A morte de Paulo Amaro Freire, ocorrida em 2023 em Bataguassu, voltou a ser investigada pelo MPF (Ministério Público Federal), após denúncias que apontam possíveis violações de direitos humanos cometidas por líderes da congregação religiosa Testemunhas de Jeová.
A suspeita é de que o homem, que era esquizofrênico e usuário de medicamentos controlados, tenha sido vítima de trabalho escravo e maus-tratos, o que teria contribuído diretamente para o suicídio.
A denúncia foi apresentada pelo advogado Enio Martins Murad, que representa a família de Paulo. Segundo ele, o jovem era constantemente levado por líderes religiosos para realizar serviços pesados em fazendas e oficinas, sem receber pagamento, alimentação adequada ou acesso aos remédios que precisava.
Em um dos episódios citados, Paulo teria passado dez dias em uma propriedade rural se alimentando apenas com pão e água. “Os líderes da igreja, chamados anciãos, o levaram para uma fazenda, onde ficou dez dias a pão e água. Ele voltou para casa debilitado, magro, confuso”, conta Enio.
“Depois disso a família procurou os líderes da igreja solicitando explicações, e ele foi expulso da congregação. Ouviram que ele iria para o inferno. Naquele mesmo dia, ele cometeu suicídio. Não foi um ato isolado, mas o resultado de uma sequência de abusos”, relatou o advogado ao site Perfil News.
Murad afirma que a família chegou a procurar a Delegacia de Polícia Civil, mas não obteve resposta. O caso foi inicialmente arquivado, mas o Procurador da República Marcelo José da Silva reconsiderou a decisão e determinou a reabertura das investigações.
Em despacho oficial, o procurador destacou a necessidade de ouvir os líderes religiosos supostamente envolvidos, além de familiares da vítima. Ele também requisitou à Polícia Federal de Três Lagoas a instauração de inquérito policial para apurar a possível prática do crime de redução à condição análoga à de escravo, cuja pena varia de dois a oito anos de reclusão, além de multa.
A fazenda citada nas denúncias é localizada na região de Bataguassu. Os supostos autores dos abusos ainda não foram formalmente identificados.
O advogado da família reforça que o caso de Paulo pode não ser isolado. “Há outros relatos semelhantes. Essa prática precisa ser investigada com seriedade. O discurso religioso está sendo usado para explorar pessoas vulneráveis”, afirma Murad.
A reabertura do caso é vista pela família como um passo importante para que se faça justiça diante da tragédia que marcou suas vidas.