Nesta última semana, o governo do Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência nos municípios atingidos por incêndios florestais, principalmente, na região do Pantanal. O decreto, publicado no Diário Oficial do estado, tem prazo de 180 dias. No primeiro semestre deste ano, o Pantanal e o Cerrado alcançaram números históricos de focos de incêndio, registrando a maior quantidade desde que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a monitorar as queimadas no país, em 1988. No Pantanal, foram detectados 3.262 focos entre 1º de janeiro e 23 de junho, representando um aumento de 22 vezes em relação ao mesmo período do ano passado, conforme dados do Inpe.
Em paralelo às queimadas, o desmatamento também quebra recordes. No Cerrado, aumentou 68%, atingindo mais de 1,1 milhão de hectares em 2023 e superando, pela primeira vez, as perdas registradas na Amazônia. A área equivale a 61% de todo o desmatamento registrado no Brasil no ano passado e equivale a quase 2,4 vezes todo o desmatamento registrado na floresta amazônica. Os dados foram publicados em maio pelo RAD (Relatório Anual de Desmatamento) e produzidos por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) na Rede MapBiomas.
“Combater o desmatamento no Cerrado se torna um desafio a mais em um contexto onde a legislação é permissiva no bioma. Por isso, precisamos ter mais transparência e controle sobre a questão da legalidade para que se possa aprimorar e desenhar politicas públicas e privadas, que acabem com o desmatamento ilegal e desincentive o desmatamento legal, visando um uso mais eficiente das áreas já desmatadas”, alerta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.
A agropecuária, através da abertura de áreas para pastagens e lavouras, foi o vetor de pressão de pelo menos 98% de toda a área desmatada no Cerrado. Além disso, as formações savânicas do bioma – caracterizadas por suas árvores tortuosas e grande presença de arbustos – sofreram 74% de todo o desmate.
Sobre o RAD e MapBiomas Alerta
O RAD (Relatório Anual de Desmatamento), da rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte, reúne dados consolidados de desmatamento de todo o Brasil. Ele analisa os alertas de desmatamento detectados entre 2019 e 2023, e que foram validados e refinados sobre imagens de satélite de alta resolução pelo MapBiomas Alerta.
Nesta quinta edição, no Cerrado, os alertas gerados pelo DETER (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real do INPE) e SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado do IPAM), e os alertas gerados nas regiões de transição entre os biomas, pelo SAD Caatinga (Sistema de Alerta de Desmatamento da Caatinga, da UEFS e Geodatin), SIRAD-X (Sistema de indicação por radar de desmatamento na Bacia do Xingu, do ISA), SAD Imazon (Sistema de Alerta de Desmatamento da Amazônia, do Imazon), SAD Mata Atlântica (Sistema de Alerta de Desmatamento da Mata Atlântica, da SOS Mata Atlântica e ArcPlan) e SAD Pantanal (Sistema de Alerta de Desmatamento do Pantanal, da SOS Pantanal e ArcPlan), foram utilizados para localizar os alertas de desmatamento nas imagens de satélite diárias de alta resolução espacial.
Esse é o primeiro ano em que o RAD inclui alertas emitidos pelo SAD Cerrado (desenvolvido pela equipe do IPAM, em parceria com o LAPIG/UFG e MapBiomas).
No total, uma área de 243 mil hectares foi captada apenas pelo sistema, além de 567 mil hectares que foram detectados tanto pelo SAD Cerrado, quanto pelo DETER Cerrado. A inclusão desse novo sistema de alerta de desmatamento é importante, pois complementa os dados oficiais de mapeamento do desmatamento no Cerrado, contribuindo para enxergar o desmatamento nas formações não florestais (savanas e campos) do Cerrado.
Visando identificar omissões dos sistemas mensais de desmatamento, foram incluídos os polígonos do PRODES 2020 (Programa de Monitoramento do Desmatamento no bioma Cerrado do INPE), e estão em processo de validação os polígonos do PRODES 2021.
Todos os dados são disponibilizados de forma pública e gratuita em plataforma web para que órgãos de fiscalização, agentes financeiros, empresas e sociedade civil possam agir para reduzir o desmatamento. O relatório completo com todos os dados está disponível no site do Alerta MapBiomas.