Cláudio Barbosa, um dos alvos da Operação La Casa de Papel, em Florianópolis (SC), durante blitz de trânsito, teve o pedido de liberdade negado pelo TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) na última quarta-feira (26). Ele é acusado de liderar um esquema milionário de pirâmide e foi preso no dia 28 de maio deste ano.
A Justiça Federal negou o habeas corpus solicitado pela advogada Talesca Campara de Souza, que representa Cláudio. “Conforme exposto, o paciente permaneceu foragido por longo período, desde 19 outubro de 2022 até 29.05.2024, quando ocorreu o cumprimento do mandado de prisão, de forma acidental, em razão de uma fiscalização de trânsito, o que demonstra, por si só, que o paciente não tinha a intenção de se apresentar para responder às ações penais proposta contra ele, tampouco colaborar com a instrução processual”.
A defesa do réu alegou que não existem mais motivos para a prisão preventiva dele, decretada em 2022, considerando que na ação penal principal – que investiga lavagem de dinheiro -, está na etapa de apresentação de alegações finais e que os réus respondem em liberdade. Diz ainda que já houve o compartilhamento de provas desmembrado em relação ao paciente.
Contudo, para a Justiça Federal as medidas cautelares alternativas à prisão, previstas em lei, não são suficientes e adequadas para que Cláudio tenha a prisão preventiva revogada.
“Assim, no âmbito da cognição sumária, não se verifica flagrante ilegalidade na liberdade de locomoção do paciente em decorrência de ato praticado pela Autoridade impetrada, uma vez que o indeferimento do pedido de revogação da prisão preventiva foi devidamente fundamentado, estando amparado em elementos concretos que evidenciam a necessidade de garantia da ordem pública e da futura aplicação da lei penal”, determinou o Relator Desembargador Federal, Fausto de Sanctis, na última quarta (26).
Cláudio Barbosa, apontado como partícipe em esquema de pirâmide com criptomoedas que causou prejuízo superior a R$ 4 bilhões, levava uma vida de luxo na capital catarinense. Ele estava foragido desde 19 de outubro de 2022, quando a operação foi às ruas. Além disso, seria um dos líderes da Trust Investing – sendo o único que não foi preso durante a operação da Polícia Federal. A ação teve, entre os presos, o marido da cantora Perlla.
O roubo de dinheiro
A Operação La Casa de Papel foi deflagrada pela Polícia Federal em outubro de 2022. O grupo de seis suspeitos responde por um golpe de pirâmide financeira que causou mais de R$ 4 bilhões em prejuízos. São eles: Patrick Abrahão Santos Filho, marido da cantora Perlla (apontado como o principal captador de investidores), Ivonélio Abrahão da Silva (pai de Patrick), Diego Ribeiro Chaves, Fabiano Lorite de Lima, Cláudio Barbosa e Diorge Roberto de Araújo Chaves.
Todos se tornaram réus em 2023 pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, operação ilegal de instituição financeira, gestão fraudulenta e crime contra o patrimônio da União e ambiental. Deles, apenas Cláudio Barbosa não havia sido preso.
Diego Ribeiro seria o presidente da Trust Investing, empresa usada pelo grupo, sendo responsável pelos novos contratos. Fabiano Lorite figurava como diretor de Marketing e Cláudio Barbosa, diretor de Tecnologia. Diorge, por seu turno, seria o diretor Financeiro.
‘Ensinando a enriquecer’
No esquema, conforme o processo, Patrick usaria as redes sociais para ensinar os seguidores a enriquecer. Isso ocorreria por meio da Trust Investing. Seu pai, Ivonélio, figurava como diretor nacional e “dono” da Igreja Ministério Internacional Restaurando as Nações, usada para atrair investidores. As contas da igreja também seriam usadas no esquema.
Toda a estrutura ajudava na captação dos recursos para o golpe. O sistema envolvia pacotes de investimentos ou aportes financeiros que iam de US$ 15 a US$ 100 mil. Assim, em troca, os participantes teriam lucros de até 300% ao ano.
“Traders” seriam responsáveis por multiplicar o capital e instigar quem já fazia parte da operação a atrair outros investidores. Assim, ganhariam percentuais sobre os valores aplicados pelos futuros parceiros. Batizado de “binário”, o sistema seria, na verdade, uma pirâmide financeira.
O esquema se dinamizou, com o aporte de investimentos de minas, do mercado de vinhos, de viagens, usinas solares e reciclagem, entre outros. Além disso, ostentavam seu “sucesso pessoal” nas redes sociais, exibindo viagens internacionais, às vistas dos seguidores.
Grupo lançou criptomoedas e ‘inflou’ seu valor
Então, no fim de 2021, o grupo lançou duas criptomoedas próprias. Contudo, elas não tinham lastro financeiro (algo que servisse como garantia de seu valor). A PF afirma que os suspeitos manipulariam o mercado para valorizar uma delas automaticamente, em percentuais entre 5.500% em 15 horas e até 38.000% dias depois.
As moedas foram usadas também para pagar investidores. Contudo, na sequência da alta meteórica, logo perderam o valor de mercado. Assim, perderam quase completamente sua liquidez. A La Casa de Papel teve expedidos 6 mandados de prisão e 41 de busca e apreensão.
Foram bloqueados valores em contas bancárias, imóveis de alto padrão, gado e ovelhas, veículos de luxo, ouro, joias, artigos de luxo, lanchas e criptoativos, bem como uma mina de esmeraldas. As pedras preciosas deram origem à apuração, conforme divulgou a PF à época, e são o vínculo do esquema com a Justiça Federal de Mato Grosso do Sul.
A investigação começou em Dourados, em agosto de 2021, com a prisão de dois integrantes da quadrilha. Eles seguiam para o Paraguai com escolta armada, transportando cerca de US$ 100 mil em esmeraldas. Com isso, os autos ficaram no Estado. A apuração da PF indicou que a pirâmide financeira se estenderia a mais de 80 países, envolvendo 1,3 milhão de pessoas. O prejuízo estimado supera os R$ 4 bilhões.