Às vésperas do julgamento que vai dar desfecho ao caso Sophia, defesa da mãe da pequena, Stephanie de Jesus, juntou ao processo laudo psicológico alegando que a ré sofre de síndrome de Estocolmo e, por isso, não conseguia sair do ciclo que violência ao qual era submetida quando casada com Christian Campoçano, também réu na ação pela morte da criança.
Ambos, casados à época do crime, estão presos acusados de assassinar Sophia Ocampo, morta aos dois anos e sete meses em janeiro de 2023, vítima de agressões por parte da mãe e padrasto, segundo aponta acusação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).
A dupla vai a júri popular nas próximas quarta e quinta-feira, 4 e 5 de dezembro. O Primeira Página teve acesso ao documento assinado por grupo de psicologia do interior de São Paulo e confeccionado a pedido dos advogados da acusada, que foi ouvida por videoconferência em três sessões: uma em setembro e outras duas em novembro.
Embasamento
O parecer técnico adianta logo no início que Stephanie “apresenta transtornos mentais importantes, logo, que devido as suas próprias das suas psicopatologias se manifestam nas entrevistas e notadamente tornando esse um caso complexo de ser avaliado”.
O cenário descrito é de que Christian exercia controle psicológico e físico sobre a esposa e as filhas. O casal vivia com Sophia, fruto do casamento anterior da ré, uma bebê, filha de ambos e outro menino, filho do antigo relacionamento do réu.
“O abuso contínuo a que Stephanie foi submetida configurou uma situação de coerção psicológica, tornando-a vulnerável e afetando sua capacidade de reação”.
Parecer técnico
Ainda segundo o laudo, a mãe da vítima seria manipulada, isolada e coagida pelo ex-companheiro e, por medo de perder a guarda das filhas, não o denunciava. Também argumenta vivência em lar desestruturado, sendo abandonada pelos pais e criada pela avó.
Ela alega ter sido abusada pelo padrasto na infância, sem que a mãe a defendesse, ciclo que a submeteu ao padrão de dependência emocional. O documento conclui que a acusada está em depressão severa e ansiedade, demonstrando “compreensão confusa da situação e apresenta distorções cognitivas típicas de Síndrome de Estocolmo”.
Patologia onde a vítima desenvolve sentimentos de lealdade e simpatia para com o agressor e, ao mesmo tempo, tem a autoimagem está severamente prejudicada, caracterizada por sentimentos de autodepreciarão e culpa exacerbados pelo abuso contínuo.
Além disso, somam-se à sugestão de diagnóstico de Stephanie, conforme o grupo, TRPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático) e Transtorno de Estresse Agudo. Ainda embasando a situação pela síndrome de Estocolmo, a tese é de que a ré perdeu a capacidade de reconhecer a gravidade da rotina violenta a qual Sophia era submetida.
“Essa dinâmica alterou drasticamente o comportamento de defesa de Stephanie, impedindo-a de agir de maneira racional e assertiva para proteger a si mesma e seus filhos”.
Tratamento
A avaliação sustenta, ainda, que a acusada tem o direito ao acesso do melhor tratamento disponível, sendo feita esta fundamentação para a Defesa, de forma consolidada tecnicamente, para solicitar o tratamento especializado multiprofissional de saúde mental.
Estado – Por fim, há tentativa de culpabilizar o Estado pela morte da criança. O documento traz lista de “falhas institucionais e omissões por parte dos órgãos de proteção social” e associa o compilado de conivência ao desfecho fatal do caso.
Acusação – Em resumo o MPMS descreve o crime como cometido por motivo fútil, meio cruel, e contra uma criança menor de 14 anos. Christian também pode responder por crime sexual contra a criança.