O procurador de justiça desportiva de Mato Grosso, Wilson Pedro dos Santos, pediu à justiça desportiva o afastamento de Francisco Cezário de Oliveira como presidente da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), bem como a nomeação de um novo gestor por indicação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
No documento assinado nesta sexta-feira (24), o procurador considera que Cezário foi recolhido ao sistema prisional por força de decisão judicial, por participação de organização criminosa de desvio de recursos provindos de órgãos do Estado e da própria CBF.
E elencou que, mesmo preso, e afastado do cargo, ainda se encontra como comandante da Federação “estatutária e juridicamente, mormente porque a prisão então decretava foi na forma preventiva, estando a Entidade totalmente acéfala, sem presidente, para proceder às atividades inerentes e administrativas”.
“Presentes, pois, os requisitos necessários e úteis para a concessão de medida liminar no sentido de declarar a vacância do cargo, como afastamento estatutário do Senhor Cezário como Presidente da FFMS”.
Operação da Cartão Vermelho
O Gaeco deflagrou a Operação Cartão Vermelho na terça-feira (21) e prendeu o presidente da FFMS, Francisco Cezário, e outros quatro envolvidos no esquema de desvio e lavagem de dinheiro.
A hegemonia de Cezário, que já dura 26 anos, pode estar perto de acabar. Isso porque o estatuto da Federação prevê sanção de inelegibilidade de 10 anos aos membros da instituição em alguns casos.
A situação de Cezário se aplica no inciso V do artigo 53 do estatuto, que diz sobre o afastamento de cargo eletivo ou de confiança de entidade desportiva em virtude de gestão patrimonial ou financeira irregular ou temerária da entidade.
Repasse de R$ 8,3 milhões para FFMS
Conforme levantamento obtido pelo Jornal Midiamaxa Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de MS) repassou R$ 8.327.803,20 desde 2015 à FFMS para investimentos nos campeonatos estaduais. Nos últimos três anos, o recurso do FIE (Fundo de Investimentos Esportivos) ultrapassou a cifra do milhão.
Sem contar os repasses da CBF, a Federação de Futebol recebeu milhões da Fundesporte para os campeonatos estaduais da Série A e futebol feminino. Entretanto, a FFMS declarou rombo de quase R$ 1 milhão em 2023.
Na ponta do lápis, o rombo informado não chega nem perto do montante desviado. Com o dinheiro lavado, a FFMS poderia pagar 6x o valor do déficit. O informado pelo Gaeco é referente a desvios de 2018 até fevereiro de 2023. Vale ressaltar que Cezário está à frente da Federação desde 1998.
Operação na FFMS
Conforme informações do Gaeco, o grupo realizava pequenos saques de até R$ 5 mil para não chamar atenção dos órgãos de controle.
Mais de R$ 800 mil foram apreendidos, inclusive em notas de dólar somente durante o cumprimento dos mandados nesta terça-feira, além de revólver e munições.
Dessa forma, os valores eram distribuídos entre os integrantes da organização criminosa. O esquema se estendia também a outras empresas que recebiam altas quantias da federação. Assim, parte dos valores vinha ‘por fora’ ao grupo.
A organização criminosa também possuía um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. Equipes do Gaeco cumpriram 7 mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.
Conforme o Gaeco, o nome da operação faz alusão ao instrumento utilizado pelos árbitros para expulsar os jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol.
Lista de investigados na Operação Cartão Vermelho
Jamiro Rodrigues de Oliveira, vice-presidente da FFMS; Marco Antônio Tavares, vice-presidente e coordenador de competições da federação, que também consta como presidente da Federação de Tênis de Mesa; Aparecido Alves Pereira, delegado de jogos da FFMS; Rudson Bogarim Barbosa que, em publicação do site da entidade, em 2022, constava como gerente da TI da FFMS; Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira; Francisco Carlos Pereira Umberto Alves Pereira; Valdir Alves Pereira; Francisca Rosa de Oliveira; Marco Antônio de Araújo; Patrícia Gomes Araújo; Sindicato dos Árbitros Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindarbitros); empresa Invictus Sports.