O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse neste sábado (8) que a política monetária não pode ser feita a partir da inflação corrente, pois isso seria “como dirigir um carro olhando para o retrovisor: ia bater”.
Campos Neto participou de painel em evento do Esfera, no Guarujá, e respondia a uma questão sobre os possíveis impactos da medida provisória da compensação, que propõe reduzir créditos tributários para compensar perdas com a desoneração da folha neste ano.
William Waack, mediador do painel, leu no palco um comunicado da rede Ipiranga, sobre reajuste nos preços de combustíveis em seus postos devido à alteração no mecanismo de compensação de créditos tributários do PIS/Cofins.
O horizonte considerado nas decisões da autoridade monetária, segundo o presidente do BC, considera de 12 a 18 meses. Um ajuste de preço de gasolina estaria fora desse horizonte. Ele disse que o mesmo aconteceu, no governo passado, em outras desonerações, em relação às quais ele disse ter sido contra.
“Estou transferindo inflação presente para inflação futura, fazendo com que cresça. No fim das contas pra gente o que importa é entender qual a expectativa do mercado e como isso vai se desenrolar lá na frente”, disse.
“O problema principal para o BC é: qual o equilíbrio que terei no médio prazo? O importante é a sustentabilidade.”
Roberto Campos Neto também defendeu que escapa ao Banco Central a capacidade de determinar o juro longo.
Ele foi provocado pelo empresário Rubens Menin, presidente do conselho de administração da MRV e um dos proprietários da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Atlético Mineiro, que defendeu a impossibilidade de a economia aguentar muito mais tempo com juro real de 6%.
“Talvez seja a discussão mais importante que temos que ter hoje, é juro real (a 6%), por quanto tempo?”, disse o empresário.
Segundo o presidente do BC, o comportamento do juro real longo está ligado à credibilidade das decisões da política econômica e da autoridade monetária.
“A Selic não determina o prêmio de risco longo. O trabalho da Selic, feito com credibilidade, faz com que a taxa de juro real longa caia”, afirmou.
Isso aconteceu, segundo ele, em momentos como a entrada em vigor do teto de gastos ou do novo arcabouço fiscal.
O presidente do BC citou ainda um título do Tesouro que, na sexta-feira (7), remunerava o investidor em 6,30% (NTN-B 2055).
“Isso não é o Banco Central, é o Tesouro que emite a esse preço porque é o preço que as pessoas estão dispostas a financiar o governo. O juro real de 6% é muito alto, mas hoje temos um instrumento que diz que o governo financia a sua dívida entre hoje e 2055 a uma média de 6,30%”, afirmou.
“Não adianta confundir causa e consequência. Juro não é causa, é consequência. Se fosse causa, era só cair e estaríamos todos felizes.”
Campos Neto defendeu também que é necessário combater o patamar de juro estrutural neutro no Brasil que é alto. “Há várias razões, uma delas é a fiscal, mas há várias outras. “