O segundo Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios publicado pelos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE) e das Mulheres traz Mato Grosso do Sul como o sexto colocado no ranking de disparidade salarial entre mulheres e homens no País. Segundo os dados, as mulheres recebem 27,1% a menos que os homens.
De acordo com o levantamento, a falta de equidade entre mulheres e homens em MS é ainda maior quando comparada a remuneração média, chegando a 37,18% – ou R$ 1 mil –, uma vez que a média das mulheres é de R$ 2.2691,86 ante R$ 3.692,81 do sexo oposto.
O indicador de salário contratual médio para a mulher no Estado é de R$ 1.671,96, enquanto para o homem é de R$ 2.153,96. Ou seja, 28,83% maior.
Em Mato Grosso do Sul, foram registrados 77.554 vínculos trabalhistas de mulheres e 134.878 homens, uma proporção de 36,51% de mulheres. Para o cálculo, o relatório se baseou em 615 empresas com 100 ou mais funcionários.
No top cinco entre as unidades federativas com maior índice de desigualdade salarial, Mato Grosso do Sul fica atrás do Rio de Janeiro, que ocupa o quinto lugar (27,3%); do vizinho Mato Grosso, na quarta posição (27,7%); de Santa Catarina, em terceiro lugar (28,3%), do Paraná, em segundo, (29,1%) e do Espírito Santo, que lidera com a maior diferença salarial (29,2%).
O economista Eduardo Matos explica que a disparidade salarial é uma questão mais estrutural do que propriamente cultural.
“É algo que faz parte da formação dos profissionais, e não da alocação desses profissionais no mercado”, pontua.
Matos relata que boa parte da economia de Mato Grosso do Sul gira em torno do agro, porém, não é o principal empregador ou o setor mais forte da economia.
“Hoje a maior parte dos funcionários do agro são homens. E, geralmente, os cargos de gestão, por exemplo, cargos de liderança, são ocupados por pessoas mais experientes, pessoas que estão há mais tempo no mercado. Se analisarmos o mercado há 20, 30 anos, o agro era quase que 100% formado por trabalhadores do sexo masculino”, detalha.
O economista ainda diz que, para galgar um cargo de gerenciamento, por exemplo, há um tempo de maturação e que dificilmente será ocupado por uma mulher nesse momento.
“A questão estrutural que havia mencionado está muito relacionada à estrutura das empresas. As empresas, em primeiro lugar, para a contratação, muitos gerentes, ainda com um formato tradicional, um formato mais antigo de gestão, acabam optando pela contratação de homens por enxergar que uma mulher, a qualquer momento, pode tirar uma licença maternidade, algo nesse sentido que esse gestor entende como desvantajoso”, relata Matos.
Ele ainda complementa explicando que a região Centro-Oeste ainda vive um momento de adaptação para as novas políticas.
“Somente aquelas empresas multinacionais, empresas de outros estados, empresas muito grandes, acabam adotando isso, muitas vezes para bonificar ou para serem bonificadas pelos sócios, pelos investidores, pelo mercado de modo geral. Então, essas empresas, por maior que seja o nível de emprego gerado, que são aqui do Estado, elas acabam não adotando isso”, avalia o economista.
Agora, quanto aos progressos, de fato há uma disparidade que preocupa.
“A gente pode destacar a média salarial.Por exemplo, a diferença salário média de mulheres negras comparada ao salário médio de homens não negros é exorbitante. No entanto, quando comparamos mulheres não negras com homens negros, o salário médio de mulheres não negras é maior do que o de homens negros”, finaliza Matos.
CENÁRIO
A pesquisa revelou que, em todo o País, as mulheres ganham, em média, 20,7% a menos que os homens nas 50.692 empresas analisadas. A média salarial nacional é de R$ 4.125,77, com um salário contratual médio de
R$ 2.025,27. O estudo abrangeu mais de 18 milhões de vínculos formais em 2023, com uma massa salarial total de R$ 782,99 bilhões.
Acre, Ceará e Pernambuco são os estados brasileiros com menores desigualdades salariais entre mulheres e homens, com as mulheres ganhando cerca de 10% a menos do que os homens em empresas com 100 ou mais funcionários.
No Acre e no Ceará, as mulheres ganham 9,7% menos do que os homens. Em Pernambuco, a discrepância é de 9,9%. Entretanto, a desigualdade é mais pronunciada para mulheres negras, que enfrentam diferenças salariais ainda maiores em comparação aos homens não negros.
Acre tem uma diferença de apenas R$ 14,17 entre mulheres negras e homens não negros, enquanto em Pernambuco as mulheres negras ganham R$ 1.205,54 a menos do que os homens não negros.
Essa falta de equidade salarial entre mulheres negras e homens não negros é bem acentuada nos dados gerais do País. Elas ganham, em média, R$ 2.745,26 – apenas 50,2% do salário de homens não negros, que chega a R$ 5.464,29.
“As mulheres negras estão concentradas na base da pirâmide, principalmente serviços domésticos, serviços de limpeza, serviços de alimentação, de saúde básica, nos serviços públicos e nas atividades de gerenciamento e direção”, ressalta Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do MTE.
No Distrito Federal (DF), a média salarial é de R$ 5.735,13, superior à média nacional de R$ 4.125,77 e à média de estados como São Paulo (R$ 4.992,15), Rio de Janeiro (4.992,15), Minas Gerais (3.616,86) e Rio Grande do Sul (4.145,98). No DF, a disparidade permanece no caso de mulheres negras. Em média, por mês, elas ganham R$ 4.205,60 e os homens não negros, R$ 7.546,13. Lá, a diferença salarial entre mulheres e homens é de 11,1%.
Saiba
Os ministérios do Trabalho e Emprego e das Mulheres apresentaram em março deste ano o 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios. O levantamento trouxe um balanço das informações enviadas por 49.587 estabelecimentos com 100 ou mais empregados, a maioria deles (73%) com 10 anos ou mais de existência. Juntas, elas somam quase 17,7 milhões de empregados.