Chancelado pelo SUS, o São Julião é referência no atendimento oftalmológico em Mato Grosso do Sul mas foi criado pelo governo federal como “leprosário”, local que tratava pessoas com hanseníase
De um hospital isolado de Campo Grande, para se tornar uma instituição especialista na área oftalmológica que valoriza a ciência, tecnologia, meio ambiente e o atendimento humanizado. O Hospital Filantrópico São Julião completa hoje (5), 83 anos, onde se comemora sua capacidade de se reinventar ao longo de sua história.
Inaugurado em 5 de agosto de 1941, o Hospital São Julião passou por uma verdadeira transformação ao longo dos anos. Inicialmente o Asilo-Colônia São Julião foi construído pelo governo federal para servir de confinamento para pessoas que tinham a hanseníase, na época conhecidos como “leprosários”.
Porém a partir de 1964, a freira Ir. Silvia Vecellio do Colégio Auxiliadora, se comoveu com a situação dos leprosos, e começou a investir em ações no São Julião com apoio de um grupo de jovens, religiosos e profissionais da saúde da cidade italiana de Turim.
Com um projeto organizado, os investimentos na infraestrutura do Hospital transformaram o local com a reforma dos prédios antigos, construção de novas unidades e investimento em assistência médica que foi potencializada pela descoberta da medicação que trouxe a cura da hanseníase.
Em entrevista para o Correio do Estado, o Diretor Técnico do Hospital São Julião, Augusto Afonso de Campos Brasil Filho, destaca a referência de atendimento na oftalmologia que a unidad-e possui.
“O serviço de oftalmologia é referência no Hospital porque praticamente todas as subespecificidades da oftalmologia são contempladas aqui, desde transplantes até as mais diversas complicações que existem, sendo que 90% dos transplantes de córnea no Estado são realizados aqui”, informou Augusto.
Além dos atendimentos de pacientes, o Hospital também oferece a residência médica para formar novos profissionais para o setor oftalmológico.
“Aqui no Hospital São Julião trabalham mais de 40 oftalmologistas, além dos profissionais que atuam na residência médica, que quando o possível são integrados para termos sempre médicos novos e um pessoal altamente qualificado para o atendimento”, ressaltou.
O Hospital São Julião também conta com um elevado atendimento na realização de cirurgias eletivas, sendo o responsável por 48% do total desses procedimentos realizadaos em Campo Grande.
Em média são atendidos 3.500 pacientes mensalmente, nas seguintes especialidades: clínica médica, cirurgia geral, oftalmologia, hanseníase, tratamento vascular, pneumologia, otorrinolaringologia, odontologia, endoscopia, colonoscopia, estomaterapia, urulogia, cirurgia plástica reparatória e cardiologia de risco cirúrgico.
Sobre a hanseníase, o diretor técnico do hospital informa como as sequelas da doença e os motivos do preconceito que a sociedade tinha com os pacientes acometidos.
“Este preconceito se deve a um acometimento neurológico, que leva a perda de sensibilidade, alterações motoras e isso muitas vezes impacta na qualidade de vida do paciente, tendo lesões de pele, que causam deformidades e criam a ideia que a hanseníase é uma doença muito ruim e feia esteticamente, sendo marcada pelo estigma e preconceito”, declarou Augusto Afonso.
ISOLAMENTO
A política pública adotada pelo governo federal nos anos 40, consistia em isolar as pessoas com hanseníase da sociedade, já que na época não havia cura para a doença, colocando assim o Hospital São Julião na periferia da cidade.
Porém com a ajuda da Ir. Silvia Vecellio, a administração do Hospital que era do governo federal, foi repassada em 1970 para a Associação de Auxílio e Recuperação dos Hansenianos (AARH), criada após a chegada da primeira expedição da Itália, que se reuniu aos voluntários campo-grandenses para criar a esta associação.
A assessora de comunicação do Hospital São Julião, Lenilde Ramos, explica que o hospital começou a atender novas especialidades quando foi descoberto o tratamento para a hanseníase.
“Quando foi descoberto o coquetel de medicamentos para a cura da hanseníase, começaram a trazer esta medicação para cá, e a partir da década de 80, a medicação começou a apresentar resultados, e os leprosos que tinham condições de ter alta começaram a ser preparados para serem reinseridos na sociedade”, disse Lenilde.
Este processo de reintegração a sociedade trouxe a possibilidade de se criar novos projetos para o hospital, que começou a contar com uma Escola para os pacientes com hanseníase pudessem aprender a ler a escrever.
“Nos outros leprosários do país, quando começaram a dar alta para os pacientes, muitos fecharam e os funcionários foram demitidos. Em Campo Grande foi diferente,muitos pacientes saíram do hospital com uma profissão. Este processo de transição foi muito importante, porque a partir dele o hospital não foi inativado e novas especialidades chegaram fazendo uma mudança de perfil”.
Atualmente circulam diariamente pelo São Julião uma média de 2 mil pessoas, entre funcionários,médicos, pacientes, acompanhantes e a comunidade da Escola Padre Franco Delpiano.
Diariamente o hospital realiza 400 consultas e no mínimo 70 cirurgias.
Saiba
A Escola dos tempos da segregação, também se abriu, e atualmente atende os bairros Nova Lima, Anache, Colúmbia e Montevidéu. Hoje ela faz parte da rede estadual, que conta com 400 alunos de Ensino Médio Profissionalizante.
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