Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) descobriram que formigas saúvas-limão (Atta sexdens) possuem características de memória imunológica, algo inédito entre insetos sociais. O estudo foi publicado na revista científica Anais da Royal Society B: Ciências Biológicas e demonstra como as colônias são capazes de intensificar respostas higiênicas e de defesa ao serem expostas repetidamente aos mesmos patógenos.
“A formiga é capaz de reconhecer os patógenos e intensificar respostas quando confrontada novamente com uma ameaça conhecida. Esse comportamento pode ser traduzido como um tipo de memória coletiva, algo nunca observado antes em insetos sociais”, afirma André Rodrigues, orientador da pesquisa e docente do Instituto de Biociências da Unesp.
O experimento
A pesquisa envolveu 80 colônias de formigas, expostas a diferentes fungos patogênicos, como o Fusarium oxysporum e o Beauveria bassiana. Alguns fungos atacam diretamente as formigas, enquanto outros prejudicam os fungos cultivados por elas como alimento. As colônias passaram por infecções controladas em diferentes intervalos — 7, 30 e 60 dias — permitindo aos pesquisadores monitorar o comportamento de defesa.
Os resultados mostraram que as formigas conseguem se lembrar de fungos específicos, ajustando suas respostas de acordo com a ameaça. As respostas foram mais rápidas, intensas e específicas após contatos repetidos, características associadas à memória imunológica em organismos complexos.
Impactos do estudo
Os achados revelam um avanço significativo no entendimento da imunidade coletiva em insetos sociais, abrindo possibilidades para o uso de bioinsumos no controle de pragas agrícolas. Fungos como o Metarhizium anisopliaeque afetam as saúvas-limão, já são usados como agentes de controle biológico em lavouras e plantações de eucalipto.
Além disso, o estudo reforça como as colônias de formigas desenvolvem estratégias eficientes para sobreviver a patógenos, oferecendo insights que podem beneficiar áreas como ecologia, agricultura e até medicina.