A definição moderna de selfie envolve uma fotografia que alguém faz de si mesmo, geralmente usando um smartphone, e com intenção de postar em uma rede social. Embora essa definição esteja bem adaptada aos tempos de Instagram, ela não leva em conta que, na verdade, a primeira selfie foi tirada muito antes da invenção dos celulares, ainda em 1839. E quem estava por trás do registro não era um influencer, mas sim um químico.
O responsável pela façanha foi Robert Cornelius, nascido na Filadélfia em 1º de março de 1809. Seu pai, um imigrante alemão, abriu uma fábrica de lâmpadas ao chegar aos Estados Unidos. Desde cedo, Cornelius começou a frequentar a fábrica e desenvolveu um interesse especial pela química, se especializando em técnicas de revestimento de prata e polimento de metais.
Com 22 anos, em 1831, o jovem já era conhecido pela qualidade de seu trabalho. Seus conhecimentos químicos o levaram a ser convidado pelo inventor e maquinista Joseph Saxton a criar uma placa de prata para o “daguerreótipo” da Central High School, uma das mais famosas e antigas escolas do estado. O daguerreótipo foi o primeiro método fotográfico da história. Desenvolvido pelo francês Louis-Jacques-Mandé Daguerre em 1835, ele gerava apenas uma única imagem sobre uma placa de cobre revestida com prata.
Bem diferente da praticidade dos smartphones e novas câmeras fotográficas, a placa que receberia a foto devia ser polida e exposta a vapores de iodo. A imagem só se tornava visível depois de ser colocada em uma câmara escura (como esta abaixo), onde era revelada com vapores de mercúrio e fixada com uma solução salina.
Foi após essa consulta com Saxton que Cornelius tomou gosto pela fotografia — que estava em seus primórdios. E foi essa paixão que culminou na primeira selfie da história. Em 1839, aos 30 anos, ele instalou sua câmera na parte traseira da loja de lâmpadas da sua família e decidiu fazer um autorretrato. Para capturar a imagem, removeu rapidamente a capa que cobria a lente do daguerreótipo e se posicionou à sua frente. O resultado da primeira selfie é este que você vê abaixo.
Ele provavelmente precisou manter a pose por um período de 3 a 15 minutos, devido ao tempo necessário para o processo (já imaginou?). Após o registro, Cornelius anotou na parte de trás da imagem: “A primeira fotografia com luz já tirada. 1839.”
Mais tarde, o químico então assumiu a coordenação de dois dos primeiros estúdios fotográficos nos Estados Unidos entre 1841 e 1843. Mas a popularização da fotografia e o estrondo de estúdios no país fez com que Cornelius perdesse o interesse na prática, voltando a se dedicar integralmente aos negócios da família.
Mesmo que seus cabelos bagunçados e blazer tenham entrado para a história como a primeira selfie, o registro de Cornelius não é uma unanimidade entre os especialistas de história de fotografia. Alguns dizem que o primeiro autoretrato fotográfico na verdade tenha sido do francês Hippolyte Bayard, em 1840.
Intitulada “Autorretrato de um Homem Afogado”, a fotografia retrata Bayard sem camisa, deitado e com os olhos fechados, sugerindo que ele está morto. A imagem foi criada como um protesto após suas repetidas tentativas fracassadas de obter reconhecimento do governo francês para seu método fotográfico, que foi desenvolvido na mesma época que o daguerreótipo. Bayard se destacou por criar um método de captura de fotografias diretamente sobre papel, afirmando ter desenvolvido a técnica antes de Daguerre.
Seja Cornelius ou Bayard, os primeiros autorretratos realizados com uma câmera fotográfica demonstram que a prática da selfie é muito mais antiga e comum do que se imaginava. Diga xis, leitor!
Fonte: Galileu