Tecnologias existentes ainda não conseguem evitar o avanço de incêndios florestais no bioma é o que constatou autoridades portuguesas que vieram ao Estado
O monitoramento em tempo real de áreas prioritárias para o combate dos incêndios florestais no Pantanal é um dos gargalos ainda encontrados em MS e MT para tais ações. Essa constatação foi apontada a partir de um intercâmbio que envolveu autoridades portuguesas da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (Agif) e do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a fim de auxiliarem em políticas públicas a serem executadas pelo governo federal.
A missão internacional ficou acompanhando, no mês passado, as atividades de combate aos incêndios no Pantanal. Portugal avançou nas ações de prevenção e combate depois que um incêndio de grandes proporções arrasou o país em 2017 e matou 62 pessoas.
“Só o Pantanal é cerca de duas vezes a área superior ao território de Portugal. Há muitas diferenças, como a forma que nos deslocamos, a forma como fazemos intervenção. Por lá, temos um monitoramento em tempo real, por aqui pensamos por meio de satélites. O monitoramento em tempo real poderia ser utilizado aqui (no Pantanal)”, explicou Antônio Salgueiro, técnico da Agif.
O fogo no Pantanal conseguiu queimar cerca de 17% do seu território, o equivalente a uma área três vezes maior que o município de Campo Grande. Mesmo com o uso de diferentes tecnologias para
o combate direto, ainda não foi possível frear totalmente os incêndios.
Esse monitoramento real envolve uso de drones e aeronaves, além de câmeras que detectam o fogo logo no início e ações de resposta imediata para o combate no princípio da identificação. Atualmente, dependendo da instituição, as tecnologias que estão sendo usadas para realizar o combate contra o fogo no Pantanal são variadas.
Pelo Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), órgão ligado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), há o uso de inteligência artificial (IA) com sistema de câmeras para realizar a detecção de fumaça em tempo inferior ao de satélites. Esse mesmo tipo de equipamento também está instalado na sede do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e é uma ferramenta da startup Um Grau e Meio.
Apesar da brevidade na detecção com o uso de IA e câmeras (em torno de 5 minutos para identificar o sinal de fumaça) – que também permitem dar a previsão de como pode ocorrer a propagação do fogo e em qual sentido as chamas podem se deslocar –, esse monitoramento ainda não cobre todo o território pantaneiro.
Atualmente, tais ferramentas concentram seus esforços principalmente na região do território indígena kadiwéu e ao logo da Serra do Amolar. Demais áreas do bioma não contam com essa detecção.
O coordenador do Prevfogo em Mato Grosso do Sul, Márcio Yule, explicou que foram registrados avanços na comparação entre 2020 e 2024. Ele defendeu que as ações de combate começaram ainda em junho e que houve um reforço de efetivo e equipamentos em julho.
Contudo, Yule, o qual atua no combate a incêndios há mais de 30 anos, indicou que as condições climáticas no território exigem uma outra estratégia para realmente reduzir as ocorrências.
“É uma conscientização para que ninguém faça ignição em períodos que são mais críticos. Um trabalho árduo que não vai acabar neste ano. A Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (do governo federal, aprovada em agosto) e a política estadual (Plano Estadual de Manejo Integrado do Fogo, instituído em 2022) são fundamentais”, frisou Yule.
No Brasil, já existe outra tecnologia que envolve sensores de longo alcance que atuam em conjunto com satélites ultraprecisos e que fazem detecção de incêndios florestais de 1 minuto a 60 minutos após a ignição.
Os sensores se conectam entre si e permitem uma grande rede de proteção mesmo onde não existe internet. Mas essa ferramenta de origem alemã não está em uso no Pantanal, sendo já testada na Amazônia, em Roraima, no ano passado, pela startup Treeback.
DETECÇÃO DE SATÉLITE
Já os satélites identificam áreas quentes e focos de calor com prazo de cerca de 4 horas, pelo menos, depois que a ignição foi dada. No caso dos incêndios florestais, o tempo de resposta para o combate é crucial,
a fim de debelar as chamas e reduzir a área atingida pelo fogo.
No Estado, o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS) tem convênio com a agência espacial estadunidense (Nasa), a Polícia Federal (PF), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e com o Instituto de Meio Ambiente de MS (Imasul) para utilizar diferentes tecnologias no combate.
O monitoramento do fogo é feito a partir de imagens de satélite e cruzamento de dados, permitindo acesso ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) para identificar a localidade e qual propriedade o fogo está, além de entender a velocidade do vento.
“No Corpo de Bombeiros, nós temos o núcleo de geoprocessamento de dados, monitoramento 24 horas por dia e outras tecnologias embarcadas. Hoje, nossas guarnições saem com drone e computador, dando às equipes a capacidade de ter uma amplitude daquele incêndio antes de ir a campo”, ponderou a tenente-coronel Tatiane Inoue, chefe do Centro de Proteção Ambiental (CPA) do CBMMS, em entrevista anterior.
Saiba: A temporada antecipada dos incêndios no Pantanal causou um dos maiores danos ao Patrimônio Natural da Humanidade. O mês mais crítico até agora foi junho, com 1.036.325 de hectares atingidos. Historicamente, o maior risco ocorre entre agosto e setembro.