Dupla coleciona denúncias, investigações, condenações, suspeitas e seguidas demonstrações de incompetência
Quando a pessoa é eleita para representar o povo, mas faz o contrário e age para machucá-lo, o mandato que foi obtido nas urnas apodrece e perde totalmente seu valor. Esta é a amarga realidade que identifica os últimos dois ciclos de governo vividos por Campo Grande. Iniciada em 2017 pelo prefeito Marquinhos Trad e sua vice, Adriane Lopes, a atual gestão da Capital passa pela mais longa e acidentada trajetória política, administrativa e ética de sua história.
Ao longo desta parceria política, construída sob o mesmo interesse pelo poder, a arteira dupla de políticos vem dando repetidas demonstrações de desprezo às grandes demandas da coletividade. Nos cinco anos e três meses de Marquinhos e nos restantes dois anos e nove meses que cabem a Adriane completar, a irresponsabilidade, a incompetência, as coisas feitas no escuro e a ausência de soluções para os problemas são as marcas de gestão.
CHAVES DO PODER
Enquanto continuam à vontade, beneficiados pela condescendência de uma Câmara de Vereadores acumpliciada ao Executivo e das instituições de fiscalização e controle, a sociedade paga pelo desgoverno. E o pior é que os dois, Marquinhos e Adriane, ainda estão em cena para disputar as eleições na esperança de continuar com chaves de poder nas mãos. Sem as restrições cabíveis a órgãos como o Tribunal de Contas, Judiciário e Ministério Público (MP), resta um contraponto: a vigilância da sociedade.
O que não falta é motivo para o povo questionar e acuar a prefeita. Em janeiro de 2023, Adriane foi formalmente acusada por um ex-aliado de nepotismo e de abrigar servidores “fantasmas” que apoiaram a campanha de reeleição de seu marido, o deputado estadual Lídio Lopes. E o acusador ainda afirmou que é Lídio, e não Adriane, quem dá as cartas na prefeitura. No entanto, não teve como provar esta denúncia.
Em maio deste ano, o Tribunal de Contas (TCE/MS) decidiu manter a apuração da denúncia de irregularidades na licitação de R$ 24 milhões para sinalização de trânsito, aberta na gestão de Adriane. A Corte admitiu a denúncia e iniciou tramitação no tribunal, sendo devolvida pelo presidente Jerson Domingos à Ouvidoria, para prosseguimento. Porém, assim como as demais interpelações, a prefeita achou vãos para escorregar e sair fora deste furacão.
MAIS DENÚNCIAS
Em outubro passado, os vereadores Luíza Ribeiro (PT) e André Luís (Rede) protocolaram no Ministério Público Estadual uma denúncia por improbidade administrativa e crime de peculato contra a prefeita e o ex-prefeito Marquinhos Trad. A denúncia foi baseada em informações sobre atos de irregularidades administrativas na prefeitura que chegaram aos gabinetes dos parlamentares. Consta do “pacote” uma investigação do Tribunal de Contas que apontou a existência de folhas salariais secretas na gestão de Trad e Adriane.
Os fiscais analisaram pagamentos de janeiro a dezembro de 2022, revelando diferença de R$ 386.186.294,18 entre a despesa apurada, com base nas folhas de pagamentos enviadas ao Tribunal, e a que foi executada dentro do orçamento. A decisão de levar o caso do MPE foi anunciada na sessão da Câmara Municipal, mas os vereadores adrianistas fizeram de conta que não tinha nada comprovado.
Apurou-se que a tal “folha secreta” envolve o pagamento de verbas salariais sem previsão legal, em volumes significativos, para comissionados e contratados temporários da prefeitura escolhidos a dedo pelos gestores.
Alguns comissionados chegam a receber o dobro de seus salários com gratificação por encargos especiais e jetons. O TCE, em inspeção, chegou à conclusão que esses pagamentos eram ilegais. Ficou o dito pelo não dito até agora. Com isto, Adriane é candidata à reeleição e Marquinhos Trad a vereador, ambos animados pela liberdade que estão tendo para fazer o que fazem.