Réu pelo acidente que matou Michelli Alves Custódio e feriu outras três pessoas, Charles de Goes Junior, de 32 anos, alegou não ter tido nenhuma intenção de tirar a vida de ninguém na madrugada do dia 13 de outubro de 2022, dia em que ocorreu o fato. O motorista de aplicativo passa por julgamento popular nesta sexta-feira (21).
Aos jurados, Charles de Goes Junior contou que, na tarde do dia anterior ao acidente, no dia 12 de outubro, trabalhou em uma ação social com crianças da Cidade de Deus. Depois, reuniu-se com a equipe da organização e decidiram acompanhar a uma partida de futebol durante a noite, já que eram membros de torcida organizada.
Durante a confraternização, contou ter ingerido cerveja, e, após o término do jogo, resolveu ir para a casa, mas antes, levaria uma amiga para a residência dela. Foi nesse percurso, já na Avenida Fábio Zahran, antes mesmo de deixar a amiga em casa, que o acidente ocorreu.
“Eu seguia pela via e acredito que tenha dormido no volante, porque eu não lembro do impacto. Quando eu consegui firmar eu carro que eu retomei a consciência”, explica. O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, o questionou se a sonolência foi ocasionada pela bebida, ao qual Charles respondeu que “também pelo cansaço, porque passei a semana preparando a ação social”.
Três pessoas atingidas
O amigo de Michelli, Victor Nunes Uchoa Cavalcanti, ouvido por videoconferência na manhã desta sexta-feira, narrou que o motorista perdeu o controle do veículo e atingiu ele, Michelli e mais uma amiga deles. As duas mulheres foram prensadas contra o muro. Já Victor caiu no chão, mas conseguiu se levantar e subir no capô para tentar impedir que Charles fugisse.
O réu, por sua vez, conta não ter visto quando bateu no muro, nem que esmagou Samanta e Micheli, tampouco que viu Victor no para-brisa. “No primeiro impacto, o para-brisa quebrou e eu não consegui enxergar para frente nada. Quando eu consigo firmar o veículo, que é a hora que eu consigo parar ele, aí eu encosto ele”, afirma.
No dia do acidente, testemunhas contaram que Charles tentou fugir do local, contudo, parou porque o motor do carro dele falhou. Victor, inclusive, reafirmou a tentativa de fuga durante depoimento nesta manhã. Já Charles nega. “Ninguém precisou me deter. Uma testemunha me falou que o socorro estava vindo e eu desci do carro para ajudar a Joyce (amiga que estava com ele), que estava sangrando”.
O Corpo de Bombeiros foi acionado. Charles e a amiga foram levados para o hospital para atendimento e não há informações sobre o estado de saúde. Foi feito teste do bafômetro no motorista que deu como resultado 0,83 mg/l. Ele foi preso em flagrante e encaminhado para a delegacia.
“Queria apenas fazer ação social”
O advogado de acusação, Carlos Alberto Correa Dantas, disse ao Jornal Midiamax que Charles assumiu o risco de matar Michelli quando dirigiu embriagado e em alta velocidade. “Ao dirigir embriagado, inicialmente apontado na denúncia como ele estava em alta velocidade, então ele assume o risco do resultado final, que seria a morte, o atropelamento, a lesão, qualquer outro meio que poderia acontecer”, disse o advogado.
O réu foi questionado sobre assumir o risco de matar quando optou por dirigir embriagado, ao qual respondeu “quando entrei no carro para dirigir, eu acreditei que chegaria em casa. Jamais imaginei que eu causaria um acidente ou que eu iria tirar a vida de uma pessoa. Naquele dia, saí de casa com apenas um intuito: fazer a ação social e fazer crianças felizes”.
O réu finalizou o depoimento pedindo desculpas, tanto à família de Michelli – que não acompanhou o julgamento, por ainda se recuperar dos danos emocionais e familiares causados pelo acidente – quanto para a família dele.
Atropelamento e morte de Michelli
O atropelamento ocorreu por volta de 1h40 do dia 13 de outubro de 2022, na Avenida Fábio Zahran, em Campo Grande. Michelli estava na calçada quando o carro a atropelou. Uma testemunha, de 32 anos, que presenciou o acidente, acabou arrastado pelo carro até a outra esquina da vida, por tentar conter o motorista.
Michelli havia acabado de chegar de viagem a Corumbá, e tinha guardado o carro na garagem, saindo de sua casa para atender uma mulher. As duas conversavam quando o carro surgiu desgovernado, invadindo a calçada e atropelando a vítima.
O corpo de Michelli foi arrastado por alguns metros e rastros de sangue foram encontrados pela perícia no local, além dos chinelos. Um morador, Celeido Duceu, de 62 anos, contou à época ao Jornal Midiamax que os filhos de Michelli correram até sua casa dizendo que a mãe havia sofrido um acidente.