Insatisfação com tamanho e execução do plano bilionário da Petrobras está por trás da demissão de presidente da estatal
Além de uma incompatibilidade pessoal, a insatisfação crescente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a elaboração e condução do plano de investimentos da Petrobras está por trás da demissão de Jean Paul Prates da presidência da estatal.
Entre as diversas críticas de Lula ao bilionário plano da estatal, a que causou mais ruído na relação com o Prates foi o baixo investimento previsto para recuperar a indústria naval brasileira, de acordo com auxiliares do presidente da República. Os prazos muito longos para a produção de fertilizantes foram outro ponto de atrito.
Segundo aliados, Lula chegou a cobrar detalhamento do plano durante reunião ocorrida no auge da crise, após Prates se abster na reunião que decidiu pela retenção de dividendos da Petrobras. Colaboradores do presidente afirmam que Lula tinha perdido a confiança em Prates.
A imagem, consolidada no Palácio do Planalto, era que Prates se subordinava às regras do mercado, agindo como CEO de uma empresa privada, sem levar em conta o interesse de Lula para os rumos da Petrobras.
O fortalecimento da indústria naval é um tema caro e simbólico para o presidente Lula, que enfrenta as críticas de economistas e de agentes do mercado financeiro de que esse modelo de política não deu certo no passado e não deveria se repetir.
Lula considera o plano fraco para estimular a indústria naval e chegou por diversas vezes a fazer críticas internas à equipe e também públicas a esse ponto específico do plano de investimentos.
Em abril, já sob intenso processo de fritura na Esplanada dos Ministérios após o episódio do pagamento dos dividendos extraordinários, Prates tentou viabilizar o que chamou de “PAC do Mar” para a indústria naval. O movimento, porém, não emplacou no Palácio do Planalto.
Foi considerado “espuma” e mais uma tentativa sem sucesso de propaganda para se manter no cargo. A avaliação foi de que a proposta, na prática, era vazia porque o próprio plano teria que trazer a previsão desses investimentos. Na avaliação desses interlocutores, não adiantava Prates fazer um power point da ideia para garantir sua execução.
A interlocutores, o ex-presidente da Petrobras destacou que o seu erro estratégico foi o de supor que os resultados positivos da empresa seriam suficientes para convencer o presidente do acerto da estratégia adotada.
Na visão de assessores do presidente Lula, Prates teria comprado a visão do mercado de ampliar os investimentos na indústria naval não funcionaria, como ocorreu no passado. Para eles, Prates não incluiu investimentos mais massivos para a indústria naval, como também não foi capaz de aumentar o tamanho do plano.
Lula já tinha decidido pela troca e não quis anunciá-la no calor dos acontecimentos. Para a escolha da sucessora, Magda Chambriard, ele se aconselhou com o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli.
Chambriard é amiga de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, que teria, inclusive, sugerido o nome dela para a equipe de transição do governo. No início do ano, Gabrielli recomendou Chambriard para o cargo. Mas Lula hesitava devido ao perfil técnico dela.
Aliados de Lula temiam comparações com o estilo duro de Graça Foster, que presidiu a Petrobras durante o governo Dilma.
Auxiliares do presidente rebatem as críticas de que haverá maior interferência política com a troca e que o papel da Petrobras no desenvolvimento do país sempre foi um tema ressaltado por Lula.
Nesse contexto, o papel do ministro da Fazenda, Fernando Hadadd, para segurar Prates no cargo estaria superestimado. Haddad teve um papel importante, porém, para destravar o pagamento de dividendos extraordinários da Petrobras, que foi suspenso pela estatal e acabou gerando uma crise com investidores.
O embate em torno do tamanho do plano de investimento começou ainda na sua fase de elaboração, com negociações muito duras com o governo federal.
Na proposta inicial, a empresa apresentou uma grande parte da carteira de projetos que ficaria na categoria de avaliação estágio considerado muito embrionário em que eles têm mais dificuldade de executar. Entre esses projetos, estava o Seap (projeto de Sergipe Águas Profundas).
Após discussões, o governo conseguiu colocar parte de alguns desses projetos na carteira de investimentos com status de implementação no plano, com a justificativa que mantinha a empresa sob as condições financeiras adequadas, sobretudo, limite de dívida da companhia.
Mas a baixa execução do plano de investimentos começou a gerar insatisfação do presidente e dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). O diagnóstico é que o plano teve subexecução em 2023 e “alguma execução” em 2024.
O Palácio do Planalto entende que é preciso acelerar esse processo, apesar do entendimento de que a subexecução teria também justificativas, como a dificuldade do setor, ainda sofrendo impacto da pandemia da Covid, que desorganizou as cadeias produtivas.
Outro ponto de críticas foram os prazos considerados muito demorados para a retomada das unidades de produção de fertilizantes, como a Fafen no Paraná, e a unidade de produção de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul.
Prates começou a fazer um movimento mais recente de fazer inaugurações. Mais uma ação considerada vazia, porque os prazos eram todos muito elásticos para retomar as operações nessas usinas.
imbróglio no TCU (Tribunal de Contas da União) em torno do contrato firmado pela Petrobras com a empresa de fertilizantes Proquigel Química (Grupo Unigel), suspenso por indícios de irregularidades graves também aumento o desgaste de Prates.
Os relatos ouvidos pela Folha é de que a condução do processo não foi bem administrada pelo ex-presidente da Petrobras, que chegou a bater de frente com o presidente do TCU, Bruno Dantas.
Para os técnicos do TCU, a assinatura do contrato seria antieconômico, segundo a avaliação, com estimativas de prejuízo de R$ 487,1 milhões no prazo de oito meses.
*Informações da Agência Brasil