Os dois empresários presos, suspeitos de receptação nesta quarta-feira (6), foram postos em liberdade nesta quinta-feira (7) após pagarem 10 salários mínimos de fiança, o equivalente a R$ 14.120,00 de fiança cada um. Um deles, de 62 anos, é dono de uma conveniência tradicional localizada no centro de Campo Grande, e o outro, de 59 anos, é proprietário de uma rede de chiparias.
A liberdade provisória foi concedida pela Justiça à dupla, sob a condição de que sigam uma série de medidas cautelares. Entre elas estão: manter os endereços de residência atualizados, comparecerem em juízo quando solicitados e proibição de se ausentarem por mais de 8 dias de casa sem informar o local onde poderão ser encontrados.
Os empresários foram parar atrás das grades após adquirirem 506 sacos de fécula de mandioca de uma organização criminosa. A mercadoria pertencia a uma empresa de Ponta Porã, vítima de estelionato. A Polícia Civil suspeita que os empresários estejam envolvidos no esquema, mas eles negam.
O advogado do dono da rede de chiparias, Nikollas Breno de Oliveira Pellatt, afirma que o cliente foi “vítima de um golpe”. O empresário explicou:
“Um rapaz apareceu no estabelecimento dele e disse que possuía vários sacos de fécula para vender, que eram uma sobra de uma encomenda, e perguntou se ele não tinha interesse em comprar, pois precisava liberar o frete daqueles sacos de fécula. Ele ficou (com a mercadoria) porque acreditou que era um produto de origem lícita”.
Nikollas Breno de Oliveira Pellatt, advogado.
Conforme Nikollas, o empresário, inclusive, conhecia a empresa vítima de estelionato em Ponta Porã e até já havia sido cliente da marca. A fécula é usada na produção das chipas e demais salgados comercializados nas lanchonetes do empresário.
“Ele não sabia que aquele produto estava vindo de um golpe, que o homem que estava vendendo para ele era um golpista, e nós vamos demonstrar isso no processo”.
Nikollas Breno de Oliveira Pellatt, advogado.
A versão também é semelhante à do outro empresário, de 62 anos, proprietário da conveniência localizada na região central de Campo Grande. De acordo com o advogado do comerciante, Lucas Ribeiro Gonçalves Dias, o cliente dele também comprou a fécula achando que a mercadoria era legal.
“Ele também é vítima do ocorrido. Ele adquiriu os produtos, a fécula de mandioca, mediante nota fiscal. Essa nota fiscal foi lançada no sistema comercial da empresa e estava sendo vendida nas lojas dele de forma regular, porque, para ele, agiu com total boa-fé. Somente após a polícia chegar à empresa e fazer a apreensão, foi que ele tomou conhecimento de que se tratava de um produto com origem ilícita”.
Lucas Ribeiro Gonçalves Dias, advogado.
Conforme Ribeiro, o preço pelo qual o comerciante adquiriu a mercadoria também não foi muito abaixo do valor de mercado, ao contrário do que aponta a polícia.
“Ele é mais uma vítima da quadrilha. Temos total tranquilidade de que sua inocência será comprovada durante as investigações ou em eventual ação penal.”
Lucas Ribeiro Gonçalves Dias, advogado.
Miragem
De acordo com a Polícia Civil, a empresa de Ponta Porã havia denunciado que, em setembro deste ano, realizou duas vendas, totalizando 24 toneladas de fécula, avaliadas em R$ 73.920, cujos pagamentos não foram efetuados após a entrega dos produtos.
Durante a apuração, a polícia descobriu que os golpistas utilizaram um site e e-mail falsos para efetuar a compra. Conforme as investigações, a fécula de mandioca foi vendida aos empresários de Campo Grande por um valor “significativamente abaixo do preço de mercado”, e os produtos eram “revendidos ou utilizados como matéria-prima nas suas atividades comerciais”.
Na semana passada, durante essa investigação de estelionato, outras quatro pessoas foram presas pela 3ª Delegacia de Polícia, responsável pela investigação, incluindo três suspeitos de integrar a organização criminosa e um empresário do ramo da construção civil, também preso em flagrante por receptação.
As ações fazem parte da primeira fase da Operação Miragem, que investiga crimes de estelionato e receptação. Segundo a polícia, o nome da operação alude ao desejo dos envolvidos em obter lucros por meio de vantagens indevidas.