Apesar dos avanços sociais que garantiram às mulheres o direito de decidir sobre a maternidade, a pressão social, muitas vezes velada, ainda exerce uma influência significativa nas escolhas reprodutivas. Essa pressão, enraizada em normas culturais e crenças religiosas, impacta diretamente o direito das mulheres de escolherem se desejam ou não ser mães.
Recentemente, o papa Francisco fez um apelo para que os casais católicos permaneçam ‘abertos à vida’, e destacou o papel central dos filhos dentro do casamento, o que reacendeu debates sobre as expectativas impostas à maternidade e os efeitos psicológicos dessas escolhas.
“Tenham filhos, tenham filhos… Ontem foi o dia da Gendarmaria e tive uma grande consolação: um gendarme veio com seus oito filhos. Foi lindo de ver! Por favor, estejam abertos à vida, ao que Deus pede”, acrescentou o pontífice.
Para o Papa, os cônjuges devem estar abertos ao dom da vida e à chegada dos filhos, que ele considera “o fruto mais belo do amor, a maior bênção de Deus”. Ele também enfatizou que o matrimônio, em sua visão, é um caminho para a ‘verdadeira felicidade’, exigindo ‘fidelidade’, ‘respeito’, ‘sinceridade’ e ‘simplicidade’.
“Como está o nosso amor? Ele é fiel? É generoso? Como estão nossas famílias? Estão abertas à vida, ao dom dos filhos? Que a Virgem Maria ajude os cônjuges cristãos”, declarou o Papa.
Pressão social traz impactos à saúde mental das mulheres
“Quando uma figura de autoridade, como o Papa, expressa sua opinião sobre o papel da mulher, isso pode provocar reflexões profundas nas que vivem em diferentes realidades. Para algumas, essas palavras podem reforçar uma visão que não corresponde às suas experiências ou escolhas pessoais, gerando sentimentos de inadequação ou inquietação”, observa Keyth.
“É essencial haver espaço para diálogos abertos e respeitosos, onde essas questões possam ser discutidas de maneira acolhedora. Quando a escolha de ser mãe não condiz a uma realidade imediata ou não faz parte do projeto de vida de uma mulher, ela pode sentir-se desconectada das expectativas mais tradicionais”, explica.
Entre janeiro de 2017 e setembro de 2024, Mato Grosso do Sul registrou mais de 315 mil nascimentos. No entanto, os dados do painel Mais Saúde da SES (Secretaria do Estado de Saúde) revelam que o percentual de nascidos vivos tem diminuído gradativamente a cada ano.
Neste ano, o maior percentual de gestantes é composto por mulheres de 28 anos. Outro dado que chama a atenção é que a gestante mais velha registrada em MS deu à luz aos 62 anos, enquanto a mais jovem tinha apenas dez anos. Vale lembrar que, no caso de relações sexuais com crianças ou adolescentes abaixo da idade de consentimento – até 13 anos – o abuso sexual é legalmente presumido como crime, mesmo que não haja violência e independentemente da idade do parceiro, se este for maior de 18 anos.
Carga emocional de ser mãe
Até mesmo as mulheres que optam por ser mães estão sujeitas a julgamentos e pressões sociais em torno da maternidade. Conforme a psicóloga Keyth Gimenez, uma reflexão aberta e empática sobre esses temas pode ajudar as mulheres a encontrar caminhos que promovam equilíbrio.
“A escolha de ter filhos é uma decisão significativa, que traz consigo tanto alegrias quanto desafios. Para muitas mulheres, a maternidade pode trazer uma experiência gratificante. No entanto, também pode gerar sentimentos de exaustão e sobrecarga emocional, especialmente para as mulheres que se sentem pressionadas ao ideal de ‘mães perfeitas’”.
Para aliviar essa carga, Keyth destaca a importância do suporte psicológico e social, como redes de apoio e a criação de espaços para diálogos abertos sobre as dificuldades. Além disso, uma maior flexibilidade no ambiente familiar e de trabalho auxilia uma maternidade com uma menor sobrecarga emocional.
“Um olhar acolhedor e sem julgamentos sobre as diferentes formas de viver a maternidade pode contribuir para o bem-estar psicológico das mulheres que fazem essa escolha”, finaliza.
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