Recentemente, Mato Grosso tem chamado a atenção pela quantidade de anúncios de fazendas à venda. Assim, há aumento na oferta de áreas tradicionalmente voltadas à pecuária de corte.
Essa tendência foi verificada pela agrotech Chaozãoportal especializado em anúncios de propriedades rurais. De acordo com levantamento da empresa, alguns municípios do estado exibem um número elevado de ofertas.
Entre eles, se destaca Cocalinho, no leste mato-grossense, que conta com 16.538,832 km² e está com 30% do seu território anunciado na plataforma para venda. Por lá, as fazendas disponíveis são de aptidão para pecuária de corte. Veja outros dois lugares do estado com ampla desocupação:
- Primavera do Leste (sudeste de MT): 23% do município de 5.472,207 km², está pronto para receber novos proprietários
- Paranatinga (centro-sul de MT): 13% dos seus 24.177,568 Km² estão na mesma situação. Neste caso, as propriedades são de pecuária e/ou lavoura.
Mercado de terras em Mato Grosso
“Este movimento está relacionado às significativas mudanças na dinâmica do mercado de terras no estado, sejam por conta dos tipos e formas de explorações agropecuárias, do movimento de sucessões familiares a até da ‘saúde’ da propriedade rural”, afirma a engenheira agrônoma Renata Apolinário, diretora operacional do Chaozão e responsável pela pesquisa.
Segundo ela, nessas regiões, as características de solo, a regularidade de chuvas, aptidão e as questões ambientais limitam o uso da propriedade rural.
“Mato Grosso possui diversos tipos de solo e perfis de exploração para a agropecuária. Existem ótimas regiões em termos de produtividade e desenvolvimento, mas também outras com muita areia e mais isoladas, com poucos recursos e estrutura”, observa.
Renata conta que, no caso do Pantanal, a compra e venda de propriedades rurais se limita ao povo local, que já conhece o sistema e o manejo.
Falta de competitividade
A diretora do Chaozão destaca que com a pressão por aumento de produtividade diante de um mercado cada vez mais competitivo, não há mais espaço para terras de pastagens degradadas ou mal manejadas, ainda mais diante da crescente concentração de terras nas mãos de grandes grupos e fundos de investimento, buscando explorar o potencial da agricultura em escala.
“Assim, a tendência é de que terras de pecuária menos produtivas sejam vendidas por pequenos e médios pecuaristas que não conseguem competir com esses grandes investidores, ou que preferem capitalizar suas propriedades para outros fins”.
Para ela, a agricultura, especialmente a produção de grãos, tem avançado sobre áreas antes dedicadas exclusivamente à pecuária. “Aquelas que apresentam menor capacidade de suporte animal e baixo retorno financeiro, são colocadas à venda por proprietários que não conseguem ou não querem investir na recuperação dessas áreas”.
De acordo com Rostyner Pereira Costa, especialista em pecuária, terras que não têm viabilidade imediata para esse tipo de transição, ou que requerem altos custos para adequação, acabam sendo colocadas à venda por valores mais acessíveis.
Compra mais seletiva
Outro ponto importante, de acordo com Renata, é que assim como a oferta tem sido crescente, a demanda tem se tornado mais seletiva, já que os investidores e possíveis compradores de terras estão cada vez melhor assessorados na escolha de uma propriedade rural.
“Antes de definir a compra, eles estudam todos os fatores do imóvel, como o solo, clima, as benfeitorias, a região, o tipo de exploração, a logística e valorização do patrimônio imobilizado”, observa a diretora.
Renata acredita que solo saudável, com água disponível, com aptidão estruturada e pronta para produzir são os principais fatores observados pelos produtores. “Em cenário ideal, por exemplo, os agricultores querem solo com 40% para mais de argila, índice pluviométrico de 1.800 mm para mais e regularidade nas chuvas, topografia plana e alta produtividade, o que não está tão disponível no mercado”, alerta.
Já Costa salienta a questão da sucessão no agronegócio e a necessidade de reestruturações financeiras que intensificam a onda de vendas, visto que as terras de pecuária de qualidade mais baixa são as primeiras a serem negociadas.