Vitor Hugo de Oliveira Afonso, vulgo “Primo”, negou durante interrogatório em julgamento na manhã desta quarta-feira (26) que tenha participado do assassinato do garagista Carlos Reis Medeiros de Jesus, mais conhecido como ‘Alma’, em novembro de 2021 no Jardim Centenário, em Campo Grande.
O corpo da vítima não foi localizado até hoje.
Ele afirmou que ambos eram parceiros de negócios e que conheceu a vítima por conta desse meio. Vitor era intermediador de compra e venda de veículos e Alma tinha uma garagem.
Vitor afirmou ter conhecido Thiago Gabriel Martins da Silva, vulgo “especialista do PCC” através de Alma, mas negou conhecer Kelisson Kauan da Silva, vulgo “Jamaica” (que está foragido). Thiago está preso na Bolívia aguardando processo de extradição.
Aos jurados, Vitor disse que Alma era agiota e emprestava valores a várias pessoas, porém cerca de 5 pessoas as negociações eram valores altos, de R$300 mil a R$1,3 milhão.
Ele contou que tinha dinheiro para repassar para Alma asism como ele também tinha comissões para lhe pagar das vendas dos carros, mas negou ter agido de má fé ou se envolver com os outros dois acusados no assassinato.
“Nem lá eu estava. Última vez que falei com o Alma havia sido na sexta-feira ele estava a caminho do sítio fora da cidade. Eu nem sabia que ele tinha voltado. Não tinha motivo algum. Não tinha nenhum problema com ele. Sempre nos tratamos bem. Nunca fiz negócio errado para ele. Ele sempre me ajudava. A gente trabalhava junto”, disse, afirmando ainda desconhecer o autor do crime.
Ele explicou que ficou sabendo do desaparecimento de Carlos por uma irmã da vítima que ligou para que ele fosse no ferro velho onde estava a esposa e filhos de Alma.
“Vi a esposa conversando com o Thiago. Depois fomos à casa dele e ao armazém onde guardava os carros. Estávamos juntos, eu, a esposa dele e os filhos. A partir do desaparecimento eu já fiquei junto à família”.
Ele ainda relatou que chegou a emprestar um quadriciclo avaliado em R$55 mil para Alma ir ao sítio. “Quem teve perda com o desaparecimento dele foi que que tinha emprestado o quadriciclo para ir no sítio e até hoje ninguém me devolveu”.
Agiotagem
Questionado pela advogada de defesa, Silmara Cher, Vitor lembrou que Alma antigamente era sócio de um homem chamado Alemão, e que havia emprestado R$1,3 milhão para Alemão, que tentava pagar a dívida com terrenos e chácaras.
Certo tempo Alma rompeu a sociedade e passou a receber ameaças de Alemão por conta dos valores. Uma vez, segundo Vitor, Alemão chegou a ameaçar Alma com um facão, quando a vítima havia ido até ele para cobrar.
Ainda segundo Vitor, Alma tinha muitos bens devido a penhoras de imóveis como pagamento das dívidas.
“A casa que a esposa dele mora é de pagamento de dívida, o galpão na rua de trás, ele tinha cerca de 16 casas no bairro Tiradentes, tudo repassado por não pagamento”, explicou.
O réu ainda explicou que os empréstimos de valores altos eram o que incomodava a vítima. “As cobranças das dívidas de R$1 mil, R$1,5 mil eram mais tranquilas. De R$ 800 mil, R$1 milhão ele se preocupava mais. Ele tinha receio do Alemão”, explicou.
Trabalhador de garagem assassinado
Conforme a denúncia, Vitor vulgo “Primo” e Thiago vulgo “Especialista”, armados com uma arma de fogo e uma faca mataram Alma, que desapareceu na manhã do dia 30 de novembro em um estabelecimento na Avenida Gunter Hans, em Campo Grande.
Alma realizava “negócios” com os acusados emprestando dinheiro a eles e mantinha boa relação com ambos. A vítima foi atraída para o local, de propriedade de Thiago, achando que receberia o pagamento de um empréstimo que o acusado havia contraído.
Após a saída dos funcionários, restante somente os três réus e Alma, Thiago simulando que saldaria a dívida tirou um montante de dinheiro do bolso e começou a contar na frente da vítima, que estava sentado em uma cadeira observando a contagem. Neste momento, Vitor se aproximou da vítima pelas costas e o golpeou no pescoço. Por sua vez, Thiago, que também estava armado, efetuou disparos contra Alma.
Foi investigado ainda que Alma era “sócio” do pai de Thiago em negócios envolvendo agiotagem. O garagista teria emprestado grande montante de dinheiro a diversas pessoas. Porém, o pai de Thiago faleceu em 2020 e por esse motivo, Thiago queria receber o dinheiro emprestado pelo pai e Alma, por “direito”.
Como um dos credores não havia feito o pagamento, Thiago começou a arquitetar a morte dele, juntamente com alma e Vitor, mas em certo momento Alma acabou desistindo de matá-lo. Thiago se revoltou pois não receberia o dinheiro, aliado à dívida que tinha com Alma, incluído com bens penhorados, arquitetou a morte do garagista, juntamente de Vitor, e também devia para a vítima.
Após o assassinato, o trio colocou o corpo do garagista no porta malas de um Chevrolet Corsa Sedan até local desconhecido e fizeram a limpeza do local. Thiago se apossou de uma caminhonete da vítima, uma Ford F-250 que havia sido deixada por Alma no comércio de Thiago para realização de serviços de funilaria.