessa pode acontecer com uma igreja? Ontem (quinta-feira) estava mais cheia ainda, tinha mais de 300 pessoas. Imagina se fosse ontem, como seria essa situação?”
Painéis solares recém-instalados serão investigados
Há menos de uma semana, o Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Conceic¸a~o inaugurou a instalação de placas solares, como parte de uma campanha da igreja para tornar o local mais sustentável em relação ao consumo de energia. Não há confirmação de que a presença dos painéis tenha contribuído com a causa do acidente, mas a instalação das placas fará parte da apuração, afirmou nesta tarde o prefeito João Campos (PSB).
“Agora é o momento que a equipe técnica vai poder fazer essa avaliação (da causa do acidente), tanto por parte do Instituto de Criminalística quanto da Defesa Civil, que tem uma área específica para isso. Os técnicos estão na área para poder fazer a avaliação, para poder identificar o que de fato ocorreu, se tem alguma ligação ou não com a instalação recente de placas solares, se tem alguma outra medida estrutural que foi feita”, disse o prefeito no local do desabamento.
A empresa Sun Brasil, que realiza o serviço de instalação de sistemas fotovoltaicos, declarou em nota pelas redes sociais que a “instituição já está atuando fortemente para esclarecer as circunstâncias e razões do acidente”, e afirmou que “a igreja tinha laudo estrutural autorizativo”.
A empresa disse ainda que “nesta data (sexta-feira, 30) a meteorologia” indicava “força excessiva dos ventos”, e algo que seria, segundo a Sun Brasil, “fora da realidade”. A reportagem buscou contato com a Sun Brasil por telefone, aplicativo de mensagem e e-mail, mas não teve retorno até a publicação deste texto.
A reportagem não conseguiu consultar os responsáveis pelo santuário sobre o tema nesta noite.