Duas vezes medalhista nas Paralimpíadas de Paris, Yeltsin Jacques foi recepcionado calorosamente nesta sexta-feira (6) em seu retorno a Mato Grosso do Sul.
Na ocasião, recebeu o carinho de alunos do Serviço Social da Indústria (Sesi), e de colaboradores da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul (Fiems).
Com orgulho, Yeltsin mostrou, beijou e vestiu as medalhas conquistadas nesta 17ª edição do evento: uma de ouro, nos 1.500 metros, e outra de bronze, nos 5.000 metros, ambas das provas da classe T11, para atletas com deficiência visual quase total.
Ao lado de seu guia, Guilherme Ademilson, Yeltsin concedeu entrevista e falou sobre a participação nos jogos que, em resumo, pode ser definida em três pilares: investimento, treino e força mental.
Investimento e treinamento
Nos 1.500 metros T11, Yeltsin quebrou o próprio recorde mundial, que era de 3m57s60 e foi para 3m55s82. Questionado sobre o resultado histórico, que teve quase 2 segundos de diferença, o bicampeão paralímpico da prova revelou o segredo:
“Treinamento, investimento, em estrutura, em recuperação, em melhora de performance, em uma equipe muito profissionalizada, e em tecnologia, que tem evoluído muito”, disse Yeltsin.
Jacques exaltou a estrutura do Stade de France, palco das provas do paratletismo, descrevendo a pista como “única” e já demonstrando expectativa de que a próxima edição, que será realizada em Los Angeles, nos Estados Unidos, seja ainda melhor.
“A tecnologia da pista usada em Paris foi única, e eu acredito que em Los Angeles vão melhorar ainda mais. Cada vez a tecnologia fica mais fantástica, o tipo de material esportivo, tênis, sapatilha, o material usado para recuperação, as novas metodologias de treinamento que têm sido usadas”, descreveu o paratleta.
O investimento em tecnologia começa nos treinos, como por exemplo com a tenda de simulação de altitude, mencionada por Yeltsin durante a entrevista, que possibilita a preparação para competir em lugares de maiores altitudes, onde a pressão atmosférica e a quantidade de oxigênio do ar são menores, o que pode resultar em diversos problemas de saúde.
“A gente fazia muitos treinamentos na Bolívia, por exemplo. A gente saía daqui, pegava ônibus, ia até a fronteira, pegava (outro) ônibus para ir até Santa Cruz, e ia para Cochabamba ou para La Paz. Hoje a gente tem tendas que simulam a altitude, ou seja, eu não preciso me expôr a essa viagem, a esse cansaço, à alimentação diferenciada, nada (…) Então isso tem transformado cada vez mais. A tecnologia está aípara beneficiar a todos nós, né? E o esporte não fica atrás disso”.
Além de exaltar estruturas e materiais, Yeltsin destacou o investimento em humanos, em profissionais qualificados, que fazem toda a diferença nos resultados.
“No Brasil, e em Mato Grosso do Sul, em especial, a gente tem um potencial humano, um material humano muito bom, gigantesco”, disse.
Yeltsin acredita que, por mais que ainda tenha muito a ser transformado, está no caminho certo para que o esporte evolua.
“A gente precisa de investimento em tecnologia, e cada vez mais a gente tem melhorado, a gente está no caminho certo, e a gente está melhorando ainda mais. Lógico que a gente sabe que a gente tem muito o que transformar, muito o que melhorar ainda, mas a tecnologia está aí, está presente, e vem cada vez mais mostrando resultados”, concluiu.
Força mental
Um dos temas bastante abordados durante a coletiva foi a questão psicológica durante as provas. Yeltsin revelou que considera ter uma força mental muito boa, e que já passou por consultas psicológicas, mas atualmente não sente necessidade de manter sessões com tanta frequência. As consultas geralmente tratam mais sobre técnicas para aperfeiçoar essa força emocional.
“Eu cresço muito em grandes competições, às vezes até surpreendo. O Guilherme brinca e fala ‘cara, quem vê o Yeltsin treinando às vezes não imagina que ele vai correr o que ele vai correr (…) quando dá o tiro de largada ele se transforma'”, brincou Yeltsin.
Guilherme, guia de Yeltsin, faz acompanhamento semanal com o psicólogo do Comitê Paralímpico Brasileito (CPB), e afirmou que as consultas foram essenciais para a conquista do ouro paralímpico.
O acompanhamento começou depois do mundial em Kobe, no Japão, competição em que eles foram descalcificados após uma queda na prova dos 1.500 metros..
“Comecei a fazer (o acompanhamento) após o mundial, que aconteceu a queda, e me ajudou demais no nervosismo durante a prova, que foi o que me atrapalhou no mundial, então o psicólogo fez um bom trabalho’, disse Guilherme. “O ‘cara’ é fenomenal”, acrescentou.
Yeltsin nas Paralimpíadas
Natural de Campo Grande, Yeltsin Jacques conquistou mais duas medalhas nas Paralimpíadas de Paris, e agora soma quatro conquistas paralímpicas, já que havia conquistado outras duas na edição de Tóquio.
Nos 1.500 metros classe T11, Yeltsin e o guia Guilherme Ademilson bateram o recorde mundial, que já pertencia a Yeltsin, finalizando a prova em 3m55s82 e garantindo o ouro.
Já nos 5.000 metros classe T11, eles ficaram com o bronze, terminando a prova em 14min52s61 – melhor marca da carreira de Yeltsin, mas que não foi suficiente para o ouro.
Em Tóquio, Yeltsin Jacques havia conquistado o ouro nos 1.500 e nos 5.000 metros da T11.