Enquanto observa uma alta no número de internações e óbitos por Covid-19, Mato Grosso do Sul “olha” para o lado e vê que outros Estados – como São Paulo e alguns do eixo Sul/Sudeste – já lidam com uma nova variante “mais transmissível” do vírus que tem se espalhado pelo mundo.
Ainda em 24 de setembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a “XEC” (como foi batizada) como uma “variante sob monitoramento” e, como bem explica em nota a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esse é um procedimento adoto nos seguintes casos:
“Quando uma linhagem apresenta mutações no genoma que são suspeitas de afetar o comportamento do vírus e observam-se os primeiros sinais de ‘vantagem de crescimento’ em relação a outras variantes em circulação“. Como esclarece a Fundação, entre os meses de junho e julho deste ano a variante passou a chamar a atenção, quando notado um aumento nas detecções que eram feitas em território alemão, se espalhando por diversos continentes:
- Américas
- Ásia
- Europa e
- Oceânia.
Mais de 2,4 mil sequências genéticas foram depositadas desde então na chamada plataforma Gisaidquer serve para compartilhamento rápido de dados genômicos para pesquisadores de todo o mundo.
Nova variante
Identificada até então pelo Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em: São Paulo; Santa Catarina e Rio de Janeiro, a linhagem do vírus Sars-CoV-2 pode ser mais transmissível que as demais.
Porém, como frisa a virologista Paola Resende, pesquisadora do Laboratório do IOC, ainda será necessário estudar o comportamento dessa linhagem em território nacional.
Entre agosto e setembro, durante três semanas, a capital fluminense foi alvo de uma estratégia de vigilância, para ampliar o sequenciamento de genomas desse vírus.
Quando um teste dava positivo em determinada unidade básica de saúde, a amostra de “cotonete” nasal era enviada ao laboratório, confirmando informações como a predominância da JN.1 desde o fim de 2023, além de detectar em território nacional a XEC.
Em análise foi identificado que a recombinação genética de duas cepas em circulação, foi que gerou a XEC, uma vez que o indivíduo conseguiu ser infectado por duas linhagens diferentes “ao mesmo tempo”.
A Fiocruz aponta que, pela mistura dos genomas de dois patógenos durante a replicação viral que acontece nesse caso, o genoma da XEC tem trechos de KS.1.1 e KP.3.3.
Através dessas mutações ela garante essas “vantagens”, que contribuem para aumento da sua disseminação.
Situação local
Ao Correio do Estado, ó médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, Dr. Julio Crodaafirma que essa cepa parece, sim, ser mais transmissível e é identificada no Brasil em um momento em que Mato Grosso do Sul e outros Estados vivem uma alta de hospitalizações por Covid-19.
“A cobertura de dose de COVID-19 no público com maior risco para hospitalização e óbito está baixa em todos o estado. O idoso tem que tomar 2 doses por ano”, lembra o infectologista.
Não começo de outubro os boletins epidemiológicos de Covid-19 da Secretaria de Estado de Saúde (SES) já alertavam esse aumento de mortes por Covid, sendo 30 pessoas vítimadas pelo vírus no intervalo de pouco mais de um mês, cerca de cinco semanas.
Entre 19 de setembro e 03 de outubro, 12 mortes tinham sido registradas e 10 não tinham completado o esquema vacinal, sendo que uma das vítimas sequer tinha tomado alguma dose de vacina contra Covid-19.
“O grupo de maior risco são idosos e imunossuprimidos. A gente tem uma circulação importante do vírus, mas quando a gente não tem uma dose de reforço nos grupos especiais nos últimos seis meses, você tem um risco maior de hospitalização em óbitos, e esse é o caso”, complementa o Dr. Julio Croda.
Há em Mato Grosso do Sul, segundo o médico, uma subnotificação que acontece também em todo o território nacional, já que não há testagem em massa ou nem mesmo diante de sintomas respiratórios.
“A única maneira de a gente monitorar os casos de Covid são a hospitalização, que a gente monitora através do infogripe e os óbitos que está presente no nosso boletim do governo estadual, da Secretaria de Saúde… só as coisas graves, casos leves a gente não monitora, mas se está tendo muita hospitalização é porque está tendo muita circulação, principalmente em pessoas que são mais frágeis, têm maior risco de hospitalização e óbito”.
Por fim, o Dr. Julio Croda esclarece que, apesar de já estar de certa forma “apegado” no dialeto em relação à Covid, não existe mais esse conceito de “dose de reforço” ou número de doses (3ª; 4ª, etc.).
Isso porque, o idoso nesse caso tem que ter anualmente duas doses de vacina contra Covid-19.