O conteúdo do pacote que explodiu em uma transportadora em Campo Grande, na tarde da última segunda-feira (18), foi identificada pela polícia como “lança-perfurme”, entorpecente líquido popularmente conhecido como “loló”.
Mas afinal, o que é loló?
O loló se enquadra em um grupo chamado “drogas depressoras da atividade do Sistema Nervoso Central (SNC)”, ou seja, drogas que diminuem atividades cerebrais. Ele consiste em um entorpecente psicoativo feito a partir de solventes químicos.
Geralmente, é comercializado em frascos de alta pressão, mas em eventos, como festas, por exemplo, é comum ser armazenado em latinhas de bebida e garrafinhas plásticas.
O entorpecente evapora rapidamente quando entra em contato com o ar, então seu uso é feito por inalação, através da boca e do nariz.
Composição
Geralmente, é composto por cloreto de etila, éter e clorofórmio, acompanhados por etanol, e uma essência perfumada ou bala para saborizar.
Efeitos
Um artigo desenvolvido por estudantes da Universidade de São Paulo (USP), explica que os inalantes são absorvidos pelos pulmões e iniciam seus efeitos rapidamente, ultrapassando a barreira hematoencefálica, uma estrutura que regula a passagem de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso central, ou seja, a droga é absorvida com facilidade, e chega rapidamente – em questão de segundos – ao encéfalo.
Os efeitos da inalação duram pouco tempo, uma média de 10 a 30 minutos, o que faz com que os usuários façam cada vez mais o uso de doses da droga.
A substância inibe os receptores do sistema nervoso central relacionados à excitabilidade neuronal. Dessa forma, surgem efeitos como:
- excitação;
- euforia;
- tranquilidade;
- hilaridade;
- sensação de flutuação;
- relaxamento;
- alucinações.
Ainda conforme a pesquisa publicada pela USP, com exceção das alucinações, os efeitos iniciais se assemelham aos de consumo de álcool.
No entanto, após essa fase, os usuários costumam apresentar sintomas como:
- confusão;
- perda do autocontrole;
- sonolência;
- descoordenação muscular;
- diminuição dos reflexos;
- fala pastosa;
- cefaleia;
- vertigem;
- batimentos cardíacos acelerados;
- zumbidos nos ouvidos;
- náuseas e vômitos;
- e desorientação.
Em casos de inalação intensa e repetitiva, a depressão do sistema nervoso central é tamanha que pode levar à morte por parada cardiorrespiratória, diz a pesquisa.
História
A droga se popularizou no Brasil no início do século XX, importada da Argentina. Inicialmente, era borrifada entre os foliões em bailes e carnavais, se tornando, inclusive, símbolo das festividades cariocas.
A “brincadeira” tomou maiores proporções quando a mistura deixou de ser borrifada em determinado público e passou a ser diretamente inalada pelos jovens. Para isso, eram utilizados lenços molhados.
Com o avanço do abuso do uso da substância, inúmeras mortes por intoxicação começaram a ser registradas, causadas por parada cardiorrespiratória.
Em 1961, a fabricação, o comércio e o uso do produto foram proibidos no país por decreto do presidente Jânio Quadros, o que posteriormente gerou a Lei N° 5.062/6612, que vigora até os dias de hoje.
Obviamente, a legislação não fez com que as pessoas parassem de consumir o entorpecente, e o loló continua tendo espaço, principalmente entre os jovens.
Um dos ilícitos mais consumidos do Brasil
Uma estimativa feita pela Fundação Oswaldo Cruz, divulgada no “III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira”, 2019, revelou que as substâncias tipo loló estão entre as drogas ilícitas mais consumidas no país, atrás apenas de maconha e cocaína em pó.
Em números absolutos, estima-se que 4,2 milhões de brasileiros já tenham consumido inalantes do tipo em algum momento da vida.
Explosão em transportadora
Na tarde da última segunda-feira (18), um pacote explodiu ao ser manuseado pelo funcionário de uma transportadora localizada no bairro Coronel Antonino, em Campo Grande.
Imagens da câmera de segurança do local mostram que o funcionário não chegou a abrir a caixa. Ele derrubou o pacote, e no momento em que pegou de volta, a embalagem explodiu. Confira:
Conforme noticiado anteriormente pelo Correio do Estadoo funcionário sofreu um corte no rosto, e foi socorrido pelos próprios colegas.