Não é preciso ir muito longe para entender, em reais e desoladores cenários, o que significa a declaração de escassez hídrica, publicada ainda no mês de maio pela ANA (Agência Nacional de Águas) na Região Hidrográfica do Paraguai, em Mato Grosso do Sul.
Para espanto geral, os rios estão minguando como nunca antes. Apesar de ser Inverno, época comum de estiagem, quem conhece os corpos hídricos são categóricos em dizer que nunca viram situação assim. A ANA declarou situação crítica de escassez quantitativa dos recursos hídrico em MS até 31 de outubro. Portanto, são mais três meses com previsão de seca pela frente.
A 170 km de Campo Grande, em Águas do Miranda, distrito de Bonito, o rio que dá nome à localidade corre acanhado, escanteado, não ocupa mais nem metade do seu leito. As águas ali determinam a economia. Se tem rio, tem peixe e tem turistas. Um ciclo que movimenta todas as vertentes de “negócio” do Águas do Miranda, da pesca esportiva à prostituição.
Logo de cima da ponte, na divisa com Anastácio, se avista o Miranda em escassez. Debaixo da estrutura, a régua registra apenas alguns centímetros numa lâmina de água.
Os moradores contam que nunca viram o rio tão seco assim. Enquanto a fé faz todas as esperanças se voltarem para o desejo que “Deus mande a chuva”. A maior preocupação é se terá água suficiente para que os cardumes subam pelo rio.
Em Jardim, o Miranda não tem melhor sorte: é tomado por bancos de areia, que reduzem o volume de água. O corpo hídrico é formado no encontro do Rio Roncador e o Córrego Fundo. Depois de 490 km, ele chega ao Rio Paraguai, em Corumbá.
Logo de cima da ponte, na divisa com Anastácio, se avista o Miranda em escassez. Debaixo da estrutura, a régua registra apenas alguns centímetros numa lâmina de água.
Os moradores contam que nunca viram o rio tão seco assim. Enquanto a fé faz todas as esperanças se voltarem para o desejo que “Deus mande a chuva”. A maior preocupação é se terá água suficiente para que os cardumes subam pelo rio.
Em Jardim, o Miranda não tem melhor sorte: é tomado por bancos de areia, que reduzem o volume de água. O corpo hídrico é formado no encontro do Rio Roncador e o Córrego Fundo. Depois de 490 km, ele chega ao Rio Paraguai, em Corumbá.
Nessa viagem, recebe as águas do Rio da Prata. Outro corpo hídrico que secou, por trecho de seis quilômetros. Debaixo da Ponte do Curê, na MS-178, em Jardim, não há uma gota de água. Só há terra e cenário desolador. Um peixe morto na lama, ao lado do caranguejo. Pedras, antes cobertas pela água, não formam mais cachoeira. Também não é preciso mais caiaque para vencer as corredeiras. Basta caminhar com cuidado para não escorregar no leito liso do rio.
Por enquanto, nesses seis quilômetros, o rio corre só debaixo da terra. Ao todo, o corpo hídrico tem 90,7 quilômetros de extensão. Antes e após o trecho em que desaparece, o rio segue visível e permitindo os passeios nos atrativos. Em 236 quilômetros, de Campo Grande a Jardim, a reportagem passou por dois grandes rios com trechos secos.
Ponte o Rio Perdido, no município de Caracol. (Foto: Divulgação/IHP)
Imagens divulgadas pelo IHP (Instituto Homem Pantaneiro) mostram que a seca também chegou ao Rio Perdido, em Caracol, a 385 km da Capital. É tanta terra que se pode caminhar no leito do rio.
O Perdido leva esse nome porque ao correr no Parque Nacional da Serra da Bodoquena verte para um sumidouro, passando por debaixo de rochas até ressurgir por uma cavidade. O parque abrange os municípios de Bodoquena, Bonito, Jardim e Porto Murtinho. Depois, o Perdido segue até o Rio Apa, um tributário do Rio Paraguai.
O rio do Pantanal – A situação também é crítica no Rio Paraguai, o principal do Pantanal e que deve alcançar os menores valores já registrados para o período.
Conforme dados divulgados pelo SGB (Serviço Geológico do Brasil), na última quarta-feira (dia 10), o rio media 77 centímetros em Ladário (cidade vizinha a Corumbá). Enquanto que a média histórica para 10 de julho era de 4 metros e 40 centímetros. Mas o rio só faz descer: na manhã desta segunda-feira (dia 15), já estava em 71 centímetros.
No município de Porto Murtinho, o Rio Paraguai media 1m73 em 10 de julho, enquanto que a média histórica para a data é de 5m28.
“Temos níveis próximos ou abaixo das mínimas históricas para o período em praticamente todas as estações monitoradas na bacia”, alerta o pesquisador em geociências do SGB, Mauro Campos Trindade, em texto divulgado à imprensa.
Rio Paraguai com cortina de fumaça durante incêndio no Pantanal em 30 de junho. (Foto: Alex Machado)
Para as próximas duas semanas, os modelos de previsão indicam acumulados de chuva praticamente nulos. Caso o prognóstico se concretize e, considerando a cota observada recentemente, haverá continuidade da vazante em Cáceres (MT), Ladário (MS), Forte Coimbra (MS) e Porto Murtinho (MS), além de redução dos níveis a valores mínimos em toda a bacia.
Uma das preocupações no Rio Paraguai é a navegação, essencial para transporte de produtos vitais para a economia de Mato Grosso do Sul. Pelos portos de Corumbá e Porto Murtinho, são escoados soja e minério, base do comércio exterior, junto com a celulose.
A Região Hidrográfica Paraguai ocupa 4,3% do território brasileiro, abrangendo parte de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. Dentre os principais cursos d”água, destacam-se os rios Paraguai, Taquari, São Lourenço, Cuiabá, Itiquira, Miranda, Aquidauana, Negro, Apa e Jauru.
A reportagem questionou a PMA (Polícia Militar Ambiental) sobre o monitoramento dos cardumes, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.