Não é apenas a saudade ou o medo que movimentam o coração de libaneses em meio aos ataques de Israel ao Líbano nas últimas semanas. O desejo de entrar na guerra também. Hassan Afif Hamieh, de 56 anos, conhecido como Sadan, nasceu na cidade de Baalbek, na divisa com a Síria, região foco do conflito atual. Dono de conveniência famosa aqui na cidade, ele afirma que se prepara para ir lutar ao lado do Hezbollah no fim de outubro. “Se Deus quiser”, diz.
O Campo Grande News mostrou recentemente o outro lado, do lojista Armando Salém, 64 anos, que não se posicionou sobre o fato originário da guerra, e mostrou preocupação com a família que ainda vive no Líbano. Ele contou sobre o clima de tensão constante vivido pelos parentes, que segundo ele, estão “seguros”, mas acabam escutando e vendo os resquícios dos bombardeios.
Assim como ele, a família de Hassan Afif aqui em Campo Grande quer paz e não quer que ele vá guerrear. A esposa brasileira e os filhos não entendem a paixão com que ele defende sua terra e seu senso de justiça. “Minha família está toda lutando lá. Tem primo meu, sobrinhos. Minha mãe mora lá”, contou, ressaltando que torce para que o Hezbollah vença a guerra contra Israel.
Ele conta que perdeu 11 familiares durante um ataque israelense em 23 de setembro na cidade de Taraiyya. A casa caiu sobre eles. “Tia, tio, neto, morreu todo mundo”, lamentou. Para ele, desde a década de 1990, Israel invadiu área que é libanesa e o território precisa retornar à origem.
Hassan diz que chorou ao saber da morte de líderes do partido Hezbollah, principalmente de Hassan Nasrallah. “Chamam o partido de terrorista, mas o que Israel faz é o que? Não pode ser chamado de terrorismo também? Mataram crianças, mulheres, gente que não tem nada a ver com a guerra”. Ele sofre ao falar do cenário da guerra, mas afirma que ela é a única solução.
O Hezbollah surgiu em meio às incursões israelenses no Líbano entre 1978 e 1982, quando em meio a uma guerra civil um grupo de muçulmanos xiitas influenciados pelo Irã pegou em armas para deter a ocupação. Foi nessa época que Hassan Afif veio para o Brasil. Em 2018, ele voltou ao Líbano, onde visitou xiitas, o partido e teve contato com armamentos pesados.
Para ele, o único fim possível é que os israelenses percam a guerra e os povos expulsos da região original com a formação do Estado de Israel em 1948, ocupem novamente a área. “Eles lutam por nada, nós temos um motivo”, defende.
Não é fácil compreender o coração de quem já presenciou outras guerras e conhece a história de sofrimento de seus antepassados pela terra e por suas tradições. Resta torcer para que haja um tempo de paz.
Fonte: Campo Grande News