O governo do Estado enviou por alguns meses um auxílio de R$ 12 milhões ao HCAA que ajudou a instituição a sair da crise financeira que passou ano passado
Pouco mais de um ano após o Hospital de Câncer Alfredo Abrão (HCAA) passar por uma crise financeira que colocou em risco uma série de serviços da instituição, o administrador da unidade, Amilton Fernandes Alvarenga, disse que a situação dos atendimentos aos pacientes voltou ao normal e aumentou. O socorro veio de um auxílio de R$ 12 milhões mensais do governo do Estado.
A iniciativa, segundo Alvarenga, foi importante para o restabelecimento das atividades do hospital, que nos primeiros meses do ano passado eram focadas apenas em atendimentos de urgência e emergência no pronto atendimento do HCAA, cirurgias de urgência e emergência, atendimentos em unidades de terapia intensiva (UTIs) e tratamentos em andamento nos setores de quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia.
Na época, o hospital também teve que administrar uma greve dos médicos, por conta do não cumprimento integral da regularização dos pagamentos, dos vínculos e dos contratos dos integrantes do corpo clínico. Os profissionais também pediam pela regularização dos serviços de patologia e exames de imagem.
O HCAA destacou, em fevereiro do ano passado, em um período crítico da crise, que atuava com um deficit financeiro e com a necessidade de incremento de custeio de R$ 770 mil mensais, cujo estudo de revisão foi apresentado para as autoridades públicas da saúde, como prefeitura e governo do Estado.
Esse incremento ainda é uma necessidade para o HCAA, que teve o auxílio do governo do Estado de março a outubro do ano passado, conseguindo, assim, atender a demanda reprimida pela crise financeira e novos casos.
Dados da produção do HCAA destacam um aumento nas produções mensais no ano passado, que saíram de 16.126 atendimentos em abril, último mês da crise, para 19.117 em maio, quando a instituição iniciava a sua recuperação.
O Hospital de Câncer finalizou 2023 com 206.759 atendimentos. Só de janeiro a junho deste ano, já atingiu 57% desse montante, com 117.671 serviços prestados. O administrador do HCAA acredita que, até o fim do ano, os atendimentos superem em 20% o total do ano passado.
“No primeiro trimestre, a gente teve que tomar essa medida (de diminuição nos atendimentos) por falta de recurso, e que depois foi regularizado, e a gente pôde compensar o atendimento do primeiro trimestre. Então, nós acabamos atendendo, crescendo no ano passado, mesmo com a paralisação, porque o que ficou reprimido nesses meses, nos subsequentes foram incorporados”, explicou Alvarenga.
No entanto, o administrador ressalta que a questão financeira do Hospital de Câncer e de outras instituições filantrópicas é crônica, já que a base para o financiamento dessas unidades é a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), que prevê os procedimentos pagos pelo SUS, mas está desatualizada há mais de uma década.
Além disso, o HCAA ainda está em tratativas com a prefeitura e o governo do Estado, para tentar viabilizar os R$ 770 mil por mês, que foi apontado por estudo como um incremento necessário.
“A gente administra essa dificuldade de acordo com cada momento. Atualmente a gente está tocando, com dificuldade, as mesmas que a gente teve. Estamos em processo de negociação com a prefeitura e com o Estado para ver o que eles complementam dessa participação com o governo federal”, disse o administrador.
O Hospital de Câncer é uma instituição filantrópica, e realiza 70% dos atendimentos oncológicos públicos de Mato Grosso do Sul. O HCAA faz atualmente cerca de 95 radioterapias por dia, incluindo em crianças.
CRISE
Na época da crise, o Correio do Estado conversou com pacientes do hospital, que relataram dificuldades com exames atrasados, falta de medicamentos, agendamento de consultas, entre outros procedimentos.
Laudiceia Melgarejo, diagnosticada com câncer de mama, relatou na época que pagaria um laboratório particular para fazer um exame, pois não estava conseguindo agendar no hospital.
Já Eliza Montes, também paciente do hospital na época da crise, destacou que os problemas financeiros enfrentados pelo HCAA não eram isolados, porém, durante aqueles meses iniciais do ano passado, as dificuldades eram maiores.
TRANSPARÊNCIA
Na época da crise, o Correio do Estado conversou com conselheiros do hospital que solicitaram documentação, como balanços e contratos sobre a situação financeira da instituição, mas não obtiveram resposta.
Os conselheiros enviaram o pedido em dezembro de 2020. No ano seguinte, entraram com requerimento das informações na 49ª Promotoria de Justiça de Campo Grande, no Ministério Público Federal, no Tribunal de Contas de MS e no Tribunal de Contas da União, porém, sem resposta.
Alguns ex-conselheiros relatam que a crise financeira vivida no ano passado pode ter sido agravada pela falta de transparência da gestão.