Por: Ana Carolina de Santana*
A moda brasileira enfrenta desafios das mais diversas ordens. Um deles está ligado à sustentabilidade: o avanço da chamada fast fashion, que consiste no barateamento das peças de vestuário a partir da piora na qualidade do produto e, muitas vezes, nas condições de trabalho ao longo da cadeia produtiva, possibilitou um aumento no consumo e na descartabilidade da produção, gerando grandes volumes de lixo que se amontoam em vários países.
A indústria da moda é uma das maiores consumidoras de água, especialmente no cultivo de algodão e nos processos de tingimento. O Brasil ainda enfrenta desafios para tratar adequadamente os efluentes da produção têxtil, e muitos cursos d’água são contaminados por produtos químicos usados no tingimento e no tratamento de tecidos.
Entretanto, o uso de fibras naturais tem sido cada vez mais incentivado para substituir os tecidos sintéticos, majoritariamente oriundos do petróleo. Fibras como a lã e o algodão (o Brasil é o quarto maior produtor e o segundo maior exportador do mundo) têm gerado tecidos cada vez mais tecnológicos e biodegradáveis. Por outro lado, peças feitas de fibras sintéticas liberam microplásticos no solo e nos oceanos durante a lavagem. Além disso, seu processo de fabricação e descarte inadequado gera gases de efeito estufa, agravando a poluição atmosférica.
Transparência
A indústria da moda no Brasil enfrenta dificuldades para garantir a transparência em todas as etapas da cadeia produtiva. É um setor que depende de fornecedores diversificados, incluindo fábricas de pequeno e médio porte. A falta de rastreabilidade torna difícil garantir práticas sustentáveis e éticas, como o uso responsável de recursos e o tratamento justo dos trabalhadores.
Ainda existem denúncias de condições precárias de trabalho. Não são incomuns as descobertas de imigrantes e brasileiros trabalhando em condições análogas à escravidão em elos da cadeia produtiva da moda, desde o plantio de algodão até confecções em grandes cidades. A moda sustentável também exige responsabilidade social, com transparência e valorização da mão de obra.
As regulamentações e certificações que garantam práticas sustentáveis na moda brasileira ainda são poucas, o que cria desafios para o consumidor em diferenciar entre produtos realmente sustentáveis e aqueles que se dizem sustentáveis, mas não são, uma prática de marketing conhecida como greenwashing.
Soluções
Apesar dos desafios, há soluções no horizonte. O público precisa entender a importância da moda sustentável, incentivar o consumo consciente e valorizar peças de maior qualidade e durabilidade. Olhar a etiqueta e ver do que a roupa é feita já é um bom começo.
O conserto e o ajuste de roupas podem evitar que elas sejam jogadas no lixo. O mercado de roupas usadas também é uma opção para encontrar boas peças a preços convidativos. Outras ações, como a personalização de vestimentas e o retrofit (técnica de revitalização e modernização de peças, adaptando-as às necessidades atuais), estão cada vez mais valorizadas.
A moda é um campo de criatividade, é cíclica e se renova constantemente. Por isso, a dica é: não se prenda a coleções e consuma produtos de melhor qualidade. A economia e o planeta agradecem.
*Ana Carolina de Santana, professora do curso de designer de moda da Estácio.