Em 1985, a final da Taça dos Campeões Europeus entre Juventus e Liverpool prometia ser um espetáculo entre gigantes. No entanto, a noite do dia 29 de maio entrou para a história por um motivo trágico: a violência nas arquibancadas do Estádio de Heysel, em Bruxelas, resultou na morte de 39 pessoas, em sua maioria torcedores italianos. O episódio ficou conhecido como a Tragédia de Heysel e mudou para sempre o futebol europeu.
Muito antes de a bola rolar, o clima já era tenso. Grupos de hooligans ingleses causavam tumulto pelas ruas da capital belga. Os torcedores britânicos, famosos por episódios de violência desde os anos 1970, eram temidos por onde passavam. O estádio, velho e mal conservado, não oferecia segurança adequada. Apesar de alertas, a UEFA manteve a decisão na Bélgica.
A tragédia ocorreu quando torcedores do Liverpool romperam as divisórias e invadiram o setor Z, destinado a torcedores neutros e da Juventus. Encurralados contra um muro, dezenas de italianos morreram esmagados ou pisoteados. Mesmo diante da tragédia, a partida foi disputada e vencida pela Juventus por 1 a 0, gol de pênalti de Platini.
As consequências foram duras. Os clubes ingleses foram banidos das competições europeias por tempo indeterminado — o retorno só aconteceu em 1990, e o Liverpool, especificamente, em 1991. O episódio também impulsionou uma profunda reforma no futebol inglês, marcada por repressão ao hooliganismo e reestruturação dos estádios.
Contudo, o drama se repetiu em 1989, em Hillsborough, onde 97 torcedores do Liverpool morreram em nova tragédia causada por negligência e superlotação. O “Relatório Taylor”, publicado em 1990, apontou falhas no policiamento e na estrutura dos estádios e determinou que as arenas inglesas deveriam ter apenas lugares sentados. Foi o início da modernização.
Em 1992, com a criação da Premier League, o futebol inglês passou a ser exemplo de gestão, segurança e espetáculo global. Os novos estádios atraíram famílias, mulheres e crianças, mas também elevaram os preços, afastando torcedores populares. A elitização, embora tenha melhorado o ambiente, transformou a essência do jogo.
O impacto das tragédias também chegou ao Brasil. Para a Copa de 2014, os estádios brasileiros foram reformados segundo padrões internacionais, o que também resultou em ingressos mais caros e público mais restrito. A geral do Maracanã, símbolo do torcedor popular, desapareceu em 2005.
Quarenta anos após Heysel, o futebol mudou nas arquibancadas, nos gramados e nas transmissões. Evoluiu em muitos aspectos, mas segue refletindo antigas tensões sociais. A história, infelizmente, mostrou que foram necessárias tragédias para que a segurança e a estrutura do futebol moderno fossem levadas a sério.
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