No ano passado, terminal de Porto Murtinho chegou teve movimentação recorde de 1,6 milhão
de toneladas movimentadas; neste ano volume de grãos embarcado é de 100 mil toneladas
Em Mato Grosso do Sul o rio Paraguai registra o menor nível para o mês de abril em sete anos. Marca histórica ocorre nos portos de Ladário e Porto Murtinho, onde a régua da Marinha do Brasil registra 1,34 metro e 2,22 m respectivamente, na segunda-feira (22). No mesmo período, em 2018, nível era de 4,84 m em Ladário e 5,95 m em Porto Murtinho.
Diante da situação, empresas de transportes fluviais que operam nos municípios do Estado já observam redução no volume de commodities como soja e minério de ferro.
O Gerente de Operações Portuárias do Terminal Portuário Grupo FV, Genivaldo Santos pontua que os embarques de soja em Porto Murtinho segue sendo prejudicado pelas condições hídricas. “O nível do rio muito baixo, encareceu o frete e assustou os exportadores”.
Santos ainda relata que a baixa demanda é outro fator que tem contribuído para o cenário pessimista. “O próprio mercado da soja que deixou de ser atrativo, para as exportações para a Argentina”, afirma.
De acordo com o representante do Grupo FV, no ano passado foi registrado um recorde de movimentação no porto do município. “Foram mais de 1,6 milhão de toneladas movimentadas e até este momento 2024 tem pouco mais de 100 mil toneladas e sem perspectiva de melhoras”, destaca.
Como reflexo sobre a economia do Estado, o mestre em economia Lucas Mikael aponta para a provável diminuição dos investimentos na região; “É possíveis que ocorram perdas de empregos e renda para a população local”.
O doutor em economia Michel Constantino, ressalta que o escoamento da produção agrícola pelos portos no modal aquaviário é uma alternativa para o escoamento mais barato. “O fluxo e o percentual em relação ao total hoje está em torno de 2% do que exportamos, assim, o impacto é pequeno, pois rapidamente o fluxo é escoado pelas rodovias”.
Mikael reforça que com a diminuição do volume de água, os barcos podem enfrentar restrições de capacidade e até mesmo de navegabilidade. “Isso pode aumentar os custos de transporte e reduzir a competitividade dos produtos da região”, analisa.
LADÁRIO
O terminal portuário de Ladário que enfrenta dificuldades devido ao nível da água, foi o último a retomar os embarques no mês de abril, tendo em vista que no fim de fevereiro a régua da Marinha no município registrava 0,90 m, nível considerado baixo para uma embarcação seguir.
Apesar da elevação no porto de Ladário, que registra 1,34 m, na segunda-feira (22), o nível segue como o menor registrado em sete anos. “O ano já está comprometido”, afirmou Luiz Dresch, gerente da Granel Química, na época.
Ainda segundo informações obtidas pelo Correio do Estado, por meio de fontes que atuam no segmento hidroviário no município, o cenário impactou fortemente a logística de exportação de minério.
“As expedições registradas no primeiro trimestre ficaram abaixo de 10% comparada ao mesmo período do ano anterior”, afirma um funcionário da empresa que realiza a navegação na região e preferiu não se identificar.
Conforme já publicado pelo Correio do Estado, em fevereiro de 2024, 172 mil toneladas de minérios já haviam sido despachadas dos portos de Ladário e de Corumbá. Somente a Granel Química embarcou 88 mil toneladas em janeiro de 2023.
Este ano, por conta do aumento da demanda, a Granel poderia ter embarcado 500 mil toneladas se o nível do rio tivesse subido como em anos anteriores.
“As expectativas para 2024 não são boas, pois os volumes não realizados no primeiro quadrimestre de 2024 não serão realizados ao longo do ano. Em abril as empresas voltaram a embarcar, mas o volume é ínfimo e não representa sinais de recuperação, pois os carregamentos não podem ser na plenitude de carga das barcaças, em função do calado ao longo do rio Paraguai”, complementa.
Durante todo o ano passado, foram embarcadas 5,81 milhões de toneladas de minério a partir de Ladário e Corumbá. Somente em fevereiro, foram 643 mil toneladas, o que equivale a mais de 9 mil carretas. Neste ano, contudo, o atraso na liberação para o transporte já ocasionou prejuízos irreversíveis.
Em 2023, os embarques começaram a partir de meados de janeiro – quando o nível do rio passou de 1,00 m em Ladário – e continuaram até o começo de novembro, quando voltou a ficar abaixo do indicado.
A estimativa é de que cerca de 350 carretas com 70 toneladas de minério estejam saindo diariamente de Corumbá pela BR-262. Somadas, porém, elas levam menos de um terço daquilo que poderia ser despachado diariamente pela hidrovia.
CLIMA
Impactado diretamente pelo fenômeno El Niño, que apesar de já estar com força mínima, segue impactando o volume de chuvas n as regiões pantaneiras do Estado.
O pesquisador da Embrapa Pantanal Carlos Roberto Padovani ressalta que quatro dos seis meses chuvosos na bacia pantaneira já se passarame que a chuva ficou muito abaixo da média.
“Em dezembro, foi menos da metade na cabeceira de praticamente todos os afluentes e nas nascentes do Rio Paraguai”, explica.
Com base no panorama climático até aqui o pesquisador avalia como provável a manutenção dificuldades no transporte hidroviário.
Além da falta de chuva, enfrenta-se o intenso calor. “Isso influência fortemente na queda rápida do nível das águas, já que a evaporação tem papel fundamental sobre a bacia pantaneira”, destaca Padovani.
Nesse sentido, após uma temporada de temperaturas amenas em todo o Mato Grosso do Sul, a penúltima semana de abril volta a registrar temperaturas elevadas.
De acordo com a previsão meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), até a próxima sexta-feira (26), Corumbá deve atingir os 40 ° C de média.
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