Na data de hoje, 1º de outubro, são celebrados o Dia Internacional da Pessoa Idosa – instituído por meio de Resolução da Organização das Nações Unidas nº 45/106, de 1990 – e o Dia Nacional do Idoso, criado pela Lei nº 11.433/2006.
Além homenagear e comemorar as conquistas das pessoas idosas, a data também serve para conscientização e sensibilização sobre os desafios e questões acerca do envelhecimento, e reconhecimento das importantes contribuições que os idosos trazem ao mundo.
Pela legislação brasileira, considera-se idoso quem tem 60 anos ou mais de idade, sendo a educação um dos direitos assegurados (Capítulo V do Estatuto da Pessoa Idosa). O Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), enquanto instituição federal de ensino, reconhece a importância do acesso e permanência desses estudantes, conforme ressalta a pró-reitora de Ensino, Claudia Fernandes.
“Entendemos que estudar traz inúmeros benefícios para os idosos, como a manutenção da mente ativa, combate ao isolamento social e aumento da autoestima. Além disso, o aprendizado contínuo os capacita a participar mais ativamente da sociedade e promove a inclusão digital e social”.
Para a pró-reitora, os benefícios do convívio com os estudantes 60+ se estendem a pessoas de todas as faixas etárias.
“A convivência com diferentes gerações proporciona trocas de experiências valiosas, enriquecendo o ambiente acadêmico. O IFMS valoriza a educação ao longo da vida, mostrando que o conhecimento é acessível a todos, independentemente da idade, e que nunca é tarde para aprender”, ressalta.
De acordo com dados da Pró-Reitoria de Ensino (Proen), atualmente o IFMS tem cerca de 110 estudantes matriculados com 60 anos ou mais, em diversos cursos nos dez campi.
Em celebração a este 1º de outubro, confira histórias de dois desses estudantes que encararam os desafios de estudar em uma fase mais avançada da vida, no intuito de colher os bons frutos que só a educação pode ofertar. Abaixo, saiba qual sonho Celina Ribeiro está realizando, e qual foi a motivação do Wanderlei em procurar o IFMS.
Aos 60 anos, Celina está percorrendo o caminho para realizar o sonho de ser Engenheira Civil – Foto: Arquivo Pessoal
Sempre é hora de realizar sonhos – “O que você quer ser quando crescer?”. A resposta a essa pergunta, que todos costumam responder ainda muito jovens, pode mudar ao longa da vida. Mas a empresária Celina Maria Quelho Ribeiro, hoje com 60 anos, sempre respondeu: “quero ser Engenheira Civil”.
Atualmente, Celina realiza esse sonho, que nasceu aos 15 anos de idade, no Campus Aquidauana do IFMS. Quando jovem, fez ensino médio com habilitação básica em Construção Civil. Na época, prestou vestibular, mas não passou,. Então tocou a vida, trabalhou, casou-se, criou os filhos e cuidou da família. Foi quando os filhos estavam na idade de entrar na faculdade que decidiu fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“Eu escutava sempre os jovens falando sobre o Enem, que era difícil, complicado. Escutei tanto falar sobre isso que decidi me inscrever para fazer a prova, ver como era. Fazia 37 anos que eu não estudava, mas pensei: o sonho é meu, de mais ninguém!”, relembra.
Em 2019, Celina ingressou no bacharelado em Engenharia Civil do IFMS. Durante a pandemia, trancou o curso, mas retomou a realização do sonho em 2022. A estudante 60+ conta que faz as disciplinas dentro do próprio ritmo, e dessa forma já passou da metade do curso. Orgulhosa, conta que participou de um projeto de pesquisa, e a partir dele publicou um artigo científico em uma revista.
Por ser a primeira vez que cursa o ensino superior, Celina afirma que não é fácil, e que os desafios são grandes, como na área de Informática, por exemplo, mas que recebe apoio para seguir em frente.
“Eu amo o Instituto Federal! Para mim tem sido muito bom, tenho aprendido coisas novas, indo devagar e sempre. Não me sinto preparada, mas estou sendo preparada pelo IFMS. Tenho encontrado apoio de diversos professores, e também da minha família”, aponta.
Em casa, todos também a incentivam a continuar estudando, inclusive o marido, seus três filhos e netos. Ela faz questão de motivar outras pessoas da sua idade sobre os benefícios disso, principalmente em relação às dificuldades de memorização.
“Sou mais lenta do que quando era jovem, tenho algumas dificuldades, preciso ler, reler, às vezes não consigo decorar. Mas o estudo tem melhorado a minha memória, estou cada vez melhor. Então é muito bom estudar, aprender coisas novas, nosso cérebro volta a trabalhar novamente”, enfatiza.
Sobre o futuro, Celina é categórica em afirmar que irá colocar em prática o sonho realizado. “Pretendo seguir carreira quando me formar. Sempre gostei de reformas, gosto de pegar uma casa velha, reformar e deixar nova, bonita. Então quero trabalhar na área, sim”, finaliza.
Wanderlei Freitas cursa o técnico integrado em Informática para Internet na modalidade Proeja – Foto: Campus Jardim
Na estrada da vida não existe parada – Apesar de ainda não ser considerado legalmente idoso, o estudante Wanderley Augusto Freitas, 58, participa desta reportagem especial por sua trajetória de vida e ânimo perante às mudanças. É um símbolo de esperança e motivação para aqueles que já entraram ou estão prestes a entrar na terceira idade.
Natural de Campo Grande, Wanderley atualmente cursa o 4º semestre do técnico em Informática para Internet no Campus Jardim, na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (Proeja).
Vendedor de hortaliças, sua história no IFMS começa justamente durante a entrega de mercadorias na casa de professores da instituição, como a do docente Antonio de Freitas Neto. Em uma dessas ocasiões, ao comentar que gostaria de voltar a estudar, recebeu todo o incentivo que precisava para conhecer o Instituto.
Foi assim que começou o curso. Mas, tempos depois, acabou desistindo.
“Eu queria ter um desenvolvimento maior, estava me sentindo muito devagar no aprendizado, queria aprender mais e mais rápido, e isso me desanimou um pouco. Foi quando parei o curso, tive um momento de fraqueza. Mas depois voltei, porque vários professores entraram em contato comigo e me incentivaram de novo”, relembra.
Depois desse retorno, uma das experiências que jamais sairá de sua memória foi a que teve durante uma visita técnica ao estado do Paraná, realizada no 1º semestre deste ano. A primeira parada foi para conhecer o Museu Parque Histórico de Carambeí, considerado um dos maiores museus a céu aberto do Brasil, que visa resgatar memórias e provocar uma imersão cultural na cultura holandesa.
“Todos os momentos da viagem me marcaram, mas o mais emocionante foi a ida à Ilha do Mel. Tive o privilégio de vislumbrar pela primeira vez o oceano, a vastidão dele. Cheguei a mergulhar no mar, foi muito bom, uma emoção muito grande! Jamais imaginava que eu ia estar nesse lugar, foi sensacional”.
Wanderlei reconhece também os avanços que já teve com o curso, dentre os quais saber ligar um computador e digitar as palavras todas corretamente, com acento e pontuação, o que representa uma grande vitória para ele.
“O IFMS representa para mim um lugar de evolução e ensinamento, com professores altamente gabaritados. E quem quer aprender, quem se dedicar aos estudos, vai sair do Instituto altamente gabaritado também. Consigo ver diferença do Wanderlei que começou o curso e o de agora”.
O estudante 60+ incentiva outros idosos a estudar, por meio de mensagens de apoio sobre a vida e sobre a importância da busca por evolução.
“Na estrada da vida não existe parada, enquanto estamos vivos temos que caminhar para frente. Muitos pensam que esse mundo é um parque de diversões, pois ele não é, é um setor de trabalho e de evolução. Então é só através do estudo que vamos chegar à evolução, estudando e trabalhando estamos evoluindo. Meu objetivo é continuar estudando, porque a nossa vida é um caminhar sem parar”, reflete.
Idosos no Brasil – De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 203 milhões de habitantes brasileiros, 15% corresponde à parcela de idosos, ou seja, cerca de 32 milhões de pessoas (Censo 2022).
A população idosa registra crescimento acelerado. Previsões do IBGE indicam que, em 2030, haverá mais brasileiros com idade superior a 60 anos do que crianças.
Dessa forma, cada vez mais é fundamental conhecer as leis que garantem os direitos da população da terceira idade, assim como o país se preparar melhor para atender aos desafios perante o aumento de idosos.
Fonte: Ascom/ML