“Na cadeia o pessoal fala lá que eu estou preso num negócio que tem um menino vivo, entendeu?”. A declaração de Iago Gustavo Ribeiro Bronzoni foi realizada momentos antes do depoimento dele, aos jurados do Tribunal do Júri, encerrar na manhã desta quinta-feira (20). O réu e o ex-cunhado, Everson da Silva Gauna, de 24 anos, respondem pela morte de Maykel Martins Pacheco, em dezembro de 2019.
A denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) aponta que a vítima foi mantida em cárcere privado, por ela supostamente ser da facção rival, Comando Vermelho. Além dos ex-cunhados, Tales Valensuela Gonçalves e Márcio Douglas Pereira Rodrigues também estariam envolvidos na morte da vítima. Eles já foram julgados e condenados a 42 anos de prisão.
O primeiro a ser ouvido nesta manhã foi o delegado titular da DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa), Carlos Delano. Em depoimento, ele explicou que a cantoneira – a casa onde Mykael foi mantido antes de ser levado para julgamento no Tribunal do Crime – pertencia a Iago, o ‘Taurus’. Já testemunhas contaram terem visto Everson ‘Neguinho’ no local.
Ainda, explicou que “na casa do Iago, foi achado uma sacola com panos e vestígios que pareciam sangue. Mas foi negativo para genética de Maykel (…) As digitais dele nem foram pesquisadas. “O que temos é um vídeo que comprova que ele estava lá”.
Já os dois réus negam qualquer envolvimento com o crime, especialmente ligação com a facção PCC (Primeiro Comando da Capital). Conforme Everson, no dia da possível execução de Maykel, ele foi até a casa do Iago, que era do pai dele e o cunhado estava tomando conta, para levar a irmã dele – esposa do Taurus – ao salão de beleza.
“Eu levei, passei a tarde toda lá. Nisso voltamos e ele estava limpando a casa. Tomamos uma cerveja e fomos dormir. Nisso a Polícia invadiu a casa. Não estava sabendo de nada”, afirmou. Questionado se conhecia a vítima, disse que “nem ouviu falar”. Também nega fazer parte do PCC. “Nunca fiz parte de nada disso”.
O MPMS aponta que Everton participou do crime porque esteve presente no local onde Maykel era mantido em cárcere privado enquanto era organizado o julgamento dele no Tribunal do Crime.
Quando interrogado, Iago chegou a confirmar a versão de Everson, mas antes, apresentou uma contradição. No primeiro relato, explicou que estava três dias amanhecido pelo uso de drogas. Quando chegou em casa, encontrou o portão arrombado e alguns itens faltando. Nisso, ligou para o cunhado dormir no local, pois estava com medo.
Foi somente quanto questionado do salão de beleza, que Iago disse. “Aconteceu tudo isso. Depois eu liguei para ele vir levar a minha irmã e ele dormiu lá”.
Tanto Everson quanto Iago relataram que tomaram conhecimento da morte de Maykel na cadeia, “porque ficamos tudo no mesmo corró (sic)”, explicou Neguinho. Taurus acrescentou que os outros detentos afirmaram que ele estava preso pela morte de alguém que nem morreu. O corpo da vítima nunca foi encontrado.
Ausente
O caso chegou até a polícia em 5 de dezembro de 2019, após o rapaz desaparecer da Nhanhá, bairro onde estava morando havia aproximadamente um mês e a mãe dele denunciar que recebeu mensagens de uma namorada de Maykel, informando que o PCC tinha matado ele.
Conforme as investigações policiais, Maykel foi morto pelo PCC mesmo sendo simpatizante à facção criminosa, já que integrantes descobriram que ele já tinha sido faccionado ao Comando Vermelho, quando morava em Rondonópolis (MT). O homicídio começou a ser orquestrado cerca de um mês antes, quando a ex-cunhada e o namorado dela convidaram o rapaz para morar com eles na Nhanhá.
Maykel saiu da casa da mãe e foi morar naquele bairro, onde comercializava drogas. A partir dali, os membros da facção começaram a estudar a vida do rapaz e, quando já tinham informações suficientes, cometeram o crime. A ex-cunhada de Maykel teria topado participar indiretamente do crime porque estaria com dívidas de droga com o PCC.
No dia 4 de dezembro, Maykel foi convidado por Tales para ir até um local buscar drogas, quando o deixou na ‘cantoneira’, como são chamados os cativeiros. Lá, onde moravam Igor e Everson, Maykel teria sido mantido até o dia da execução, fato estranho à polícia, uma vez que é comum a troca de cantoneiras diariamente para despistar.
Os quatro homens presos inicialmente não falaram sobre os outros envolvidos no crime, já que seriam membros do alto escalão do PCC, que estariam à frente do julgamento. Maykel foi levado da cantoneira ao local ainda incerto, no Palio vermelho, que foi apreendido posteriormente e periciado. Foi identificado que outros dois homens teriam participado do homicídio e levado a vítima até o local da execução.
Um dos suspeitos, que seria um dos principais fornecedores de droga de um bairro de Campo Grande, foi identificado e teve prisão preventiva decretada após pedido do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). Já o outro, seria marido de uma das acusadas da execução de Joice Viana Amorim, decapitada em maio de 2018 pelo PCC, também em tribunal do crime.
Não é descartada a participação da jovem, que atualmente está em liberdade, mas até o momento nada foi comprovado. Após a morte de Maykel, a ex-cunhada dele foi avisada e teve que falar para a namorada do rapaz enviar mensagens para a mãe dele informando sobre o homicídio. Vídeos do jovem em cativeiro chegaram até a polícia, mas até o momento o corpo não teria sido localizado.