O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) despencou em Mato Grosso do Sul e em todos os outros estados do Brasil durante a pandemia de Covid-19, conforme levantamento divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
O órgão das Nações Unidas (ONU) é responsável pela divulgação do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), parâmetro para aferir a qualidade de vida em um país, estado ou cidade.
Em Mato Grosso do Sul, o IDHM caiu de 0,777 em 2019 para 0,742 em 2021 (o ano mais recente do levantamento divulgado nesta terça-feira, 28). Em 2020, o índice foi de 0,760.
Os índices vinham em uma tendência ascendente. Em 2019, Mato Grosso do Sul era o 10º no ranking nacional, e em 2018, quando o IDHM foi de 0,770, ocupava a 11ª posição.
O IDHM de Mato Grosso do Sul em 2021, ano que foi o auge da pandemia, foi inferior ao de 2016: 0,758, e ligeiramente maior que o de 2010: 0,729.
Longevidade
Para se chegar ao IDHM, a ONU subdivide o índice em três componentes: IDHM Longevidade, IDHM Renda e IDHM Educação. No índice de longevidade, a queda foi particularmente brusca.
Em 2019, antes da pandemia, o IDHM Longevidade de Mato Grosso do Sul era de 0,854. Em 2020, ano da chegada do novo coronavírus, caiu para 0,789, e no ano seguinte, auge da mortalidade da pandemia, despencou para 0,751.
As medidas de isolamento também afetaram o índice de desenvolvimento humano na educação e na renda. O IDHM Educação caiu de 0,771 em 2019 para 0,741 em 2021. Já o IDHM Renda foi de 0,752 (2019) para 0,733 (2021).
Entenda o Índice
O índice IDHM varia de 0 a 1: quanto mais próximo de 1, melhores são os indicadores de educação, renda e longevidade. A metodologia foi lançada em 1998, a partir de uma adaptação da metodologia do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado em 1990.
Os estados de Roraima, Amapá, Rio de Janeiro, Mato Grosso, além do Distrito Federal, estão entre os que registraram maior queda percentual no índice de 2019, ano anterior ao início da pandemia, a 2021.
No período de 2012 a 2019, os estados do Nordeste vinham apresentando maiores ganhos no IDHM, com destaque para Pernambuco, Maranhão e Piauí. Isso fez com que, na pandemia, os estados da região tivessem menor perda proporcional. Alagoas, Sergipe, Ceará e Rio Grande do Norte estão entre os que registraram menor recuo.
Análise dos Impactos da Pandemia
Na avaliação do Pnud, a crise da Covid-19 nos anos de 2020 e 2021 demanda uma leitura cuidadosa no caso brasileiro. Isso porque ela impacta os resultados de forma abrupta e transitória, no caso da longevidade, e acentua crises estruturais em curso, no caso da renda.
O impacto da pandemia na longevidade, por exemplo, é considerado pontual. A expectativa do Pnud é que os retrocessos sejam revertidos a partir de 2022, considerando o mapa de vacinação nacional e a ação do Sistema Único de Saúde nos estados.
Efeitos na Educação e Renda
Os efeitos negativos de médio prazo sobre a educação, diz o Pnud, ainda não foram devidamente avaliados dos pontos de vista quantitativo e qualitativo. Mas os dados já sinalizam uma reversão da tendência de queda na frequência escolar registrada na pandemia.
O desempenho da renda demanda maior atenção, diz o relatório, porque reflete, “de forma preocupante, os resultados macroeconômicos da crise econômica iniciada em 2015 e agravada pela Covid-19.”
Os indicadores apontam para resultados negativos tanto na renda domiciliar per capita quanto na renda do trabalho. Exemplo disso é o valor da renda domiciliar per capita em 2021, que chegou a R$ 723,84, fazendo o país retornar a um patamar anterior a 2012.
O impacto dos programas Auxílio Emergencial e Auxílio Brasil, em 2020-2021, foi destacado como um fator que arrefeceu a queda na renda neste período, sendo decisivo para a recomposição de renda das famílias mais pobres nos estados com o IDHM mais baixo.
Na avaliação do Pnud, a análise dos dados aponta para a importância das políticas públicas de saúde, educação e transferência de renda às famílias, cujo papel foi chave no progresso registrado pelo país de 2012 a 2019.
O órgão ligado à ONU (Organização das Nações Unidas) também destaca que os resultados “motivam reavaliações de normas e condutas”, impulsionando os gestores a adequar as escolhas de políticas com base em evidências mais equitativas e transversais no âmbito social e econômico.)