O inquérito que apura a morte brutal da candidata a vereadora, e da sua irmã, por membros de uma facção em Porto Esperidião, a 358 km de Cuiabá, foi concluído nesta segunda-feira (30) pela Polícia Civil. Ao todo, 16 pessoas foram indiciadas por organização criminosa, extorsão mediante sequestro qualificada pela morte, extorsão mediante sequestro qualificada por lesão grave, tortura e furto.
Os documentos seguem agora para o MPMT (Ministério Público de Mato Grosso) e Poder Judiciário. Oito adultos foram indiciados e 8 adolescentes responderão a atos infracionais análogos aos crimes apontados na investigação.
Rayane Alves Porto25 anos, e Rithiele Alves Porto28 anos, foram assassinadas a facadas e outros dois rapazes ficaram feridos. Os crimes teriam acontecido a mando de uma facção criminosa por conta de uma foto postada nas redes sociais no dia 8 de setembro.
O rapaz com rosto borrado é irmão das vítimas e sobreviveu ao ataque, por isso sua imagem foi preservada. Veja a foto abaixo:
De acordo com o delegado Higo Rafael, da regional de Cáceres, a motivação dos assassinatos seria por conta dessa única postagem, na qual os gestos feitos pelas vítimas fariam alusão a uma facção rival. O crime ocorreu durante a madrugada do dia 14 de setembro, em Porto Esperidião.
Rayane era candidata a vereadora na cidade e Rithiely era influencer digital com mais de 80 mil seguidores no Instagram.
“Eles pegaram as vítimas em uma festa na Beira Rio, na própria festa vasculharam os celulares das meninas e depois as conduziram para a casa. Chegando na casa, colocaram as vítimas em um quarto e foram retirando uma por uma para torturar”, detalhou o delegado.
Cronologia do crime e pedido de dinheiro
Conforme imagens cedidas ao Primeira Página pelo delegado, as quatro vítimas foram abordadas em uma festa por volta de 1h45.
O vídeo abaixo mostra as 4 vítimas sendo levadas ao cativeiro pelos criminosos, onde permaneceram por 3h sendo torturadas.
“Chegando na casa, colocaram todos em um quarto e foram retirando um por um para torturar. Primeiro foi o irmão das meninas mortas, depois a Rayane e depois a Rithiele. Quando retiraram os dois últimos, um deles conseguiu escapar e chamar a polícia, senão todos iriam ser mortos. Enquanto torturavam, ligavam para familiares pedindo R$ 100 mil”detalhou o delegado.
Após as mortes, quatro dos envolvidos pegaram um táxi e se hospedaram em um hotel da cidade. Depois, segundo as investigações, fizeram compras em uma loja.
Mortes encomendadas
As investigações da Polícia Civil apontam para a possibilidade de o crime ter sido encomendado por um detento da PCE (Penitenciária Central do Estado), em Cuiabá. De acordo com o delegado, o criminoso passou as 3h comandando o crime por vídeochamada.
“Todos confessaram e, o mais importante, é que a todo momento estavam em vídeochamada com um preso da PCE. Cerca de 3 horas de tortura e eles permaneceram cumprindo o que esse preso determinava. Tudo comandado de dentro do presídio. Um dos que confessaram o crime, disse que elas já tinham sido decretadas pela facção”.
Em depoimento, o namorado de uma das vítimas – que conseguiu fugir – falou que a todo momento o preso dizia: “Essa vereadora quer tomar minha cidade”. Os criminosos, conforme o sobrevivente, apresentava falas desconexas.
O delegado afirmou que não há qualquer indício de que as vítimas tenham envolvimento com práticas ilícitas.
As irmãs fizeram parte de um circo durante parte da vida e, nas redes sociais, falavam sobre a vida na ‘lona” do orgulho de tinham de fazer parte da cultura circense.
Velório e enterro
Os corpos das duas irmãs foram enterrados dia 15 de outubro, sob forte comoção de parentes e amigos. O velório das vítimas ocorreu em Glória d’Oeste, a 304 km de Cuiabá.