Marcos Pollon nomeou a própria esposa para comandar o PL Mulher estadual e o irmão para presidir o diretório da Capital
As decisões tomadas no mês passado pelo presidente do PL em Mato Grosso do Sul, deputado federal Marcos Pollon, escancararam de vez o racha no partido no Estado, o qual já era de conhecimento da classe política estadual desde o pleito do ano passado, quando parte do partido apoiou, no segundo turno, a candidatura do atual governador, Eduardo Riedel (PSDB), enquanto a outra subiu no palanque do ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB).
No entanto, publicamente, essa divisão ainda era velada, mas deixou de ser após Marcos Pollon emplacar a esposa, Naiane Bittencourt, como presidente estadual do PL Mulher e o irmão dele, Gabriel Pollon, como presidente municipal do partido em Campo Grande, decisões tomadas, de acordo com fontes, sem consultar o restante das lideranças da legenda.
Se a situação entre os principais caciques do PL em Mato Grosso do Sul já não ia bem, com essas duas nomeações o caldo azedou de uma vez por todas, pois, conforme apurou o Correio do Estado, a sigla teria se partido em três partes.
Uma parte estaria com Marcos Pollon, o deputado federal Rodolfo Nogueira e o 1º suplente de senador Tenente Portela, enquanto a outra seria formada pelo deputado estadual João Henrique Catan, que se aproximou ainda mais do Capitão Contar e do deputado estadual Rafael Tavares, ambos do PRTB.
Já a terceira seria composta pela ala mais moderada do partido, que são os deputados estaduais Coronel David e Neno Razuk, ambos que estiveram do lado do governador Eduardo Riedel nas eleições do ano passado e que continuam na base aliada dele na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems).
Segundo informações obtidas pela reportagem, o racha no PL de Mato Grosso do Sul deve prejudicar de vez as eleições municipais do próximo ano na maioria dos municípios onde o partido tem intenção de lançar candidatura própria.
No entanto, a situação ficaria mais complicada em Campo Grande, pois, conforme apuração do Correio do Estado, o grupo liderado por Marcos Pollon pretende apoiar a candidatura da atual prefeita, Adriane Lopes (PP), podendo até lançar o irmão dele, Gabriel Pollon, como candidato, mas apenas para cumprir determinação da Executiva nacional do PL.
Tal possibilidade bate de frente com as pretensões de João Henrique Catan, que tem o desejo de ser o candidato do partido a prefeito de Campo Grande ou que a sigla filie o amigo Capitão Contar para que ele seja o escolhido para disputar o cargo na Capital.
Por outro lado, as duas alternativas não são aceitas pelo Coronel David, que nas pesquisas de intenções de votos para prefeito de Campo Grande aparece em melhor situação para os eleitores da direita que Marcos Pollon, João Henrique Catan e até que o próprio Capitão Contar.
O descontentamento do parlamentar seria tão grande, que, dizem, já estaria estudando deixar o PL e ingressar no PP, da senadora Tereza Cristina, com quem até esteve reunido no fim de semana em Campo Grande, porém, como a janela partidária só abre em 2026, terá de continuar do lado dos seus desafetos.
Nos bastidores do PL, a situação também estaria complicada nos municípios do interior do Estado onde o partido já estaria unindo forças, porém, graças às últimas decisões tomadas pelo presidente estadual, tudo estaria desandando e, nas cidades em que o partido estaria encaminhado, voltou tudo à estaca zero.
REPERCUSSÃO
O Correio do Estado entrou em contato com o deputado federal Marcos Pollon e a resposta para os questionamentos sobre as recentes nomeações foi que a escolha de sua esposa para a presidência regional do PL Mulher foi feita pela presidente nacional Michelle Bolsonaro e pela vice-presidente Amália Barros.
Ele disse ainda que a nomeação de seu irmão como presidente do partido em Campo Grande ocorreu com o objetivo de formalizar a estrutura partidária.
“Me foi concedido colocar alguém com perfil igual ao meu e da minha confiança. Meu irmão é pessoa de reputação ilibada, conservador, casado, pai de três filhos, católico tradicional, aberto à vida e de minha total confiança. E, principalmente, assume esse ônus sem qualquer remuneração”, explicou o presidente estadual do PL.
A reportagem também procurou o deputado federal Rodolfo Nogueira, porém, até o fechamento desta matéria ele não retornou e o espaço continua aberto para a sua manifestação sobre a situação política interna do PL.
O deputado estadual Coronel David também não quis comentar, enquanto o deputado estadual João Henrique Catan negou qualquer tipo de racha no PL de Mato Grosso do Sul depois que o presidente estadual nomeou a esposa e o irmão para cargos-chave na legenda.
“A executiva nacional deu ao deputado Pollon o comando da executiva estadual do partido. Dessa forma, todas as nomeações e composições são feitas exclusivamente por ele. Não existe necessidade disso e também não há impedimento jurídico, a delegação e a escolha são livres. Todo o restante e a condição em que foram feitas essas escolhas são assuntos internos da legenda”, assegurou o parlamentar.
Sobre a possibilidade de o PL não ter candidato próprio em Campo Grande para apoiar a reeleição da prefeita Adriane Lopes ou de lançar o irmão do deputado federal Marcos Pollon apenas para fazer número, João Henrique Catan não admite tal possibilidade. “Nosso partido terá candidato próprio, temos nomes excepcionais”, afirmou.
O deputado estadual Neno Razuk disse ao Correio do Estado que respeita “o posicionamento do deputado federal Marcos Pollon com relação às nomeações da esposa e do irmão”. Sobre as eleições municipais do próximo ano em Campo Grande, ele disse que “agora, o PL na Capital pode, sim, ter candidato próprio, assim como pode apoiar um candidato da direita, mas os parlamentares devem ser consultados”.
O advogado Gabriel Pollon, irmão do deputado federal Marcos Pollon, disse que sua escolha para presidir o PL em Campo Grande não é um ato de nepotismo e que não vai receber salário.
“Entendo que a prática do nepotismo deve ser rechaçada de todas as formas possíveis, de modo que vejo com bons olhos o projeto de lei que tramita na Câmara Federal, contudo, a atual incumbência de capitanear o PL em Campo Grande chegou à minha pessoa em virtude do fator confiança, inclusive, devo frisar que minha atuação é e sempre será pro bono, ou seja, gratuita, pois a ideia é construir. Desta forma, o grupo entendeu que, para o projeto de fortalecimento da direita no município, meu nome tem a agregar”, assegurou.
Ele ainda falou que ser pré-candidato a prefeito seria “motivo de grande alegria, pois atendo a todos os requisitos exigidos pelo PL”.
“Sou honesto e de direita, de modo que me coloco, sim, à disposição para contribuir com o desenvolvimento da nossa amada Capital, lembrando que o objetivo do PL é construir uma direita forte no Estado”, afirmou, completando que pertence à legenda e que faz política há mais de dez anos como advogado, representando interesses dos seus clientes.
“Contudo, política partidária propriamente dita, desde 2013, por ocasião do Fora Dilma [ex-presidente da República pelo PT] e movimentos de rua posteriores, me lembro de ombrear as manifestações com campo-grandenses que hoje estão no parlamento municipal, estadual e federal”.