Queimada que atingiu 161 hectares do Pantanal em Corumbá é alvo de investigação em Mato Grosso do Sul. A suspeita é de que o fogo teria se alastrado após projeto científico realizar a chamada ‘queima prescrita’ na Fazenda Campo Enepê, no município a 420 quilômetros de Campo Grande. Contudo, pesquisadores do projeto científico questionam a investigação e afirmam que a queima foi autorizada pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).
O inquérito civil que apura o fato foi instaurado pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) em 1ª de julho. Em 25 de junho a denúncia gerou notícia de fato no órgão.
O incêndio de 161,17 hectares foi constatado pelo Coama (Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente), pelo Programa Pantanal em Alerta (2024).
Ao Jornal Midiamaxo professor coordenador do projeto, Geraldo Damasceno destacou que a ação é feita com apoio de técnicos do Corpo de Bombeiros e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, por meio do Prevfogo. “Todas as queimas prescritas, que são voltadas para a conservação e para evitar incêndios florestais, são feitas de forma autorizada, estrategicamente planejadas”, disse.
Ele explicou que “quando o fogo sai de controle, equipes do Corpo de Bombeiros e do Prevfogo/Ibama atuam no combate e na extinção. Em 13 de maio, o fogo do dia 10 foi declarado extinto pelos técnicos”, lembrou do caso em Corumbá.
Fogo controlado
A propriedade é uma das áreas de pesquisas de campo do Nefau (Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). O Núcleo estuda os efeitos do fogo e da inundação no bioma pantaneiro e realiza o manejo integrado do fogo em propriedades rurais parceiras e nas unidades de conservação estaduais. Após a denúncia, foi realizada vistoria do 1º Batalhão de Polícia Militar Ambiental.
Na ocasião, o filho do proprietário da fazenda informou que o projeto começou em 6 de maio e terminou no dia 13 daquele mês. “No entanto no dia 10/05 uma das parcelas ultrapassou os limites dos aceiros perdendo seu controle”, disse.
Assim, comentou que houve combate às chamas por parte da equipe de campo e apoio do Corpo de Bombeiros. Os militares usaram duas equipes e aeronave para o combate às chamas, controlado em 13 de maio.
O filho do proprietário disse aos policiais que na “ocasião também havia focos de incêndios naquela região e que houve um vento norte e expandiu para sua propriedade causando danos no cercamento e pasto artificial, tendo também invadido a propriedade vizinha”.
Vistoria
Ao fim da vistoria, a Polícia Militar Ambiental defendeu que as atividades do projeto podem causar dano negativo ao Pantanal. “Ainda que a atividade tenha seu respaldo, ocasionou uma perspectiva negativa ao meio ambiente ocasionado pelo comportamento dinâmico do ambiente atmosférico naquele momento”.
Além disso, afirmou que o fogo ocasionou “consequências sobre a flora, fauna e seus habitantes”.
Fogo ‘escapou’
Em relatório do Nefau — que o Jornal Midiamax obteve acesso — o professor coordenador do projeto, Geraldo Damasceno, afirma que “ houve um incidente onde o fogo escapou de uma de nossas parcelas no dia 10 de maio”. Assim, explicou que as chamas apresentaram comportamento mais dinâmico, com mudança na direção dos ventos, causando perda do controle.
“Esse fogo foi combatido durante os dias 12 e 13 de maio com auxílio de aeronave e com o apoio de equipe em terra e dessa forma, no fim da tarde do dia 13, decretou-se fogo extinto”, disse em acordo com o depoimento do filho do proprietário.
No entanto, relatou no documento que em 31 de maio receberam relatos de que o fogo havia voltado na fazenda. “Provavelmente ocorreu por conta de alguma árvore que tenha ficado incandescente ou por presença de turfeira no local”, pontuou.
“Nossa equipe informou os bombeiros, parceiros do projeto, que foram prontamente até a área e combateram os focos de fogo que apareceram desde o dia 31 até o dia de hoje (05 de junho de 2024). Hoje recebemos a notícia de que o fogo foi extinto pela ação dos bombeiros”, disse o coordenador no relatório.
No documento, os pesquisadores destacam que as queimas prescritas foram autorizadas a partir do ofício Nº 1185/2024/DILICem processo NUP 83.020.383- 2024/IMASUL. “Conforme o planejamento, oito das 32 áreas estavam programadas para ser queimadas e todos os procedimentos para obtenção de autorização, solicitações de apoio para execução e segurança do uso do fogo foram feitos junto às instituições parceiras”, apontam.
Os pesquisadores questionam a investigação e afirmam que o procedimento foi aberto devido à falta de comunicação sobre a queima. Acreditam que o Ministério abriu procedimento “por não ter conhecimento da autorização do projeto e da extinção do fogo que saiu de controle”.
Por fim, o Jornal Midiamax acionou o MPMS sobre os questionamentos levantados pelos pesquisadores. Além disso, procurou a UFMS para posicionamento sobre o assunto. Até a publicação desta matéria não houve retorno das partes. Assim, segue aberto espaço para manifestação.
Colaborou com a reportagem: Alicce Rodrigues.