O Poder Judiciário decretou a prisão domiciliar de Viviane Fontoura Holsback, apontada como uma das responsáveis por repasses financeiros de esquema do PCC (Primeiro Comando da Capital) de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e armas nessa quarta-feira (8).
Viviane Fontoura Holsback repassava dinheiro das operações ilícitas a demais membros da organização criminosa implicada na Operação Last Chat, deflagrada no último dia 24, com cumprimentos de mandados em Campo Grande e Ponta Porã, pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
Viviane foi presa por organização criminosa, falsidade ideológica e pelo crime de uso de documento falso. O pedido de prisão domiciliar foi protocolado pelo advogado César Henrique Barros no dia 25, dia seguinte a operação.
Ela comprovou possuir dois filhos de 2 e 9 anos, visando que “há uma alteração legislativa prevendo a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar da mulher que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, desde que não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa, tampouco contra seu filho ou dependente”.
Um dos filhos de Viviane, o de 2 anos, possui necessidades especiais e este foi o motivo do pedido de prisão domiciliar. O advogado disse que a mulher é ex-convivente de Rafael, conhecido como ‘Gazela’ – que está encarcerado em penitenciária, mas continuava a dar ordens para a organização na logística do transporte de drogas -, que a auxiliava financeiramente.
A defesa de Viviane também diz que ela é investigada por ter recebido de uma empresa que atuava supostamente a mando de Rafael, a quantia de R$ 7,5 mil parcelado, justamente na época de uma cirurgia em que o filho mais novo precisou ser submetido.
O valor foi inteiramente depositado para auxílio no custeio do procedimento e do pós-operatório. Com isso, o advogado reforçou que Viviane precisa de ajuda financeira da família e amigos para as necessidades dos filhos.
“Além disso, desenvolve seu labor em salão de beleza da família, portanto, possui ocupação lícita, o que contrapõe a necessidade de se assegurar a aplicação da lei penal, pois ainda possui residência fixa, e evidente necessidade de manter-se próxima dos menores que dependem de maneira imprescindível de seus cuidados”, consta no pedido.
Na última segunda-feira (6), o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) se manifestou favorável ao pedido, mas recomendou o uso de tornozeleira eletrônica e algumas medidas cautelares.
Já na tarde dessa quarta (8), a 4ª Vara Criminal da Comarca de Campo Grande acatou o pedido e substituiu a prisão preventiva de Viviane por domiciliar, com monitoração eletrônica.
Com isso, Viviane ficará em casa com o uso de tornozeleira eletrônica, sendo submetida a algumas medidas cautelares. Ela não poderá mudar de residência sem prévia comunicação ao juízo e deverá comparecer a todos os atos do processo, quando devidamente intimada, sob pena de eventual restabelecimento de sua prisão.
A última medida cautelar imposta pela Justiça é a proibição de manter contato com acusados e testemunhas da Operação Last Chat.
Viviane já havia sido presa em setembro de 2017 com carga de salgadinhos roubada. Conforme a polícia, ela estaria tentando vender salgadinhos com preço muito abaixo para comerciantes na região do bairro Nhanha.
A investigação concluiu que ela estava com uma carga roubada de alimentos e foi presa junto com o cunhado Roberson Batista da Silva.
O que chamou atenção na época foi o fato da prisão de Viviane ocorrer um dia após a irmã, Mayara Fontoura Holsback ter sido assassinada. O principal suspeito do crime era justamente o companheiro, Roberson, que possuia, na época, mais de dez passagens pela polícia apenas de situações de violência doméstica.
Roberson foi julgado no dia 1º de novembro de 2018 e condenado a 17 anos de prisão.
Organização altamente estruturada
A Operação Last Chat é para desmantelar organização criminosa altamente estruturada que opera no tráfico de drogas em cinco estados, desde o interior dos presídios, contando com uma rede sofisticada de distribuição e vários integrantes e apoiadores já identificados, cerca de 40 membros, entre eles policiais militares, servidor público municipal e três advogados.
A organização criminosa também atuava no comércio ilegal de armas de grosso calibre, como fuzis e submetralhadoras, além de granadas, munições, acessórios e outros materiais bélicos de uso restrito, bem como na lavagem do dinheiro relacionado aos crimes, para a qual se utiliza de diferentes métodos, como a constituição de empresa fictícia, uso de contas bancárias de terceiros, aquisição de veículos de alto valor econômico em nome de terceiros – Porsche, caminhões, entre outros.
Confira a lista dos presos na operação:
- Anderson da Silva Ferreira, conhecido como ‘Ninho’
- Aldair Antônio Garcia
- Alex Benítez Gamarra
- Cleber Ferreira Alves
- Cybelle Bezerra da Silva
- Debora Cristina dos Santos
- Edson Ribeiro de Souza
- Fabiano Augusto
- Francisco Jales
- Francisco Moura Amorim
- Glenio Cesar da Costa
- Italo Eufrasio Lemos
- Jardeson Marx Teixeira
- Kelli Letícia de Campos
- Kelmo de Oliveira
- Klemerson Oliveira
- Lindisleir Aguilera do Nascimento
- Lucas Eric Ramires
- Luciana Lima
- Mayron Mendes
- Paula Tatiane Monezzi
- Rafael da Silva Lemos, o ‘Gazela’
- Renan Santana de Souza
- Ricardo Rodríguez
- Sérgio Simão
- Sérgio Vinicius
- Suelen Pereira
- Valdinei Freitas
- Viviane Fontoura
Passadeira e aposentado eram ‘laranjas’ de esquema
A facção criminosa do PCC usava de passadeira até aposentados como ‘laranjas’ em esquema de lavagem de dinheiro para o tráfico de drogas e armas. O esquema foi desmantelado em investigação do Gaeco, que deflagrou a Operação Last Chat com alvos membros do grupo, que eram policiais militares, advogados e servidor público. No total, 29 pessoas foram presas.
Todos que receberam dinheiro da empresa de fachada criada especialmente para fazer a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas feito pela organização estão sendo ouvidos entre esta quinta e sexta-feira na sede do Gaeco, em Campo Grande.
Advogada recebeu R$ 100 mil para obter informações sigilosas de policiais
A advogada é apontada pela denúncia do Gaeco como a ponte entre o preso Rafael da Silva Lemos, conhecido como ‘Gazela’, que está encarcerado em penitenciária, mas continuava a dar ordens para a organização na logística do transporte de drogas. Segundo a denúncia, uma empresa foi criada especialmente para fazer a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas feito pela organização.
A advogada que atuava como ‘gravata’ para a organização criminosa ainda levantava informações sigilosas para Rafael. A denúncia traz que a advogada teria recebido da organização criminosa mais de R$ 100 mil. Sabe-se também que um dos integrantes da organização havia sido preso quando transportava drogas.