Novas vítimas procuraram a polícia para denunciar violências cometidas anteriormente, e apontaram abuso de substância e dependência química causada pelo homem
O pai de santo Robson Faciroli, de 45 anos, preso em flagrante no dia 30 de outubro suspeito de praticar abuso sexual e maus tratos contra adolescentes, também era responsável por introduzir os menores de idade ao uso de drogas.
Tal fato chegou ao conhecimento da polícia após novas vítimas procurarem pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente (DEPCA) para fazer denúncias de crimes cometidos anteriormente pelo pai de santo.
“Algumas das vítimas citaram que ele viciou outros adolescentes, os deixou dependentes químicos, porque fornecia cocaína e outras drogas”, disse a delegada Nelly Macedo, responsável pelo caso, durante coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (3).
As investigações apontaram ainda que o homem aliciava as vítimas, que geralmente viviam em situação de vulnerabilidade social e apresentavam problemas de comportamento, a irem morar com ele, se utilizando da figura religiosa e garantindo oferecer acolhimento, melhoria de vida e cuidado para os adolescentes. A persuasão era tanta que as famílias acreditavam que os filhos estariam “em boas mãos”.
“No início seria uma convivência harmoniosa, ele parecia ser a melhor pessoa, mas depois ele começava a subjulgar esses adolescentes física e psicologicamente (…) O que nós levantamos até agora é que os pais não tinham responsabilidade, não tinham conhecimento do que acontecia. Até pela posição de líder religioso, eles acreditavam que era um bom homem que estaria ajudando os filhos”, comentou Macedo.
Ele ainda utilizava bebidas alcoólicas e entorpecentes como meios de “aproximar” os adolescentes, e ainda os dopava com medicamentos para “facilitar” os abusos sexuais.
Na noite do crime que trouxe o caso à tona, por exemplo, o suspeito havia conhecido uma das vítimas em um pagode, e a atraído para a residência oferecendo bebidas e cocaína. No local, permaneceram ele três adolescentes, fazendo o consumo de álcool durante grande parte da noite.
Em determinado momento, o pai de santo teria agredido um dos adolescentes – que foi socorrido desacordado pelo Samu no momento em que a polícia chegou ao local -, e dopado um segundo, de 16 anos, com Clonazepam. Depois, o arrastou até um quarto, onde cometeu os crimes sexuais.
O homem tinha personalidade “violenta”, e diversas passagens pela polícia. Ele chegou a cumprir pena por um homicídio, crime que utilizava para ameaçar as vítimas, fazendo com que elas se calassem sobre as violências sofridas.
“Ele tem várias passagens por crimes violentos, inclusive já respondeu por um homicídio, e usava disso pra coagir as vítimas e dizer que elas não seriam creditadas caso nos procurassem, que ele era um homem violento e que faria alguma represália contra as vítimas ou suas famílias”, revelou a delegada.
A descoberta do abuso de substâncias ilícitas aumenta a preocupação das autoridades policiais quanto à saúde desses adolescentes, que têm entre 13 e 17 anos. Por isso, a DEPCA busca identificar outras possíveis vítimas para que possa ser oferecido o acolhimento e suporte necessário.
“O nosso principal objetivo agora é que o maior número de pessoas sejam informadas, principalmente familiares que saibam que seus filhos chegaram a morar ou frequentar esse local, para que façam denúncias, para que a gente possa providenciar o acolhimento e a melhor maneira de conduzir a vida desses adolescentes a partir de agora, porque eles foram sujeitados a todo tipo de violência, física, sexual e moral”, disse Macedo.
Além disso, as novas denúncias serão importantes para o processo de julgamento deste autor.
“A maior parte das vítimas são meninos, a gente entende que o menino acaba ficando mais constrangido de denunciar, então para que ele não se sinta sozinho, nós vamos ampará-lo, vamos fazer uma investigação comprometida, para que a gente possa conseguir uma condenação elevada desse autor”, acrescentou a delegada titular da DEPCA, Anne Karine.
Acolhimento
A delegada Nelly Macedo explicou que a DEPCA cuida da parte criminal, mas possui uma rede de apoio para oferecer cuidados às vítimas, composta por assistência social, conselho tutelar e instituições de saúde.
Denúncia
As vítimas podem fazer denúncias através do Disco 100mas, o recomendado pelas delegadas é que elas procurem diretamente pela DEPCApara que passem pelo processo do depoimento especial e registrem o Boletim de Ocorrência.
“Quem já frequentou esse terreiro, que tem algum filho, conhecido, adolescente ou criança, menina ou menino, que procure a DEPCA para fazer a denúncia, para registrar o boletim de ocorrência, passar por depoimento especial. É muito importante que se encoragem a vir denunciar”, destacou a delegada Anne Karine.
O delegado Roberto Morgado acrescenta que todo o processo é sigiloso, e não haverá exposição das vítimas.
“As vítimas que estiverem com vergonha ou com medo de qualquer exposição, podem procurar os pais e responsáveis, porque a forma com que a gente lida com as investigações não tem exposição das vítimas”.