A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, realizada no rio Sena, na última sexta-feira (26) atraiu milhões de espectadores em todo o mundo. O evento representou a vida noturna da capital francesa e a reputação da cidade como um lugar de tolerância, prazer e subversividade.
Mas, um momento específico gerou diversas controvérsias e repercutiu no mundo todo. Durante a apresentação, a famosa cena bíblica da Última Ceia, em que Jesus Cristo e seus doze apóstolos compartilham uma última refeição antes da crucificação, foi recriada de forma diferente.
Em vez dos apóstolos, a cena contou com drag queens, uma modelo transgênero e um cantor em poucos trajes representado como Dionísio, o deus grego do vinho. Pessoas mais conservadoras, cristãos e a própria Igreja Católica na França criticaram a performance.
A Conferência dos Bispos Franceses emitiu um comunicado expressando desaprovação. “Infelizmente, esta cerimônia apresentou cenas de escárnio e zombaria do Cristianismo, que deploramos profundamente”, afirmou a instituição. Não apenas líderes religiosos, mas também políticos de extrema-direita expressaram seu descontentamento nas redes sociais.
Cenário político
“Orgulho” e um “tapa nos obscurantistas” para a esquerda, “vergonha” e um “ataque à cultura francesa” para alguns setores da direita e da extrema direita. A deputada ao Parlamento Europeu Marion Maréchal, sobrinha de Marine Le Pen, foi às redes sociais pedir desculpas aos cristãos.
“A todos os cristãos do mundo que estão assistindo à cerimônia de #Paris2024 e se sentiram insultados por essa paródia drag queen da Última Ceia, saibam que não é a França que está falando, mas uma minoria de esquerda pronta para qualquer provocação”, escreveu Maréchal num post em inglês e francês na rede social X. A deputada acrescentou ao texto a hashtag #notinmyname (não em meu nome).
Sua tia e líder do RN, Marine Le Pen, declarou há alguns meses que a possível presença de Aya Nakamura no evento era uma tentativa do presidente Emmanuel Macron de “humilhar o povo francês”, e não comentou sobre a cerimônia.
Um dos pontos polêmicos foi a apresentação de Aya Nakamura, cantora francesa de origem malinense criticada pela extrema direita nos últimos meses, que se apresentou ao lado da solene Guarda Republicana.
Confirmo comentários anteriores, não me importo com a cor da pele dela, Aya Nakamura canta mal, até em playback, mas tínhamos que agradar o Macron, então… foto.twitter.com/EdSZBeVNi7
— 🇫🇷 fred o gaulois 🇫🇷 Uniondesdroites 🐱 (@FredGaulois) 26 de julho de 2024
Reações
“Que orgulho quando a França fala com o mundo!”, reagiu neste sábado (27) na rede social X o coordenador do partido França Insubmissa (LFI, esquerda radical) Manuel Bompard, enquanto o líder do Partido Socialista, Oliver Faure, comemorou a celebração dos “valores de liberdade, igualdade e fraternidade a que se somaram a sororidade, paridade e inclusão”.
“É a melhor resposta à ascensão do fascismo e da extrema direita (…) Que tapa na cara dos obscurantistas”, comentou a ambientalista Sandrine Rousseau.
A senadora do Republicanos (LR, direita) Valérie Boyer denunciou “uma visão da nossa história (…) que procura ridicularizar os cristãos”, em aparente alusão à cena de Philippe Katerine com as ‘drag queens’.
Seu colega de partido Xavier Bertrand, presidente da região de Hauts-de-France (norte), considerou, no entanto, que a cerimônia foi “magnífica”.