Trad desabafa sobre investigação que iniciou durante campanha para concorrer ao governo de MS em 2022 e alega ter sofrido crime político
Em entrevista à uma rádio da Capital nesta terça-feira (6), o ex-prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, afirmou que o grupo político que o acusou de assédio sexual em 2022, foi responsável pela morte da mãe, Terezinha Mandetta Trad, vítima de um derrame cerebral no ano seguinte.
A situação ocorreu durante campanha eleitoral para disputar ao cargo de governador do Estado em 2022. Segundo o político, quando as denúncias contra ele começaram a surgir, a matriarca dos Trad chegou a receber ofensas com palavras de baixo calão, através de mensagens de whatsapp.
“Anteciparam a morte de minha mãe. Ela foi a que mais sofreu nesse episódio. Me ligava todos os dias e antes de deitar, chorava comigo no telefone. Ela foi trucidada… Mãe é mãe. Durante 60 dias, ela lia, ouvia rádio, mensagens de whatsapp, sites, televisão… Tudo fulminando com armações criminosas e não tínhamos direito de defesa. Ela era forte, saudável e derepente teve um derrame cerebral. Machucaram muito minha mãe. Usaram vocabulários, colocações… Só queria ela aqui”, diz Trad.
Ao longo da entrevista, Marquinhos, que também é candidato a vereador pelo PDT, alega que logo após abdicar do cargo de prefeito, as exposições sobre os casos de assédio e repercussão na mídia culminaram na investigação por parte da justiça. Ele diz ter sofrido crime político.
“Tudo começou após a renúncia à prefeitura em 2 de abril de 2022, com tudo aprovado e comprovado. Com todo o respeito que tenho pela Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, ela agiu com parcilidade. Autoridade policial indicada pelo secretário de segurança que era muito próximo àquela que organizou as quatro meninas que foram oferecer a denúncia. O que aconteceu foi crime político”, declara.
Terezinha Trad faleceu aos 86 anos em decorrência de um derrame cerebral em 2023 – Foto: Redes sociais
Questionado sobre a desistência da prefeitura de Campo Grande, Marquinhos afirma ter feito a escolha certa.
“Não me arrependo. Quem deve estar arrependido hoje foram aqueles que armaram e utilizaram de instituições para criminosamente fazer a maior desconstrução de imagem que esse Estado já viu. Se eles participarem todas as vezes que essa sigla organiza um pleito eleitoral, vai ter essa baixaria. Arquitetaram de maneira criminosa, usando instituições, algo que indelevelmente vai ficar marcado na história de Campo Grande e MS”, pontua, citando o ex-partido.
Conforme publicado pelo Correio do Estado nesta terça-feira (6), Trad foi absolvido sumariamente de todas as acusações de assédio sexual, importunação sexual e favorecimento à prostituição feitas pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul.
A decisão, que deve ser publicada nos próximos dias no Diário da Justiça, em um processo que tramita em segredo, inocenta Marquinhos, que nem chegou a ser ouvido na instrução processual.
Depois de ter sido acusado de crimes sexuais contra sete garotas em novembro de 2022 pelo promotor de Justiça Alexandre Pinto Capiberibe Saldanha, restavam duas garotas apontadas como vítimas pelo Ministério Público.
Na decisão desta segunda-feira (5), a magistrada Eucelia Moreira Cassal, não viu crime em nenhuma das acusações feitas pelo promotor. “Assim, os fatos narrados na peça inicial evidentemente não constituem crime e implicam na absolvição sumária do acusado”, entendeu a magistrada.
Absolvição sumária é uma decisão judicial tomada pelo magistrado após a análise dos elementos presentes nos autos do processo que absolve o réu de todas as acusações apresentadas contra ele ainda na fase inicial do processo, ou seja, antes mesmo do julgamento propriamente dito.
Cabe recurso da decisão, mas caso o Ministério Público decida por recorrer, deve encontrar um caminho difícil pela frente. É que já em 2022, várias das acusações usando relatos de pelo menos quatro vítimas elencadas pelo Ministério Público já haviam sido trancadas pelo Tribunal de Justiça.
Na época, a defesa de Marquinhos chegou a formalizar uma reclamação contra a magistrada, por aceitar uma acusação sobre um caso já descartado em segunda instância, apontando uma quebra de hierarquia.
O inquérito
Apesar de a denúncia contra Marquinhos Trad ter sido ajuizada em novembro de 2022, o inquérito contra o ex-prefeito teve início em julho de 2022, no início do período eleitoral da época, em que ele foi candidato a governador de Mato Grosso do Sul.
O inquérito “esquentou” a campanha eleitoral na época, e deixou Marquinhos trabalhando em duas frentes: uma tentando se eleger governador e fazendo campanha, e em outra, se defendendo das acusações.
Durante o período de campanha eleitoral de 2022, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul chegou a instalar um serviço de Disque-Denúncia para receber denúncias de supostas vítimas de assédio. Na época, a defesa do ex-prefeito queixou-se que nem mesmo crimes hediondos, como casos de pistolagem, ou de investigações contra o crime organizado, tiveram tal esforço institucional ao ponto de ter um canal exclusivo para denúncias.
Ao final da investigação, a poucos dias da votação, em outubro, o ex-prefeito de Campo Grande acabou indiciado em pelo menos 16 casos de crimes sexuais. O Ministério Público, porém, só viu crimes em sete atos, com sete supostas vítimas. O Judiciário nem isso, por causa do julgado de 2ª instância, Marquinhos derrubou, de início, três das acusações.
No ano passado, derrubou outras duas no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e agora, com apenas duas acusações contra ele, acabou absolvido sumariamente.
*Colaborou Eduardo Miranda
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