O Conselho de Administração da Petrobrás aprovou, nesta sexta-feira, a retomada das obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), fábrica que será a maior produtora de ureia e amônia da América do Sul, localizada em Três Lagoas. A empresa provisionou R$ 3,5 bilhões e agora vai ao mercado em busca de um parceiro.
Na fase de construção, a obra deverá empregar 8 mil pessoas e, na fase de operação, mais 600, entre empregados da Petrobras e terceirizados.
O projeto, que foi retomado após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), era uma das bandeiras da campanha presidencial da atual ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), que é de Três Lagoas.
Na semana passada, o Correio do Estado adiantou, em primeira mão, o cronograma de obras da empresa: busca de parceiros no mercado até o primeiro semestre do próximo ano.
Os R$ 3,5 bilhões aprovados pelo Conselho de Administração da Petrobras significam o provisionamento do valor para que a estatal vá ao mercado em busca de contratar parceiros para a conclusão da obra.
Até agora, foram investidos R$ 3,9 bilhões no empreendimento, paralisado em 2014 e 80% concluído. Este número, porém, poderá mudar, pois o “congelamento” da obra após a paralisação deverá demandar retrabalhos na estrutura. A empresa, porém, alega que a conservação do local é excelente.
Com a decisão do conselho, a Petrobras vai ao mercado, esperando propostas firmes de empresas interessadas na conclusão e a confirmação da atratividade do investimento.
Segundo os representantes da Petrobras informaram ao Correio do Estado em entrevista coletiva, a UFN3 produzirá, majoritariamente, ureia e amônia a partir da síntese de água e gás natural.
A planta será autossuficiente em energia elétrica e demandará, quando pronta, 2,2 milhões de m³ de gás natural por dia. Como está na rota do gasoduto Bolívia-Brasil, a expectativa é de que a matéria-prima venha dessas jazidas, mas, em caso de escassez de gás no país vizinho, outras possibilidades também estão no escopo.
Segundo a petrolífera, a decisão da continuidade foi fundamentada em uma reavaliação do projeto, que, à luz das premissas do Plano Estratégico 2024-2028 (PE 2024-2028), teve sua atratividade econômica confirmada para essa fase.
Com a decisão, o projeto passa a integrar a carteira em implantação do plano estratégico vigente e a Petrobras dará início aos processos de contratação para retomada das obras.
“A autorização final ainda será submetida à aprovação pelas autoridades competentes da Petrobras, o que permitirá a assinatura dos contratos para retomada das obras”, ponderou a empresa.
Inicialmente, o plano era de que as obras fossem finalizadas até 2026, antes do fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador de Mato Grosso do Sul, mas, considerando que o período de construção deverá ser de 12 meses a 18 meses, o prazo já começa a ficar apertado. A tentativa é de pelo menos dar início à construção antes do fim dos mandatos e a previsão de início de operação é 2028.
ENCONTRO
Conforme adiantou o Correio do Estado na edição de 16 de outubro, o governador Eduardo Riedel (PSDB), a ministra Simone Tebet, o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, e a diretora-presidente da Companhia de Gás de Mato Grosso do Sul (MSGás), Cristiane Schmidt, reuniram-se com a presidente da estatal, Magda Chambriard, no Rio de Janeiro (RJ).
Conforme o Executivo estadual, no encontro, foram tratadas as principais questões envolvendo a UFN3 e discutido o andamento da situação da fábrica.
“Aqui nós discutimos as questões relacionadas à UFN3, e foi importante ver que o cronograma anunciado lá atrás está mantido, seguindo todos os ritos, que é ir para o Conselho de Administração para aprovar a licitação do início das obras”, informou Riedel.
O governador disse que as notícias recebidas na visita são importantes para “avançar no que é uma mudança estrutural para Mato Grosso do Sul e para o Centro-Oeste no que diz respeito aos fertilizantes”.
Foi a primeira conversa feita pessoalmente entre o Executivo de Mato Grosso do Sul e a nova presidência da estatal. “Estou muito feliz que a Magda, enquanto presidente da Petrobras, tem consciência da importância dessa fábrica, não só para Três Lagoas e MS, mas para todo o Brasil. O cronograma está mantido”, considerou Simone Tebet.
O governador e a ministra aproveitaram a oportunidade para convidar a presidente da estatal para realizar, até fevereiro do ano que vem, com sua diretoria, uma visita à futura unidade de produção de fertilizantes.
IMBRÓGLIO
A construção da UFN3 teve início em 2011, mas as obras foram interrompidas em 2014, por conta de envolvimentos de integrantes do consórcio em casos de corrupção. Naquele ponto, a construção estava cerca de 80% concluída.
O processo para vender a fábrica de fertilizantes começou em 2018 e incluía também a Araucária Nitrogenados (Ansa), localizada em Curitiba (PR). A venda conjunta tornou a concretização do negócio inviável.
Em 2019, a gigante russa de fertilizantes Acron chegou a um acordo para adquirir a unidade, mas a crise na Bolívia impediu a finalização do negócio.
Já em fevereiro de 2020, a Petrobras lançou uma nova oportunidade de venda. No entanto, as negociações foram retomadas somente no início de 2022, com o mesmo grupo russo.
Em 28 de abril de 2022, a Petrobras anunciou que a venda da fábrica para o grupo Acron não havia sido concluída. Ainda em 2022, a Petrobras relançou a oferta de venda da fábrica para o mercado.
Finalmente, em 24 de janeiro de 2023, a estatal declarou o encerramento do processo de comercialização da unidade, gerando expectativas sobre a retomada das obras.