Na entrevista a seguir, Aline Bak, especialista em marketing de influência digital, fala sobre as mudanças que moldaram o marketing digital nos últimos anos, destacando a necessidade de autenticidade e equilíbrio na presença on-line. Segundo Aline, a proximidade entre empresas e consumidores aumentou, trazendo um marketing mais focado no relacionamento e mais humano.
No entanto, ela alerta que, com essa maior exposição, surge o desafio de manter uma imagem profissional e, ao mesmo tempo, genuína, fator essencial para construir uma reputação sólida e engajar o público. Aline também aborda a importância de uma estratégia bem estruturada, voltada à autoridade e à consistência na mensagem transmitida.
Ela observa que muitos profissionais ainda resistem em se expor nas redes, temendo julgamentos, mas destaca que o crescimento pessoal e profissional passa pela construção de uma presença autêntica, em que os aspectos pessoais e profissionais se equilibrem. Para ela, o sucesso no digital vai além do número de seguidores: trata-se de converter seguidores em clientes e criar uma conexão verdadeira com a audiência.
O que mudou no marketing digital nos últimos anos?
O que mudou no marketing digital nos últimos anos?
Eu percebo que encurtou a distância entre a empresa e seus clientes ou entre o influenciador e seus seguidores. Essa distância menor gerou mais proximidade, mais relacionamento. E por isso é importante ter um marketing mais humanizado, de ter essa troca, justamente porque a distância foi encurtada.
Mas o marketing mais focado no relacionamento também impõe desafios, não? Até porque muita gente ainda responsabiliza o marketing pelos fracassos em uma campanha ou na venda de produtos e esquece da performance de outros setores. O que você pensa sobre isso?
O marketing certamente tem de estar mais envolvido com a gestão da empresa. E também é preciso pontuar que, com o foco no relacionamento, nos dias de hoje, todos os profissionais também viraram influenciadores digitais. Eles têm de se expor.
Normalmente, tenho clientes que, no início dos trabalhos, têm muita vergonha de aparecer. Eles chegam preocupados, dizendo que vão falar mal deles ou chamá-los de “blogueirinho” ou “blogueirinha”.
Mas como essa forma de se comunicar mudou, também é importante ter uma estratégia na abordagem com o cliente. Ele é seu seguidor, e o seguidor pode se tornar futuramente um consumidor em potencial e, depois, um comprador fiel.
Então, a questão é quantos profissionais entendem isso: que a exposição deles é necessária para levar uma imagem mais sólida. Assim, conseguem angariar mais clientes do que normalmente conseguiriam em seu trabalho rotineiro, sem o auxílio das redes sociais.
E como a pessoa faz o gerenciamento de sua exposição? Como avaliar se ela é boa ou ruim?
Eu sempre digo que, ao expor a imagem, quem define os limites é a própria pessoa. Temos que entender que o Instagram é um jogo de imagem. Estamos o tempo todo trabalhando a nossa autoridade por meio da nossa imagem.
Por exemplo, se eu chego em um perfil e vejo que a pessoa é muito amadora ou que usa apenas uma única imagem, aquilo não passa a seriedade suficiente, e o que é que eu vou pensar? “Puxa vida, ele não entende do assunto, tem algo errado.” Ou então alguém pode não contratar uma pessoa porque vê que, no perfil dela, só há fotos de festas.
Por isso, quem define os limites é a pessoa. Mas claro, é preciso ter vida pessoal, tem que ter. O principal é ter uma estratégia de marketing que gere a autoridade desejada e entender que, ao aceitar estar nas mídias sociais, você já está influenciando alguém e é uma pessoa pública. É preciso ter equilíbrio.
Falando em equilíbrio, como buscá-lo nas redes entre o espontâneo, o natural, às vezes quase amador, e o excessivamente pasteurizado?
Por isso é preciso equilíbrio. Há pessoas que exageram na exposição da vida pessoal e, por outro lado, perfis que só postam sobre trabalho, sempre a mesma coisa, também não são eficientes. Nesse caso, a pessoa vai pensar: “Estou falando com uma pessoa ou com uma empresa muito distante?” Daí não gera conexão emocional. Então, o interessante é postar coisas relacionadas ao seu público-alvo.
Se você gosta de viajar, por exemplo, vale compartilhar uma dica interessante de uma exposição, de uma peça de teatro ou um roteiro bacana, pois seu público viaja. Se você gosta de treinar, por exemplo, dicas para cuidar da mente e do corpo, como uma meditação, podem ser interessantes. Ou seja: não pode ser só sobre família nem apenas sobre trabalho.
Você foca muito no público de 40 anos ou mais. Qual sua estratégia para esse grupo?
O que percebo é que esse público 40+ é um público esquecido. Digo isso porque atuo há mais de 10 anos nessa área. A geração mais nova já é nativa digital, atuando de forma mais intuitiva. A gente trabalha com quem não sabe postar, que não tem estratégia de marketing. Alguns até têm Instagram, mas não crescem, ficam estagnados.
Existem desafios da idade, mas além disso, há o desafio de reinventar. Às vezes, reinventar um negócio da família que já está no digital. É importante lembrar que esse público é muito receptivo para aprender, são pessoas que querem se reinventar, querem fazer algo a mais dar certo.
O interessante é que se trata de pessoas que já têm uma autoridade muito forte off-line, são referências no universo off-line, mas que ainda não conseguem trazer toda essa autoridade para o digital. Gosto de trabalhar com pessoas que já têm bagagem e experiência, trazendo isso para o digital. Tenho alunos em todo o Brasil, incluindo pessoas com mais de 80 anos. Uma delas tem 84 anos, o que demonstra que não existe idade para se reinventar.
Para você, o que é uma estratégia de marketing bem-sucedida? É ter muitos seguidores?
É a pessoa monitorar a conversão que vem dela. E o que ela tem? Uma boa exposição? Então, uma boa estratégia de marketing é aquela que conta com alguns pilares importantes. O primeiro é a autenticidade.
O que mais vejo são pessoas querendo copiar fórmulas e perfis de outros, com estruturas de design ou marketing que não dá para reproduzir. Aí dizem: “Vou copiar o Instagram da fulana, porque está dando certo”. Olha, não necessariamente vai dar certo para você. Por isso, o primeiro pilar é a autenticidade, porque quando você é autêntico, todo mundo quer te copiar, e você se destaca em sua comunidade.
O segundo pilar é ter um bom conteúdo, um conteúdo que converse com sua audiência sem ruídos. Tem muita gente que coloca um monte de arte, que mais parece uma panfletagem digital, e isso não funciona nas mídias sociais. O que funciona nas redes é a pessoa humanizar seu perfil: aparecer, fazer vídeos, relacionar-se com a audiência.
E claro, o terceiro pilar é a resiliência, pois o que mais vejo estando há muitos anos na área são pessoas pensando que as coisas darão certo da noite para o dia ao entrarem no mundo digital. Mas não vão. Como tudo na vida, existe o tempo de maturação, e no digital não é diferente.
A pessoa precisa construir sua reputação on-line, o que não está relacionado com o número de seguidores. Esse é o grande ponto.
Como é? O número de seguidores não é o mais importante?
Sim, não é o mais importante. Os três pilares que citei são essenciais na construção da reputação on-line. O importante, em muitos casos, é quantos contatos a pessoa fez ao fim de um mês, quantos estão indo ao inbox dela perguntar sobre o serviço ou produto.
Se a pessoa tem muitos seguidores, mas não faz nenhuma conversão, temos um problema de imagem ou conteúdo.
Por exemplo, você pode colocar 100 pessoas dentro de uma sala, seria muita gente. Mas essas 100 pessoas serão seus clientes? Farão contato contigo? Esse é o ponto.
Qual a importância das redes sociais para o empreendedorismo feminino?
É muito bonito ver uma mulher se transformar. Eu atuo no Conselho Nacional de Mulher Empreendedora, cujo objetivo é ampliar o espaço das mulheres. Faço um serviço de mentoria, dou palestras, e é muito bonito ver uma mulher se transformar, pois muitas vezes a jornada do empreendedorismo é solitária, são mulheres que atuam ou atuavam sozinhas.
Eu, como mentora, vou lá, pego na mão dela e digo: “Você vai conseguir”. Normalmente, ela tem vários medos, objeções e inseguranças, mas, aos poucos, ela vai crescendo, saindo desse casulo e desabrochando, com uma autoestima que vai muito além das mídias. A mulher empreendedora que passa pela mentoria vira uma mulher forte, consegue sair da zona de conforto.
Até porque muitas delas têm questões quanto ao peso, um certo medo da exposição, do que os outros vão falar. E ela enfrenta essas barreiras, consegue, e então se torna um mulherão, voando longe ao sair desse casulo. Tenho alunas em todo o Brasil e dou aulas e palestras para mulheres que querem empreender.
E qual dica você tem para uma pessoa que é mais reservada e quer ter uma presença maior nas redes sociais? Qual o momento certo de postar? Como regular a exposição?
Como já disse, o limite da exposição é dado pela própria pessoa. Sempre recomendo que, antes de apertar o botão de publicar, a pessoa verifique se o conteúdo é válido, se está ou não se expondo demais. Tenho dito que vivemos em uma era em que não dá para colocar assuntos sensíveis ou polêmicos nas redes. É preciso tomar muito cuidado.
Sempre digo para as pessoas tomarem cuidado ao se exporem politicamente ou ao opinarem sobre temas polêmicos. Há também comportamentos que não cabem mais, ligados a ódio e discriminação. Todo cuidado é pouco, mas quem define o limite é a pessoa, cada um é livre para fazer o que quiser.
Mas ela deve lembrar que, ao mesmo tempo que pode usar as redes para ganhar clientes, um mau posicionamento pode destruí-la rapidamente.
Também aconselho meus clientes a não ficarem reféns das redes sociais, esperando likes ou mensagens. Existe vida fora do celular.
Perfil – Aline Bak
É especialista em marketing de influência digital, consultora e estrategista de influência digital e de negócios digitais. Atua há oito anos no mercado de marketing digital e é formada pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo, com especialização no Instituto Europeo di Design (IED), em Barcelona (Espanha).