Contemplado no Fundo de Investimentos culturais (FIC/2022), o projeto “UBU TRANS – Transformando Caminhos e Fronteiras”, foi alvo de disseminação de notícias falsas e censura, com apresentações canceladas e proibidas em três dos nove municípios para os quais tinham apresentações marcadas.
Com mais de três décadas de história, o Grupo UBU divulgou nota de repúdio e defesa destacando os cancelamentos confirmados por Laguna Carapã (1º de maio), Amambai (2), e Paranhos(5).
Com cerca de 16 espetáculos e cinco performances em 33 anos de palco, o grupo UBU já recebeu 5 prêmios nacionais conferidos pela FUNARTE e MINC e desempenhou temporadas não só em Mato Grosso do Sul, mas também em nos Estados de MT, GO, SP e RJ.
Com aporte R$ 219.366,00, desde o dia 29 de abril – até 8 de maio – o grupo realiza sessões de teatro gratuitas pelo interior de Mato Grosso do Sul, com o foco em democratizar o acesso à cultura e ao fazer teatral através desse projeto em que encenam duas de suas peças: “Pelega e a Porca Prenha” e “Uma Moça na Cidade”.
Em nota, o Grupo aponta que algumas figuras públicas locais incitaram ameaça de manifestações populares, entre eles o ex-deputado estadual, Rafael Tavares; Padre Angel, da pastoral familiar de Coronel Sapucaia; além dos pré-candidatos a vereador por Campo Grande e Amambai, Danilo Assis Azambuja e Tânia Aparecida Ruivo da Luz.
Através das redes sociais, esses agentes alegaram que os espetáculos se tratavam de “ideologia de gênero”, apontando para o emprego da palavra “Trans” usada para batizar o projeto.
“Vão assim de mansinho e quando vemos, já está na escola. A família ensina respeito e cuidado ao próximo. Nós professores ensinamos conhecimentos e saberes. A escola não é lugar para ideologia de gênero. Inaceitável”, publicou Tânia sobre a apresentação marcada para Amambai
Rafael Tavares, que publicou mais de uma vez sobre o assunto e chegou a celebrar o cancelamento das apresentações em Amambai, disse se tratar de “Evento LGBT financiado com dinheiro público para professores no Mato Grosso do Sul”.
Instituído pela Lei 2.366/2001 e reorganizado pela Lei 2.645/2003, desde 2002 o Fundo de Investimentos Culturais estimula criação, produção e difusão de manifestações artístico-culturais dos municípios sul-mato-grossenses.
No último ano (2023), o FIC trouxe R$ 8 milhões em edital que contemplou 58 projetos que, por regra, são aprovados em duas etapas: a primeira documental e uma segunda de mérito, onde cada proposta passa pelo crivo do Conselho Estadual de Políticas Culturais.
Esclarecimentos e defesa
Em nota, o grupo apontou que os agentes ignoraram completamente a verdadeira proposta, que faz menção ao fato do projeto estar em itinerância pelo interior do Estado, “neste caso a região sul-fronteira”, citam.
“É importante ressaltar o completo desconhecimento por parte desses indivíduos sobre a obra, uma vez que nunca procuraram o grupo para conhecer a trajetória de seu trabalho ou as peças em questão. O Grupo UBU reafirma que seus trabalhos nunca tiveram como foco a ideologia de gênero, mas sim a cultura, a arte, a educação e o combate à violência em todas as suas esferas e vertentes”, aponta o texto.
Ainda, eles complementam que os profissionais da companhia sofrem, neste momento, justamente essa violência, por meio de difamação e calúnia, “desconsiderando completamente a trajetória e a idoneidade do UBU”.
Cabe apontar que, só o espetáculo “Pelega e Porca Prenha na Mata do Pequi”, é montado há mais de duas décadas (21 anos), enquanto “Uma Moça da Cidade” soma 24 anos, sendo encenado desde a virada do milênio.
“… De apresentações que nos renderam prêmios, aplausos e uma aproximação calorosa com o público, sem nunca ter passado por tamanha censura e difamação”, pontua o texto divulgado pela UBU.
Em defesa ao grupo e à execução do projeto, o Fórum Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul (FESC-MS) esclareceu também que o espetáculos cênico infantil, “Pelega e Porca Prenha”, traz conteúdo e estática próprios para crianças.
“E é, portanto, um produto artístico coerente com sua classificação etária livre. Este fórum, ressalta ainda, o valor cultural deste espetáculo que traz no enredo diversas personagens ligadas ao nosso folclore e cultura popular do Estado de MS”, comentam em nota.
Também a própria Fundação de Cultura (FCMS) em nota, detalhou que o projeto se propõe a uma leitura metafórica, dialética a partir das subjetividades de seus proponentes e seu público”, além de corrigir as falas feitas por Rafael Tavares.
“No projeto o termo Trans, diferente do que foi dito pelo ex-deputado, não tem nenhuma relação com a questão LGBTQIA+, mas, sim, refere-se ao trans de ‘transformando’, de transformar caminhos e fronteiras e de ‘transportar’, é transportar a visão dos educadores e do público para além do que se considera inatingível, posto e permanente”, completa a FCMS em nota.
**(Com assessoria)