O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira que a proposta brasileira de tributar os super-ricos ganhou relevância rapidamente dentro do G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e a União Africana.
Durante um simpósio de tributação internacional do G20, realizado em Brasília, Haddad destacou a necessidade de coordenação entre países para repensar mecanismos de ação tributária. “Nós não vamos resolver nossas dificuldades e desafios com as instituições atuais. Precisamos repensar os organismos multilaterais e o financiamento dessa equação”, declarou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também defendeu a taxação dos bilionários como um instrumento crucial para financiar o combate à fome global.
Proposta brasileira ganha apoio
Haddad mencionou que a proposta brasileira está sendo bem recebida por países como a França. “É impressionante como essa proposta ganhou peso rapidamente, com manifestações de apoio até de países do G7 e da Europa. Há uma consciência crescente de que algo precisa ser feito”, afirmou o ministro.
A pedido do governo brasileiro, o economista francês Gabriel Zucman está elaborando um relatório para o G20 sobre a taxação global dos super-ricos. Segundo Zucman, um imposto de 2% sobre o patrimônio de cerca de 3.000 bilionários poderia gerar uma receita de US$ 250 bilhões.
Diálogo com os Estados Unidos
Apesar da oposição dos Estados Unidos, expressa pela secretária do Tesouro, Janet Yellen, que afirmou que Washington não apoia um imposto global sobre a riqueza dos bilionários, o coordenador do Grupo de Trabalho de Arquitetura Financeira Internacional do G20, Felipe Antunes, destacou o diálogo positivo com os americanos. “Eles participaram das discussões, fizeram perguntas críticas, mas também construtivas”, disse Antunes.
Antunes também mencionou que há debates sobre a redistribuição dessa tributação, com alguns países mais entusiasmados e outros mais céticos. Haddad enfatizou que a taxação global é uma novidade trazida pelo presidente Lula ao fórum do G20 que “veio para ficar”.
Declarações de Lula
Durante a visita do presidente do Benin, Patrice Talon, ao Brasil, Lula reiterou a importância de tributar os super-ricos. “Se os 3.000 bilionários do planeta pagassem 2% de impostos sobre suas fortunas, poderíamos gerar recursos suficientes para alimentar as 340 milhões de pessoas que enfrentam insegurança alimentar severa na África”, afirmou Lula.
O presidente brasileiro também criticou o impacto do pagamento da dívida externa sobre os países pobres, que prejudica investimentos em áreas essenciais como educação e saúde. “Não há como investir em educação, saúde ou adaptação às mudanças climáticas se grande parte do orçamento é consumida pelo serviço da dívida”, concluiu.