Que venha o hospital, mas sem o sacrifício da saúde e até de vidas
Segundo a respeitada e muito bem informada Fabiana Sveiter, autora de reportagens e artigos nas principais publicações do País e especializada em coberturas sobre direitos e cidadania, o Brasil tem no Sistema Único de Saúde um dos mais abrangentes e eficazes mecanismos de assistência em massa às populações que mais precisam. Ela cita o fato de o SUS ser o único meio governamental que atende gratuitamente mais de 200 milhões de pessoas, das quais 80% dependem dele para tratar, curar, prevenir e até evitar a morte.
Não se pode negar a elevada importância dos hospitais que prestam assistência via SUS em todo o País. Mas não existem hospitais suficientes para as demandas dos municípios de médio e grande porte, situação que é providencialmente socorrida pelos postos das redes municipais de saúde. Cada bairro ou região urbana tem seu posto, teoricamente estruturado e capacitado para clinicar, medicar, prescrever, acompanhar, proceder as pequenas e até médias cirurgias – enfim, não deixar sem resposta aqueles seres que não têm plano de saúde e nem dinheiro para pagar um médico ou fazer tratamento particular.
Não é preciso ir longe para tomar um exemplo do quanto o SUS é fundamental para mais de 75% da população. Basta olhar, à luz do dia e dos fatos, o que acontece na rede de postos municipais em Campo Grande, cidade que beira um milhão de moradores. É olhar sem paixão e constatar que, mesmo existindo SUS, muita gente – muita gente mesmo – não tem ou não consegue ter os cuidados que o SUS assegura.
O SUS paga hospitais e prefeituras para garantir atendimento. E não é pouca a sacola de dinheiro. É um recurso que, mesmo insuficiente para resolver todos os problemas, certamente reduziria a maioria deles, traria alívio às famílias dos pacientes e economia aos cofres públicos, com a redução da demanda. Se há menos doentes, há menos pessoas na fila, menos desgastes e chamadas de viaturas de socorro.
Mas a prefeitura campo-grandense, mesmo com aproximadamente R$ 2 bilhões anuais no orçamento para o setor, não só pratica com estes doentes a desassistência, como também despeja a política do SUS na lata de lixo, tentando eximir-se da responsabilidade que lhe compete. Porém, o pior está anunciado pela dona da caneta do Executivo: a construção de um hospital, com um custo de quase R$ 270 milhões.
O investimento é necessário, é prioridade, é aprovado. Mas existe uma prioridade muito maior e mais urgente, que é socorrer as pessoas que precisam de médicos, enfermeiros, remédios e tratamentos para ontem, não podem esperar de dois a três anos pela inauguração de um hospital que foi anunciado em período de campanha eleitoral. A prefeitura tem o SUS para tratar os pacientes que de vez em sempre entopem os postos. E estes são os casos de primeira e absoluta necessidade.
Que venha o hospital, mas sem o sacrifício da saúde e até de vidas de gente que não pode esperar um dia a mais para ser bem atendido.