“Que saudade, pé de cedro, do tempo em que te plantei”. O feito de Zacarias Mourão, que tempos depois virou música e o projetou no cenário nacional, tornando a árvore famosa em todo o país, agora a eterniza no tempo. Segundo laudo, redigido por um botânico e apresentado há dois dias em Coxim, na região norte do Estado, o pé de cedro está morto.
Do plantio, quando o cantor e compositor Zacarias ainda era criança, se passaram cerca de 85 anos. Anos depois, devido ao sucesso da canção, interpretada por diversos outros artistas, a música ecoou e também fez o pé de cedro se tornar símbolo cultural de Coxim.
Em 2006, no entanto, um raio atingiu a árvore durante uma tempestade, quando perdeu parte de sua estrutura. Na ocasião, foram feitas amarrações com cabos de aço, garantindo a sustentação, porém, a árvore foi afetada por pragas naturais.
Ao redor dela, após iniciativa de artistas e produtores culturais locais, foram plantadas sementes da árvore em vários locais, inclusive próximo à árvore, na Praça Zacarias Mourão. Atualmente, dois pés de cedro saudáveis também compõem o local, na esquina das ruas Herculano Pena com a João Pessoa, próximo ao Rio Taquari.
Laudo confirma morte
Laudo apresentado nesta quarta-feira (24) por um botânico confirma a morte do pé de cedro. O documento foi apresentado em reunião da Comissão Mista de Trabalho e Acompanhamento das ações relacionadas à situação fitossanitária do pé de cedro.
No documento, consta que “há risco de queda de galhos que podem causar prejuízos materiais ou lesões físicas graves aos frequentadores do local”. Assim, é necessário a “retirada da árvore, evitando o risco de queda, como forma de segurança para os transeuntes e visitantes da praça”.
A reportagem do Jornal Midiamax entrou em contato com o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), questionando detalhes do laudo e as medidas a serem tomadas e aguarda retorno.
Quem foi Zacarias Mourão
Zacarias dos Santos Mourão, o Zacarias Mourão, nasceu em 15 de março de 1928 na cidade de Coxim, no estado de Mato Grosso do Sul. Passou a infância na igreja, onde se tornou coroinha ao lado de Padre Chico, que o apelidou de Tió, nome de um pássaro danado. Aos 15 anos, o menino decidiu ser padre e mudou-se para Campo Grande, onde fez dois anos de seminário, mas percebeu que não tinha vocação para o sacerdócio e resolveu deixar de lado a batina.
Na capital, Zacarias entrou para a Aeronáutica e depois, aos 21 anos, foi estudar em Petrópolis/RJ, mas a vida por lá não agradou. O rapaz passava a maior parte do tempo trancado em um quarto, escrevendo sobre Coxim. Resolveu morar em São Paulo, onde entrou para o DER (Departamento de Estradas e Rodagem); responsável pela construção, manutenção de vigilância das estradas; como operador de máquina. Fez carreira até sair como Policial Rodoviário Federal.
Em 1959, aos 31 anos, Zacarias retorna à cidade sul-mato-grossense, visita o pé de cedro que havia plantado quando criança, conversa com Padre Chico e volta à capital paulista com a letra da música, sobre a árvore, já escrita. Foi quando pediu a Goiá, outro compositor, que musicasse a canção que viria a marcar sua carreira.
No período em que trabalhou no Departamento de Rodagem, o compositor continuou mexendo com produções artísticas e cursou jornalismo pela Cásper Líbero.
O Zacarias radialista, produtor, empresário, diretor de gravadora e compositor começa a surgir nesta época, no rádio, quando ele venceu um concurso de poesia na Rádio Bandeirantes e ganhou um programa para fazer.
Zacarias Mourão também recebeu diversos prêmios no Festival de Música Sertaneja da Rádio Record de São Paulo. Além de compositor, Zacarias Mourão foi também radialista, tendo trabalhado na Bandeirantes, na Excelsior e também na Nacional. Na Bandeirantes, por sinal, também foi diretor artístico sertanejo e, com essa função, descobriu vários novos talentos na música caipira. Zacarias também foi diretor artístico e produtor de diversas gravadoras, tais como Polygram (hoje Universal), Chantecler (hoje Warner Music) e RCA (hoje BMG).
Além de comandar o programa de rádio, ele era colaborador de revistas em São Paulo, como a “Melodias” e a “Moda e Viola”, na qual assinava a coluna “Venenos do Zacarias”, onde retratava, com humor, o mundo artístico da época.
Suas composições foram gravadas por renomados intérpretes, como as Primas Miranda, Tião Carreiro e Pardinho, Irmãs Galvão, Tibagi e Miltinho, Zilo e Zalo, entre outros.
Zacarias retornou ao Mato Grosso do Sul no ano de 1981, e passou a residir em Campo Grande, onde trabalhou na Assembleia Legislativa, sem, no entanto, abandonar o meio artístico. Participou também como jurado do programa “Nossa Terra Nossa Gente”, que ia ao ar pela TV Campo Grande, além do programa “Porteira Velha” que apresentava na Rádio Cultura.
Brigava constantemente pela valorização dos artistas regionais. Chegou a ser proprietário da ZN Produções.
A vida de Zacarias Mourão foi interrompida na madrugada de uma terça-feira, em 23 de maio de 1989. O compositor, na época com 61 anos, sofreu atentado na casa que residia, localizada no Jardim TV Morena, em Campo Grande. Ele recebeu uma facada na altura do coração e chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu durante uma cirurgia de emergência na Santa Casa. O assassinato, até hoje, não foi esclarecido.
E, com a morte trágica de Zacarias Mourão, o sonho de fazer a praça pública no lugar do pé-de-cedro passou a ser um desafio ainda maior para os amigos e familiares. Foi erguido no local um busto em homenagem ao compositor, o que deu início à construção do espaço público com o qual ele sempre sonhou.